domingo, 5 de outubro de 2008

REVISÃO EM QUESTÃO - DESCONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO - UMA DOR SILENCIADA.



A Propósito da Revisão.


Busco uma revisão que não seja maquiadora.
Seja real, como sou. Como sinto no momento de produzir
Que mostre meu estado de espírito tal qual.
Quero uma revisão ortográfica, onde o meu vocabular
Seja explicito, cheios de incoerência, pobre, repetitivo
Chulo e vulgar.

Não desejo uma revisão Clássica, Erudita, pois não sou
E nem pretendo ser, uma vez que não penso assim, não
Mim sinto clássico nem erudito. Sou popular, regionalista
E periférico.

O meu falar é meu pensar. Uma filosofia prática e apressada
Vejo meu pensamento transmutar no espaço gigantesco de minha
Megalomania. Nada de estrutura sintática, proverbial e estas coisas
Todas de academias.

Quem mim ler, estará vendo e ouvindo Severo D’Acelino: Cheio de erros
Contradições, prolixidade e redundâncias.

Quero que sinta meu cheiro, minhas dúvidas, raivas e, sobretudo
Minhas criticas e carinhos, na maior arrogância e reticências.
Quero que meu pensamento materializado ganhe a vida que anima
A minha produção. tanto faz tu, quanto você, o jogo continua e o estilo vive.
Não posso aparecer envernizado com altos vocabulários e eximas concordâncias
Se as pessoas sabem que Eu, agrido a gramática e tenho pensamento estreito e
Limitado. Quero ser identificado e não um anônimo. Uma incógnita.

Revisão para mim é verificar se as palavras foram escritas corretamente, e não se seu emprego está correto ou se esta no tempo etc.

Meu estilo é ocasional, está direcionado ao meu emocional e o racional é puramente
Fictício, uma peça da perspectiva do meu olhar, que pode estar turvado, marejado ou simplismente fixado. É panfletário, denunciador, revisitador ou reducionista, isso depende do ponto de vista do meu momento que atende aos fluxos e refluxos de minhas lembranças e emoções. Não tenho escola, não sigo caminhos nem refrões. Sou um escriba da intuição e do dialogo que faço com meus personagens imaginários, que se tornam meus amigos e ou inimigos, mas estão comigo diuturnamente até o ponto final, só que depois se tornam fantasma a mim perturbar.

Não gosto e não quero revisões invasivas que desconstrói o meu pensamento e constrói uma parceria intrusa da minha coleta, transformando em anorexia o meu pensar, envernizando o conteúdo e lapidando meu linguajar.

Quero só que conserte as palavras que escrevi errado, sem tempo ou pluralidade, porque meu pensamento singularizou. Trata-se dos empregos dos s, z, me, mim,
etc. Tudo isso sem o tratamento sofisticado do vernacular e da prótese da erudição acadêmica. Numa assepsia estrutural.

A oralidade de minha escrita é núcleo do meu pensamento e, certamente não configura as regras gramaticais da língua portuguesa – não se enquadra no figurino ocidental, tem o ranço das senzalas e a filosofia africanizada, instintiva, intuitiva cheia de emoções e simbologias.

ARQUIVO AFRO SERGIPANO ''JOÃO MULUNGU''


CASA DE CULTURA AFRO-SERGIPANA
CONSELHO CULTURAL
NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA
ARQUIVO AUTORIA PEREIRA REBOUÇAS



Programa: Revitalização do Arquivo Humano Afro-Sergipano.
Projeto: memorial de JOÃO MULUNGU


Auto de Perguntas


Fonte: Arquivo Público do Estado de Sergipe
Ref: ASP – SP¹ 397

OBS: Transcritos segundo a ortografia atual conservando a pontuação, concordância e o artigo do documento original, por MARIA LENIA SILVA MEIRA dos APES em 14/12/1995.

1876

Juízo Municipal da Vila de Divina Pastora

Autuamento de um auto de perguntas feita ao preto João.

O Escrivão
Machado.

Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e seis aos vinte e um de Janeiro do dito ano, nesta Vila de Divina Pastora em o Consistório da Igreja Matriz desta Vila autuou o auto de perguntas que ao diante se segue do que para constar faço este termos, Eu Thomas de Aquino Machado Escrivão a Escrevi.

Auto de perguntas como abaixo se declara.

No mesmo dia mês e ano e lugar, retiro declarado no Consistório da Igreja Matriz desta Vila onde se achava o juiz Municipal Doutor Manoel Cardoso Vieira de Melo, comigo escrivão de seu cargo abanco nomeado se procedeu as perguntas seguintes:

PERGUNTADO seu nome, idade, naturalidade.

RESPONDEU chamar-se João de idade trinta anos pouco anos mais ou menos, natural do engenho trindade da Freguesia de Itabaiana.

PERGUNTADO seu estado, profissão e residência.

RESPONDEU ser solteiro e que não tem profissão vista como e escravo e achava –se no moto a mais de oito anos, tendo sido preso ontem pela força publica desta Vila em terras do engenho Flor da Roda, quanto a residência respondeu que antes de retirar –se de casa morava em casa do senhor João Pinheiro proprietário do engenho Mulungu e que depois de sua fugida tem sempre morado em ranchos em diversas matas desta província.

PERGUNTADO em que lugar eram esses ranchos.

RESPONDEU que o primeiro foi na Boa Vista, terreno da Capela onde morava com os escravos Jose da Silva, pertencente ao Capitão Manoel Antonio Morais e Monoel da Hora, pertencente ao Coronel Gaspar, proprietário do EngenhoVelho.

PERGUNTADO pelos crimes que cometeu com os seus companheiros quando se achavam nesse rancho.

RESPONDEU que furtaram alguns bois ,galinhas,ovelhas e mais animais preciosos para seus alimentos.

PERGUNTANDO quais os lugar

RESPONDEU que no engenho Faria tiram duas ovelhas,no engenho
Boa Vista duas ovelhas alem de (...) e galinhas que furtaram em vários lugares.
Declarou finamente que por engenho disse que nesse primeiro rancho furtou bois.
Declarou que disse rancho onde demoraram de dois messes, passou-se para outro rancho nas matas do engenho Sobrinho com dos mesmos companheiros tendo depois aparecidos outros que era escravo tortuoso, pertencente ao major Frederico proprietário do Engenho Campinho, Termo de Capela.

PERGUNTADO pelos crimes praticados nesse segundo rancho?

RESPONDEU que ai praticaram furto de bois ovelhas e mais criações preciosas para sua subsistência.
PERGUNTADO qual os donos desses bois furtados?

RESPONDEU do modo seguinte que um foi tirado no engenho Fortuna, então pertencente a Senhora Dona Maria (...) e outro foi pregado no tabuleiro da Lagoa Grande e que não sabe a quem pertence e depois tiraram mais um da parte do engenho Mata Verde ,pertencente então ao Coronel Gaspar Senhor dos seus companheiros Manoel da Hora e outros no engenho Unha de Gato pertencente a Francisco Correia.

PERGUNTADO se os escravos desses engenhos não o auxiliavam nesses furtos?

RESPONDEU que não obstante a alguns (...) relações com eles e fazem troca de farinha com carne, disse mais que deste lugar se retiraram para as matas do engenho Batinga ainda com os mesmos companheiros Fortuoso assassinou a José (...) com o seu companheiro Malaquias escravo do engenho Salobro de cujo crime já foram processados.

PERGUNTADO quem (...) assassinado a Malaquias um dos (...) morte de José Croado. ?

RESPONDEU que não viu mais sabe que foi o Maximiniano escravo do Barão de Japaratuba. Disse que depois do que ficou dito teve que procurar novo coito o qual foi estabelecido nas Matas do engenho Limeira, o qual continha vinte companheiros com ele respondente e uma mulher livre filha desta vila de nome Conceição.

PERGUNTADO pelo nome de seus companheiros?

RESPONDEU que eram o seguinte: Carvalho, pertencente ao capitão Antonio de Oliveira Ribeiro, Lauriano do engenho Lagoa Junco, Alexandre do engenho Lagoa Funda em Japaratuba, Maximiniano de José Nobre do engenho Farias, Victorio do engenho Palma, Benedito do engenho (...) Barnabé dos outros, José Mar (...) da Canabrava Jacinto do Passão, Cupertino do Senhor Nico do Junco, Leandro da Flor da Roda, Delmira da Canabrava, Francisca de Santa Bárbara, Luisa da Jurema, Joaquina da Santa Bárbara, Sinforosa da Serra Negra, Vicência do Senhor Antonio Dones.

PERGUNTADO pelos crimes praticados nesse coito?

RESPONDEU que aí praticaram uma série de furtos que não pode dizer todos, visto como eram muitos companheiros e cada um furtaram (furtava) por seu lado mas que era narrado os furtos que se lembrar que são os seguintes: que furtaram cavalos, os quais a todas as fazendas da Cotinguiba e Japaratuba que de interesses alguns deixaram em outros engenhos quando cansavam, outros vendiam aos ciganos os quais foram os seguintes: o cigano Inácio, o Antônio ciganos, Joana, Elvaristo os quais venderam alguns cavalos, por preço de cinco mil a dez mil reis quantia que nunca receberam se não dez tostões ou dois mil reis.

Disse mais que dos outros alguns desses cavalos furtados alguns form ter na Lagoa Funda Termo de Capela, onde moram Teixeirinha os Iôio cunhado de Teixeirinha os quais empenhava com ele respondente e seus companheiros que lhe fornecessem de cavalos e bois, tendo obtido com eles quilombolas assim desses cavalos, mais quatro bois.

Disse mais que essas mesmas pessoas a quem já se referiu se prestavam a comprar fazendas e o mais precioso com o dinheiro dos escravos e que por várias vezes os tinham em casa.

PERGUNTADO se não tinham homens livres que assassinasse com eles sobre frutos de cavalo?

RESPONDEU que não acredita que muitos tinham negócios com os escravos das fazendas a que já ouviu dizer há muito tempo que o escravos de nome Pedro furtava cavalos a seu senhor para vender a Antonio Procópio morador do saco do Bomfim. Disse mais que exista no lugar denominado (...). termo de itabaiana, um tal Manoel do rio que comprava cavalos a escravos desta (...) indo (?)a que sabe de um escravo de nome Pedro, que é hoje do penha que já foi da piedade, que tem tido negocio com o dito Manoel do rio e é assim sabe de fatos iguais dado como o escravo Carmelo do mesmo engenho penha. Disse mais que no Riachuelo existe um firmo de tal, que mandava ele respondente furtar cavalos para vender- lhe e que chegou a comprar-lhe um tração do engenho Canabrava de Japaratuba, em cujo negócio saiu de mal ele respondente, visto como vendendo o cavalo por vinte cinco mil reis, apenas recebeu quinze.

PERGUNTADO se não sabe quais os outros do assassinato de José de Silvério cujo assassinato teve lugar no engenho piedade?

RESPONDEU que quando deu-se essa morte não achava-se ele respondente no lugar mas sim no engenho penha e que os seus companheiros que achavam-se na piedade isto é, um coito entre Piedade e Tangui e canto alegre, sendo esta razão pela qual atribuem a morte aos escravos fugidos, mas não que haja provas.

PERGUNTADO pelos crimes de mortos e ferimentos emprestados ao interrogado?

RESPONDEU que a morte nunca praticou visto como apenas limita-se a fazer alguns frutos para sua subsistência que apenas deu umas pancadas em Lourenço, mas tinha por causa de andar os espiando para pegá-lo.

PERGUNTADO acerca de um furto praticado em c as de Antonio (...) e quais seus autores?

RESPONDEU que este furto foi feito por ele respondente por Bacurão e Cupertino escravo do Capitão Neco do junco que já foi embarcado?

PERGUNTADO se tem ciência de um tiro dado em capitão Manoel oliveira matos, cujo tiro não causou ferimentos não por falta de vontade de seu autor.

RESPONDEU que passando pelo engenho Jumco, aí encontrou-se (...) ser madrugada com o dito Manoel de Oliveira Matos, que pretendeu com os (...) amedrontá-lo ao seu agressor, deu um tiro com a pistola em direção muito oposta para não ofender, visto como o seu único fim era amedronta-lo para poder evadir-se. E por nada mais dizer(...) lhe perguntado deu-se por findo dito auto de perguntas em que (...) juiz assina pelo interrogado o senhor Antonio Luiz de loureiro maior do que tudo dou fé eu Thomas de Aquino machado escrivão o escrevi.

MANOEL CARDOSO VIEIRA DE MELO
ANTONIO LUIS DE LOUREIRO MAIOR
SECRETARIA DA POLÍCIA DE SERGIPE

INTERROGATÓRIO FEITO AO PRETO JOÃO MULUNGU

1876


Auto de perguntas feitas ao escravo João de João pinheiro proprietário do engenho Mulungu.

Ao vinte e três dias do mês de janeiro e mil oito centos e senta e seis do ano do nascimento do nosso senhor Jesus Cristo nesta cidade de Aracaju em casa da residência do dr. Chefe de Polícia Vicente de Paula Caucaes Telles, aí presente o escravo de João pinheiro proprietário do engenho Mulungu, comigo amanuense da secretária da polícia servindo de escrivão abaixo nomeado foram feitas ao supra dito escravos as perguntas seguintes:

Qual o seu nome, idade, estado, filiação, naturidade e profissão?

RESPONDEU chamar-se João com 25 Engenho Cundengá a 30 anos de idade, solteiro, filho natural de Maria escrava de José Inácio senhor do, natural de Itabaiana e com profissão de agricultor, enquanto esteve em casa do seu senhor.

PERGUNTADO a que tempo se havia ausentado da casa do seu senhor, porque o fizera e para onde se dirigia?

RESPONDEU que não pode precisar o tempo em que se ausentara, mas que parece-lhe ter sido a oito anos poucos mais ou menos . que se ausentara da casa do seu senhor porque sendo ainda de pouca idade seu senhor o subjugava de trabalhos superires as suas forças e castigando-os ás vezes sem razão o faria com vigor, assim saiu ele de sua casa por duas vezes a procurar senhor e sendo desenganado que seu senhor o não vendia por ter este declarado a quem procurava comprá-lo,deliberou-se pela terceira vez a fugir por não suportar mais a maneira porque seu senhor o tratava, já surrando-o já trazendo-lhe ao pé uma corrente e sujeitando-o a pesados serviços como o de botar fogo na fornalha e efetivamente fugindo não mas procurar quem o comprasse e sim entranhar-se pelas matas onde tem vivido até a data de ontem (...) em que foi preso pelo doutor juiz municipal de divina pastora e pelo capitão banha com seus soldados.

PERGUNTADO se nos diversos lugares por onde andou se praticou algum crime e se fez só ou acompanhado de outras pessoas?

RESPONDEU que a exceção de alguns furtos que ele fazia com seus companheiros nenhum outro crime mais cometeu.

PERGUNTADO em que consistiam estes frutos, que eram os donos dos objetos furtados e em que lugares eles o praticou?

RESPONDEU que consistia em gado, cavalo, ovelhas(...) que os donos desses animais eram diversos proprietários desde Japaratuba até laranjeiras, que eram seus companheiros de furtos:

Cornélio,escravo de Antonio do Brejo
Maximiniano, escravo de José Nobre
Lauriano, de Antonio de tal, do engenho Junco
Jacintho de José Bernadino
Victório, do engenho da Palma
Alexandra, da Lagoa Funda
Cupertino, do Neco do engenho Junco
José Maroim, se Isac da Cana Brava
Leomilho, do engenho Flor da Roda
Horácio, do engenho Bite
José Quisanga (digo) do engenho Quisanga
Benedito, do engenho Palma
Luiz, do Imbiriba de Brejo do Rosário
Bernabé do engenho oito centos
Belmira, da Cana Brava
Francisca de Guilherme de tal, da Capela
Thomasia, da Santa Barbara
Lusia do Jurema
Joaquim, da Santa Barbara
Simphoracia, da Serra Negra
Vincencia, de Antonio Dinis de Itabaiana
Conceição, mulher livre.

PERGUNTADO se estes escravos continuam ainda fugido?

RESPONDEU que não e que quase todos já tem sido entregue
a seus senhores.
PERGUNTADO se ele respondente contou proteção de
Alguém durante a tempo que esteve fugido?
RESPONDEU que a única proteção com que ele e seus companheiros contaram foi com de dois moços do Termo de Capela do lugar Lagoa Funda chamando um Teixeirinha os quais compraram-lhe alguma coisa que ele necessitava adiantando-lhe dinheiro até que lhe pudesse pagar e de uma vez lhe encomendaram alguns companheiros quatro bois por Iôio que vendeu por quarenta mil reais e dois cavalos e uma burra para Teixeirinha que também vendeu por sessenta mil reais,notando-se que tendo os quatro bois sido furtados do engenho Paté, foram pelos senhor do dito engenho tomados do Iôio logo depois.

PERGUNTADO como se havia dado o roubo feito a Antonio Pião do alto do falcão?

RESPONDEU que a três anos mais ou menos um seu companheiro de nome Maximiniano o convidou para irem a casa de Antonio Pião,roubar e conquanto ele respondente lhe fizesse suas objeçõe teve contido de (...)ao seu convite e assim saiu um dia pela manhã com Maximiniano e Cupertino seus companheiros foram colocar-me em um tabuleiro de onde virão a casa de Antonio Pião,esperão nessa ocasião sua casa e com efeito presenciando ele a retirada de Pião com seus trabalhadores dirigiram-se eles três a mulher a sogra e a mãe de Pião e não podem elas resistirem a eles três teve Maximiniano de lançar mão da fice que levava e com ela arrancou a fechadura de uma caixa que estava em um quarto e abrindo-a tirou de dentro uma carteira com dinheiro.E dirigindo-se eles três para o mato sem nenhum mal fazerem as mulheres ali,recebeu de Maximiniano com o restante que ele respondente não pode precisar quando foi por não ter contado.

PERGUNTADO como se havia dado um tiro que se diz ter sido ele respondente autor por ocasião de furtos de ovelha que praticavam?

RESPONDEU pela maneira seguinte que tendo por costume passar pelo engenho junco, encontrou uma vez a cancela mudada e receitando que talvez isto fosse feito pelo proprietário do engenho com o fim de pegá-lo quando por ali tivesse ele de passar teve de voltar e com efeito passando perto da casa de morada do proprietário já quase dia, é justamente nessa ocasião que vai ele abrindo aporta e vendo-a pergunta-lhe quem era e para onde o dirigira, não olhe respondendo ele causa alguma grita por seus escravos a de um só momento aparecem-lhe todos armados procuraram tornar-lhe o caminho, ele respondeu que estão se achava montado e com uma pistola lança mão dela e dá um tiro não em direção aos escravos mas sim, em direção oposta e com o fim unicamente de amedronta -los e por esta forma pode assim escapar-se sem que tivesse o tiro que deu empregado –se em pessoas alguma. E nada mais lhe foi perguntado dando-se assim por findo este auto em que com o Doutor Chefe de policia assina Guilherme Francisco da rocha, do que dou fé.
Eu Ernesto Alves Ramos, amanuense da Secretaria da Policia servindo de escrivão que escrevi.

Vicente de Paula Caucaes Teles
Guilherme Francisco da Rocha a Rogo
do escravo João Antonio Carlo Gomes.
Mathias Jaboticaba.

Auto de perguntas feitas ao escravo
Ilário de Manoel Raimundo do proprietário do Engenho Sitio Novo, Termo de Rosário.

Aos vinte e seis anos do mês de janeiro de mil oitocentos e setenta e seis do ano do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo nesta cidade em casa da residência do Doutor Chefe de Polícia Vicente de Paula Caucaes Telles, aí presente o escravo Ilário de Manoel de Raymundo proprietário do engenho Sitio Novo comigo nomeado, foram feitas as perguntas seguintes:

Qual o seu nome, idade, estado, filiação, naturalidade e profissão?

RESPONDEU chamar-se Ilário com trinta e cinco de idade pouco mais ou menos, solteiro, filho de Ignácio com Micaela escrava do finado José Tuten, natural do Rosário, profissão agricultor.

PERGUNTADO a que está fora da companhia do seu senhor?

RESPONDEU que a seis semanas pouco mais ou menos.

PERGUNTADO para onde se dirigia?

RESPONDEU que conservou-se por espaço de três semanas nas imediações da fazenda do seu senhor e logo depois saindo em busca das metas do engenho jurema encontrou-se na baixa com João Mulungu e lá, digo seguindo daí era o engenho “ Flor da Roda” ai se conservou por outras três semanas ate que afinal foi ai com seu companheiro preso.

PERGUNTADO se durante o tempo esteve com João Mulungu o que presenciou fazer este e o que lhe contou este com referência aos frutos, roubos e assassinatos por ele praticado?
RESPONDEU que durante estas três semanas que com João Mulungu esteve no engenho Flor da Roda nada presenciou relativamente a frutos que praticasse o mesmo Mulungu assim como ele nunca lhe contou proeza alguma que houvesse praticado.
PERGUNTADO de que se alimentaram no mato?
RESPONDEU que de alguma carne que levou de casa e de caranguejos que apanhava no lugar em que se achava, trocando às vezes alguns desses caranguejos por farinha com escravos do referido engenho e com os quais se entendiam à noite.

PERGUNTADO se o senhor desse engenho algum dia os encontrou falando com seus escravos ou se soube que eles iam à noite a (...) do seu engenho?
RESPONDEU que nunca os encontrou e que enquanto ao mais não sabia dizer.
E por mais nada lhe ser perguntado deu-se por concluída o presente auto em que o Doutor Chefe de policia assina Antonio Batista Bitencourt do que dou fé.
Eu Ernesto Alves Ramos, amanuense da Secretaria da policia servindo de escrivão que escrevi
Vicente de Paula Cascaes Teles a Rogo do escravo Ilário Antonio Baptista Bitencourt J. (...) Testemunha. Antonio Carlos Gomes Mathias Espínola Jaboticaba. Autos de perguntas feitas ao Escravo João de João pinheiro.

Aos vinte seis dias do mês de janeiro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e seis em casa da residência do Doutor Chefe de policia Vicente de Paula Cascaes Teles, ai presente o escravo João de João pinheiro, proprietário do engenho Mulungu, comigo amanuense da Secretaria da policia servindo de escrivão abaixo nomeado foram feitas as supra dita escravo que havia sido anteriormente interrogado.
Como se havia dado a morte de um homem no (...) do (...) que se diz ter sido ele respondente o autor tendo por companheiro um escravo do tenente Coronel Horta e uma negra a Alexandre Teles?
RESPONDEU que ele nenhuma culpa teve em semelhante atentado e que o ignora completamente.
PERGUNTADO ainda que assassinou um moleque do proprietário Araújo do engenho Mumbaça?
RESPONDEU que ignorava.
PERGUNTADO ainda por outro assassino de um homem na (...) de (...) que fora lançado em um braseiro e que se diz ter sido ele autor?
RESPONDEU não ser exato esse boato com referência a autoria que se lhe da porquanto nenhuma parte teve respondente neste assassinato, pensa, entretanto que talvez pelo fato dele ser filho deste lugar que se lhe atribua semelhante atentado.
PERGUNTADO também por assassinato que se dera na Pedra Branca nas pessoas de um homem que encontrara (...) sua (...)?
RESPONDEU que não sabe de semelhante assassinato nem que fora o seu autor acrescentado que durante o tempo em que andou fugido a exceção dos crimes e furtos que perpetuo nem uma morte cometeu.
PERGUNTADO que não sabia como se havia dado, apenas (...) Marcelino de tal, morador no engenho Cabral de Baixo e outras pessoas que não pode precisar o nome, por não conhece-las disseram que quem tinha prestado esse roubo tinha sido o filho do Capitão Paulo, senhor do engenho Batinga, conhecido por lôio ignorado completamente (...) esse roubo se houvera dado.
PERGUNTADO se conhecia alguém na Vila de Riachuelo e se entre teve negociações nesse lugar com alguma pessoa?
RESPONDEU que conhecia ali diversas pessoas apenas de vista e que negociação apenas tivera ali com Firmo de tal, sapateiro e purgador do engenho Palmeira o qual por algumas vezes lhe pediu que furtasse alguns animais e lhe levasse que ele compraria e, com efeito, furtara ele respondente um cavalo de Isaac do engenho Cana Brava, levou-o por venda e apossando-se dele pelo preço de vinte e cinco mil reis, apenas dez por cento e mais nada, passando afinal uma troca com ele respondente de um par de esporas de latão por outro par de ferro resultado do ajuste de contas (...)
Firmo a restar-lhe doze mil reis.
PERGUNTADO o que sabia acerca de um roubo feito a uma mulher de Bom Sucesso entre lugar e Bom Jardim?
RESPONDEU que sabe ter se dado esse roubo e que por lhe disseram os negros do engenho São José, sabe que fora Vencslau escravo de Dona Maria do engenho Bom Jardim o seu autor.
PERGUNTADO quem tinha ido atacar o major Mainart em sua casa para rouba-lo?
RESPONDEU que não sabia, que supunha, entretanto ter sido Manoel Jurema, Manoel de Júlia e Malaquias escravo, o primeiro do Capitão Paulo da Mandioca o segundo de uns ingleses do Maroim o terceiro também dos mesmos ingleses. E por nada mais lhe ser perguntado deu-se por findo o presente auto em que por ele assinou Guilherme Francisco da Rocha, Eu e, digo o Doutor Chefe de Polícia servindo de escrivão do que tudo dou fé.

Vicente de Paula Cascaes Telles Guilherme Francisco da Rocha a rogo de escravo João Mathias Espínola Jaboticaba.

SEVERO D'ACELINO EM QUESTÃO


SEVERO D'ACELINO E A PRODUÇÃO TEXTUAL AFRO -BRASILEIRA
Profª. Mestre Rosemere Ferreira da Silva i
Universidade Federal da Bahia
Centro de Estudos Afro-Orientais
Doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos
e-mail: roserosefr2000@yahoo.com.br
Resumo:
O artigo em questão procura discutir, sob o ponto de vista de formação da literatura afro -brasileira, a
produção cultural e textual do intelectual Severo D’Acelino na contemporaneidade. De que maneira,
os textos de Severo podem ser lidos e relacionados às discussões que envolvem a participação de
afro-descendentes na sociedade brasileira? Parte, do perfil biográfico do escritor, foi traçada para que
o leitor conheça a sua trajetória de formação intelectual e de intervenções nas atividades culturais em
Sergipe. A discussão sobre as atuações do intelectual hoje procura levantar questionamentos,
principalmente, sobre: Que papel o intelectual assume na sociedade contemporânea como articulador
da cultura? Quais são os dilemas do intelectual na sua política de cultura em relação ao poder
hegemônico no Brasil? Uma leitura crítica da poética de Severo D’Acelino busca relações crítico -
literárias com outros escritores da literatura afro -brasileira. E a publicação do jornal Identidades é
destacada, com o objetivo de problematizar as discussões em torno das questões sociais, culturais e
políticas que envolvem a afro-descendência no Estado.
Palavras-Chave: Severo D´Acelino, Afro-Descendência; Literatura Afro-Brasileira; Identidade
Intelectual.
A produção cultural do escritor Severo D'Acelino em Sergipe está voltada para a discussão da
afro-descendência como uma das principais formas de questionamento, na sociedade
contemporânea, que envolve a participação direta de afro -descendentes nos mais diferentes setores
sociais do Estado. A poesia escrita por D'Acelino bem como os artigos publicados e os projetos
educacionais coordenados pelo escritor refletem uma preocupação constante em educar os
sergipanos na direção de uma cultura produzida para marcar a importância da literatura afro -brasileira
como um lugar de expressão significativo que problematiza as hierarquias sociais construídas, as
relações de poder disseminadas socialmente, a formação de identidades, o combate ao precon ceito e
a discriminação racial e de gênero e ainda, a valorização da auto -estima como principal ponto de
partida na luta contra a formulação de estereótipos.
O trabalho de Severo D'Acelino começa em fins da década de 60 do século XX, mais
precisamente em 68, no Estado de Sergipe e na Bahia com o seu envolvimento na militância do
Movimento Negro e em atividades teatrais, o que acabou rendendo -lhe participações em dois filmes:
Chico Rei e Espelho D'Água e no seriado Teresa Batista Suas atividades culturais sempre estiveram
ligadas à Casa de Cultura Afro-Sergipana, Instituição comprometida com as representações culturais
e sociais da afro-descendência no Estado. Durante quase 40 anos de trabalho em torno das questões
sociais, políticas e educacionais direcion adas à causa do negro, Severo publicou em 2002, apenas
um livro de poemas, Panáfrica África Iya N'la e editou de 2001 a 2002 o jornal Identidades,
considerado um dos principais veículos de comunicação pensado para incentivar o intercâmbio de
idéias entre a comunidade e o poder público em Sergipe.
Revista África e Africanidades - Ano I - n. 1 – maio, 2008 - ISSN 1983-2354
www.africaeafricanidades.com
Revista África e Africanidades - Ano I - n. 1 – maio, 2008 - ISSN 1983-2354
www.africaeafricanidades.com
2
O jornal tratava de informar a população sobre um conteúdo, cuja abordagem não
observamos nas edições dos jornais convencionais. A leitura da afro -descendência em Sergipe,
associada ao cenário das discussões nacio nais sobre as populações minoritárias, era mediada pelo
trabalho de pesquisadores sergipanos e de outros estados do país. O Identidades constituía, desta
forma, um fórum riquíssimo de debates entre intelectuais, população e alguns segmentos de poder no
Estado. Em 2004, Severo D'Acelino coordenou o projeto “João Mulungu vai às Escolas", com auxílio
da Lei 10.639, destinado a discutir nas escolas públicas a inserção do afro -descendente na sociedade
sergipana, através do exercício da cidadania de uma comunidad e, que busca uma articulação de
cultura negra fundamentada na discussão da questão étnico -racial, como prioritária no que
entendemos como cultura afro-brasileira. Atualmente Severo se dedica a escrever o seu segundo
livro de poemas chamado Quelóide.
Pelas pesquisas realizadas em arquivos, através de levantamento de fontes bibliográficas,
entrevistas, leituras, empreitadas em bibliotecas, livrarias e principalmente discussões em torno da
questão da formação de identidades do afro -descendente em Sergipe, tenho convicção de que só
podemos nos referir a uma produção literária, intelectual e cultural voltada para uma inserção e um
diálogo com a formação da literatura afro -brasileira em Sergipe, a partir do trabalho realizado por
Severo D'Acelino.
No estudo realizado da historiografia da literatura sergipana, escrita por Jackson da Silva
Limaii, há registro de poetas que contribuíram literariamente apenas por usarem a temática do negro
como um elemento de referência. Estes textos foram escritos no século XIX e a for ma de abordagem
do negro geralmente se debruçava sobre o lamento, o pranto, a lamúria da escravidão, a escravidão
como castigo, a saudade dos negros escravizados de sua terra natal, a exploração da sexualidade da
negra escravizada, o ímpeto pela defesa da abolição, marcados à distância pela observação de um
olhar do poeta deste século praticamente externo a toda essa problemática.
Os autores sergipanos citados por Jackson da Silva Lima são: Moniz de Souza, Constantino
Gomes, Pedro Calasans, Bittencourt Samp aio, Oliveira Campos, Tobias Barreto, Silvio Romero,
Severino Cardoso, Jason Valadão, Alves Machado, Antônio Diniz Barreto e Prado Sampaio. Os
textos desses poetas ou estão compilados na História da Literatura Sergipana ou em Os Palmares
Zumbi & Outros textos sobre a escravidão. O primeiro publicado em dois volumes em 1986 e o
segundo em 1995. A história da literatura sergipana não abrange textos contemporâneos. Ou seja,
falta a esta história uma leitura mais significativa sobre o modo de representação do a frodescendente
sob o ponto de vista de formação de uma identidade cultural.
Não posso falar em literatura afro-brasileira em Sergipe sem antes voltar a estes escritores
para mostrar que não houve, ainda que superficialmente, uma continuidade de escrita h istoriográfica
sobre um contexto de abordagem que envolva o negro/ o afro -descendente. Observo que existe um
espaço vazio entre os textos desses escritores do século XIX e a literatura afro -brasileira que veio a
fortalecer-se no século XX. Não considero que os textos dos autores citados satisfaçam um estudo
mais representativo da "presença" do negro na literatura, como muitos críticos denominam. São
escritos concentrados num contexto político, histórico, social e cultural totalmente de desvantagens à
leitura do afro-descendente como parte de uma identidade nacional.
Esses textos são fundamentais para a historiografia literária, mas não atendem a leitura de
representações literárias voltadas para o estudo da literatura como produção cultural realizada em
Sergipe, cuja abordagem esteja destinada a discutir questões relativas à preservação da cultura
negra no Estado e, ainda a levantar problemas sobre a participação mais direta do afro -descendente
no processo sócio-cultural, político e econômico, de modo que as diferenças étnico-raciais sejam
percebidas como necessárias ao reconhecimento de uma sociedade multicultural.
Já no século XX, identifiquei na literatura sergipana alguns poetas que continuaram a escrever
sobre a temática do negro, a exemplo: João Silva F ranco (o João Sapateiro) e Santo Souza. A
produção literária deles, embora mais crítica e mais de acordo com os questionamentos sociais
trazidos pelas representações contemporâneas de afro -descendentes, ainda não abarcam uma
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leitura que discuta as relações étnico-raciais dentro do processo de formulação da identidade afro -
brasileira em Sergipe.
Para falarmos de literatura afro-brasileira, de suas articulações de sentido com a literatura
brasileira, da maneira como alguns conceitos e determinadas leituras fo ram ressignificadas neste
universo de construções e desconstruções da imagem do afro -brasileiro na sociedade
contemporânea, é necessário nomearmos as produções culturais e literárias que buscaram na própria
polêmica sobre a existência de uma literatura neg ra dar visibilidade cultural e política a uma
comunidade, até então, supostamente representada por alguns discursos legitimados socialmente. A
forma como esses discursos eram “autorizados" pelo poder de uma hegemonia cultural branca, fixada
em bases ocidentais, excluía toda e qualquer tentativa de manifestações culturais e literárias que
tendessem a buscar na nossa herança africana elementos da história e da memória de afro -
descendentes ou ainda a trabalhar a própria representação do negro a partir de um co ntexto de
valorização de suas contribuições à nação brasileira.
Da década de 70 do século XX para cá, com a abertura da democracia no Brasil e
conseqüentemente com os olhos voltados para um contexto político e cultural mais suscetível a
questionamentos, os intelectuais afro-brasileiros buscam no país um espaço de expressão voltado
para uma representação de valorização da cultura negra nas discussões sobre cultura, expressões
artísticas, comunicação e formação de identidades. A dinâmica das trocas culturais iii baseadas na
negociação dos contatos culturais entre negros, brancos e índios, traduziriam alterações significativas
no processo civilizatório ocidental.
A proposta da intelectualidade negra era de pensar a articulação da cultura negra, na sua
forma de comunicação com a literatura, a partir da revisão historiográfica do ser negro no Brasil.
Estabelecer uma problematização mais intensa da participação do afro -descendente na sociedade
brasileira dependia da releitura e da desconstrução das antigas repre sentações destes sujeitos
sociais, construídas sob uma forma de poder hegemônico, que sempre excluiu as expressões
minoritárias inviabilizando o reconhecimento social, político e cultural da diferença.
Ao assumir a condição de um "enunciador", o escritor afro-descendente desestabilizou as
bases da tradição literária brasileira, acostumada a ver o negro num lugar marcado pela condição
inferior, subalterna a ele atribuída. A condição de negro no discurso da enunciação, fez com que o
escritor afro-descendente trouxesse para o campo de análise teórica um discurso que problematiza
os anseios e angústias de uma coletividade. E que leva o sentimento coletivo a reconhecer a sua total
e plena condição de assumir papéis sociais mais definidores do ser negro na socied ade
contemporânea, completamente diferente daqueles "naturalizados" pelo discurso colonial.
Foi possível abrir, através da proposta diferenciada dos estudos sobre cultura, mais
especificamente a dos Estudos Culturais, um espaço de diálogo entre o que já c onsideramos
literatura afro-brasileira e as produções culturais levantadas mais contemporaneamente em estados
distintos do Brasil. Isso reforça a idéia de que a cultura pode e deve ser entendida a partir das
tensões criadas pelo conhecimento, nas suas múlt iplas influências ideológicas com o saber cultural
em processo, como afirma Florentina da Silva Souza:
Efetivam-se trânsitos e intercâmbios entre os conceitos construídos pelos
escritores negros (na verdade pelos movimentos negros) e aqueles gerados
pelos estudos e reflexões acadêmicas. Trocas marcadas pelo fato de, mais
intensamente a partir dos fins da década de oitenta, crescer o número de afro -
descendentes que investem nas pesquisas e estudos sobre cultura, tradição e
história afro-brasileira. Sem assumir qualquer posição essencialista, acredito que
o fato de disputarmos posição de sujeitos e objetos dos estudos introduz uma
outra perspectiva de análise da questão racial no universo acadêmico e
enriquece a produção de reflexões e estudos sobre a questão racial no Brasil.
Por outro lado, penso também que a proliferação de entidades e grupos negros
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no País nas últimas décadas evidentemente que aliada a outros fatores, muito
contribuiu para a inserção do tema na agenda acadêmica e nas discussões
políticas.iv
Considero literatura afro-brasileira toda produção cultural voltada para a afirmação de uma
identidade negra de inclusão, questionamentos políticos, auto -estima, em constante tensão com o
legado cultural da literatura instituída sempre em busca de ampli ação e renovação de seu campo de
saber através dos diálogos com escritores, intelectuais que pensam suas atividades culturais como
forma constante de preservação cultural afro -brasileira e também de problematização das forças de
poder que são exercidas na marcação de políticas que efetivam a diferença. A releitura das
manifestações populares brasileiras se torna fundamental para a revisão do conceito de literário.
É neste contexto que o trabalho do intelectual orgânico v Severo D'Acelino começa a ser
desenvolvido em Sergipe com o propósito, segundo ele, de dar visibilidade à cultura negra. Seu
trabalho concentra ações diversificadas em torno da afro -descendência. Diferente de outros
escritores de sua geração no Estado, Severo se projeta para um campo de saber que movimenta na
contemporaneidade não só escritas sobre a temática do negro, mas, sobretudo a discussão pela
participação direta no âmbito das políticas que inserem afro -descendentes no campo cultural, político
e social brasileiro.
Sergipe tem, de acordo com as informações do senso de 2003 realizado pelo IBGE vi, um
percentual de 68,6 % de afro-descendentes. O município brasileiro com o maior contingente
populacional de afro-descendentes é Nossa Senhora das Dores com 98,7% vii, sob o ponto de vista
proporcional. As cidades de Monte Alegre, 93,7%, Indiaroba, 89,2% e Pinhão, 89,2% também reúnem
uma população significativa neste sentido. No município de Porto da Folha a população "sarará" é
interpretada como branca, mesmo apresentando características afro -brasileiras. Gilberto Gil na letra
da música Sarará Miolo define o que vem a ser sarará: “como doença de branco, de querer cabelo
liso, já tendo cabelo louro, cabelo duro é preciso, que é pra ser você crioulo". viii O cabelo duro, na
letra da música, é interpretado como uma das marcas identitárias do afro -brasileiro, ao passo que o
cabelo liso seria a reprodução de uma marca que não é a sua e, sim aquela atribuída por um padrão
estabelecido de leitura estética e social branca. Na verdade, pelo percentual total de afro -
descendentes no estado de Sergipe, percebemos claramente que as cidades do interior influenciam
na leitura da capital como predominantemente branca.
Incoerente pensar que Aracaju seja uma capital branca. O percentual de brancos em Sergipe
é de 27,4%, de pretos, 3,8% e de cor amarela ou indígena é de 0,2%. Se somarmos os números de
pardos, considerados aqui afro-descendentes mais o percentual de pretos, já constatado pelo IBGE,
teríamos um total geral de 71,4% de afro -descendentes. Portanto, não deveria hav er motivos para
que a população de afro-descendentes não seja percebida como um contingente populacional
significativo na leitura de afro-descendência no Estado. Acho que a problemática sobre as relações
raciais em Sergipe tem suas raízes plantadas princip almente nesta leitura mal feita. Os índices são
claros e não deixam dúvidas sobre a caracterização da população quanto à cor. A política
governamental do Estado não é uma política voltada para os indicadores sociais desta população. O
discurso político em Sergipe fortalece uma identidade branca, momentânea e que não contribui para
que as diferenças raciais sejam seriamente pensadas.
O afro-descendente em Sergipe incorpora mais a idéia de ser branco do que a idéia de não -
branco. Mesmo a população do interior do Estado é levada pelas condições de inferioridade racial,
formação de estereótipos e invisibilidade à política de ações afirmativas, a pensar que um tom de
pele mais claro, ou o cabelo forçosamente liso, embora com características fenotípicas negras, se ja
branca.
O discurso da brancura é uma forma de esconder os problemas étnico -raciais, para que eles
não venham à tona como uma problematização que possa repercutir no que entendemos como
diversidade cultural e identidades múltiplas na formação étnica nac ional. As pessoas são levadas a
mascarar uma idéia de "branqueamento" para tentar com isso evitar a exclusão.
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Penso a identidade do afro-descendente em Sergipe como um conceito que opera, como afirma
Stuart Hallix, "sob rasura". A identidade cultural na co ntemporaneidade é estudada como identidades.
A pluralidade retira do conceito a predominância de uma identidade única no reconhecimento da
diferença. O sujeito se percebe socialmente pelo conjunto de identidades que possui e pela não
fixidez da construção do conceito de identidade sob uma historicidade em processo.As identidades do
afro-descendente na contemporaneidade não podem ser entendidas sem que haja recorrência ao seu
passado histórico, como discute Stuart Hall:
As identidades parecem invocar uma or igem que residiria em passado histórico
com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência. Elas têm a
ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da história, da
linguagem e da cultura para a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo
no qual nos tornamos. Têm a ver não tanto com as questões "quem nós somos"
ou "de onde viemos", mas muito mais com as questões “quem nós podemos nos
tornar", "como nós temos sido representados" e "como essa representação afeta
a forma como nós podemos representar a nós próprios." x
Não se trata de atribuir culpas pela lentidão do debate racial em Sergipe, apenas pretendo
dizer que a representação do afro-descendente deve ser reavaliada e que de uma forma muito clara e
objetiva políticas devem ser implementadas para resgatar um pouco da auto -estima e da capacidade
de intervenção social do afro-descendente como sujeito que se pensa como tal. Por isso, o nome de
Severo D’Acelino e seu trabalho desenvolvido tornam -se importante para o Estado.
Severo D'Acelino é o intelectual em Sergipe que contemporaneamente vem trabalhando com
questões relacionadas com a formação de identidades, com o combate aos estereótipos, usados na
caracterização da comunidade afro-descendente e denunciando textualmente, seja a través de sua
poesia ou de artigos, a necessidade de inclusão social desta população, com as atividades
direcionadas a projetos de uma pedagogia de educação voltada para a reflexão e para o
conhecimento de conteúdos específicos da cultura negra nos municíp ios.
Os textos de Severo D'Acelino podem ser lidos como uma produção da literatura afro -
brasileira porque seu conteúdo literário discute a problemática do ser negro no Brasil. O sujeito negro
é colocado em primeiro plano. Neste sentido, falar do cotidiano desta comunidade acaba sendo o fio
condutor que direciona a organização de sua escrita, objetivando uma expressão mais definida, do
entender-se negro no nosso país. As experiências vivenciadas como negro estão traduzidas em cada
linha de sua poesia. Experiências estas que no passado foram menosprezadas por uma literatura
instituída que sempre buscou excluir o afro dos afro -brasileiros. Não estamos tratando aqui de uma
temática, como já estamos cansados de ouvir. Estamos ampliando nossos conhecimentos, nosso s
saberes de uma maneira geral para tratar de uma literatura afro -brasileira. De uma forma de escrever
que procura se despir dos moldes ortodoxos da nossa língua portuguesa. A qualidade literária da
literatura afro-brasileira não está nas formas rebuscadas de escritas, nas classificações,
conceituações e etc, ela está concentrada indiscutivelmente na experiência poética, artística, cultural
e política de saberes que representam o qualificativo afro de afro -descendentes e de afrodescendência
no Brasil.
No início do livro Panáfrica África Iya N'la Severo D'Acelino cria uma certa expectativa em
contar uma história de afro-descendência fragmentada pela dispersão de informações que remetam a
construção de uma trajetória de ascendência africana. Mesmo sem a recor rência aos documentos, a
história merece ser contada e remontada com base nos relatos e tradições da ancestralidade africana
que vive, embora modificada na diáspora pela aproximação com a cultura ocidental, para que o
passado possa ser reinventado no prese nte, através de uma representação literária que assume a
história da cultura afro-brasileira como um legado de informações que fortalece a identidade afro -
brasileira.
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Na primeira parte do livro, que corresponde ao primeiro manifesto, o sentido de “Panáfri ca" é
de resistência cultural e política. A resistência da cultura afro -brasileira conseguiu manter as tradições
africanas ressignificadas nos rituais do candomblé, nos enredos das escolas de samba e na forma de
viver dos quilombolas. "Panáfrica" correspon de à preservação de uma memória pronta a ser ativada
na reconstrução do arquivo cultural e humano, no qual as expectativas do grupo étnico -racial sejam
usadas a repercutir uma idéia de cultura voltada para a visibilidade à diferença.
O poema que abre o primeiro manifesto é "Rito de abertura, saudação a Exu". O poeta
escolhe iniciar suas escritas com este texto, talvez porque de acordo com a tradição do candomblé no
Brasil o Orixá sempre convocado à abertura dos trabalhos é Exu. Metaforicamente, o Orixá tem a
função de abrir toda reflexão de "Panáfrica", e como mensageiro indicar o caminho que os textos
poéticos irão percorrer na sua forma de abordagem da cultura afro -brasileira em Sergipe.
(...)
O que sempre segue
Na frente e quem primeiro
É servido, Saravá
Leva meus rogos e preces
Ao meu Orixá.
Minhas preces em cantos
E prantos do meu povo
Diasporizando, nesta revisitação
A memória ancestral
Para que nosso pranto e cantos
Sejam a partir de agora
Canções de regozijo pela revisitação
Do meu axéxi
(...)
Recorrer à figura de Exu é comum aos escritores afro -brasileiros para explicar na tradição
afro-brasileira a presença do Orixá como metáfora de atividade crítica da interpretação. Leda Maria
Martins, em A Cena em Sombras, ao explicar o código da duplicidade que instaura o jogo da
aparência e da representação, escolhe Exu como um "operador semântico de alteridade africana na
sua interseção cultural nos Novos Mundos". Exu, na leitura de Leda, "é o princípio dinâmico de
comunicação e interpretação que se configura como elemento mediador de sentido". xii
Já Henry Louis Gatesxiii associa o Macaco Significador do discurso a Exu, figura segundo
Gates, trapaceira na mitologia ioruba. As figuras trapaceiras são "mediadoras" na leitura do autor.
Assim como para a maioria dos esc ritores afro-brasileiros Exu domina o campo das trapaças, das
ambigüidades, da inversão, do jogo discursivo, sempre brincando com as palavras e criando
imagens, muitas vezes, irônicas do que repete e inverte.
"Aquele que segue na frente e em primeiro lugar ", assim Exu é definido por D'Acelino. O que
segue primeiro é, em consonância com o discurso dos autores citados, o dono da notícia, da
comunicação direta do ato de comunicar na representação do significado de "Panáfrica".
A poética de Severo D'Acelino é o esboço de uma literatura afro-brasileira escrita para ser
conhecida como o início de uma “caligrafia" que pensa o afro -descendente em Sergipe num contexto
histórico de representações que enfatizam a necessidade de reconhecimento e visibilidade deste
grupo étnico-racial. Tradição africana, cultura popular brasileira, identidade, religiosidade,
representações e diferenças étnicas, historicidade, intervenções culturais e políticas são alguns dos
aspectos que podemos levantar através de sua abordagem literári a como forma de problematizar a
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participação do sergipano, mais especificamente a do afro -sergipano na vida cultural e política de seu
Estado.
É neste contexto do debate político e étnico -racial contemporâneo que analiso a atuação
direta do intelectual Severo D'Acelino em Sergipe. Destaco seu trabalho como fundamental para
pensarmos o diálogo de sua produção cultural com a de artistas e outros intelectuais da literatura
afro-brasileira. Acredito também que a diversidade do trabalho de Severo tenha impacto em todos os
setores da opinião publica, gerando polêmica com o poder hegemônico sergipano. Na efetivação de
seu discurso, ele se vale da condição e do papel de intelectual, para criar estratégias de intervenção
na política cultural e, na estrutura educacio nal, buscando uma representação do afro -descendente
mais emancipatória, sob o ponto de vista da reconstrução da história e da memória do afro -
descendente em Sergipe em consonância com as leituras da literatura contemporânea.
i Rosemere Ferreira da Silva ( roserosefr2000@yahoo.com.br) possui Graduação em Letras
Português/ Inglês pela Universidade Federal de Sergipe (1998) e Mestrado em Letras e Lingüística,
em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura, pela Universidade Federal da Bahia (2006). É
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade
Federal da Bahia (em curso) Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira
e Literatura Comparada, atuando principalmente nos seguintes temas: afrodescendência, identidade
cultural, literatura afro-brasileira, literatura brasileira, cultura brasileira e estudos étnicos e africanos
ii LIMA, 1996.
iii SANTIAGO, 1998, p. 16
iv SOUZA, F. 2005, p. 97-98
vUtilizo o conceito de intelectual orgânico proposto por Gramsci, ou seja, aquele que se coloca a
serviço de classes ou empreendimentos para organizar interesses, disputar e obter expansão dos
espaços de poder.
vi Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), “os indicadores, elaborados
principalmente a partir dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em
2003, estão apresentados em tabelas e gráficos, para o Brasil, grandes regiões e unidades da
federação e, para alguns aspectos, também para regiões metropolitanas. A publicação apresenta um
glossário com termos e conceitos considerados relevantes". Os percentuais de 68,6% (pardos),
27,4% (branca), 3,8% (preta) e 0,2 (amarela ou indígena) foram retirados da tabela 11.1 - População
total e sua respectiva distribuição per centual, por cor segundo as Grandes Regiões, Unidades da
Federação e Regiões Metropolitanas-2003. O percentual de pardos está sendo lido aqui como o de
afro-descendentes. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ . Acesso em: 08 de set. de 2005.
vii Este percentual está baseado em Estudos e Pesquisas/ Nota de Estudos 02/203 - Ranking dos cem
(100) maiores municípios negros do Brasil.
Fonte: Microdados da Amostra de 10% do Censo Demográfico de 2000. Programação: Luiz Marcelo
Carvano. Disponível em: http://www.observatórioafrobrasileiro.org.br . Acesso em: 08 de set. de 2005.
viii GIL, Gilberto. Sarará Miolo, Intérprete: Gilberto Gil. Realce. Warner Music, p. 1979. Faixa 7.
Os versos da letra da música de Gilberto Gil ilustram uma definição de “sarará" que está diretam ente
relacionada com a crítica à rejeição de características que circulam socialmente como definidoras de
um padrão de beleza estética branco. O "sarará" já traz naturalmente a cor dos cabelos loura, o que
se aproxima desta construção de padronização criad a pela sociedade. Portanto, o "duro" seria
enfatizar que o "louro-duro" é a diferença que existe entre o branco louro de cabelo liso e o branco
louro de cabelo duro, diferença esta que quando assumida reforça muito mais a identidade afro -
brasileira do que uma identidade branca.
ix HALL, 2005, p. 104
x HALL, op cit, p. 108-109
xi D’ACELINO, 2002, p. 74
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xii MARTINS, 1995, p. 56-57
xiii GATES, 1992, p. 206-207
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MOVIMENTO NEGRO SERGIPANO EM QUESTÃO


Movimento negro em questão.

Debate interdisciplinar

Movimento Neg®O Sergipano

Severo D'Acelino/Agosto/08


Uma análise de conteúdo conflitante.

" Há pessoas que vêem as coisas como elas são e que perguntam a si mesmas: 'Por que? E há pessoas que sonham as coisas como elas jamais foram e que perguntam a si mesmas:'Por que não?"

Bernard Shaw



Desde os primeiros movimentos reivindicatórios feito pelos negros em Sergipe, as estratégias e interesses mudaram e se cristalizou numa vertente assoreada.

As imagens de resistência se dilue antes os interesses pessoais, dos que se antecipou a razão do conteúdo coletivo e individualizou e fracionou o foco em beneficio próprio e de grupos, numa subserviência do JUCA MULATO, cristalizando a mentalidade escrava, típica de negos de diversas matizes conseqüentes e que buscam no manifesto proveitos e visibilidade no grupo que servilmente está atrelado ou busca se atrelar.

O Movimento Negro foi transformado, reduziu sua filosofia ancestral abolicionista, reivindicatória, resistente. Hoje é sobrevivente e está dividido em facções e tendências, simples reprodutor das palavras de ordens dos partidos, sindicatos e dos governos.

Está classificado em:

Ideológico

Partidário

Governista

Chapa Branca

De Aluguel

Reproduz tudo que a sociedade faz contra o Negro, tudo que o governo faz contra a comunidade e se transformou em grupo de aplauso governista.

Seus dirigentes no afã de ocuparem cargos no espaço de poder, traem com facilidade extrema a filosofia do Movimento e alça vôo em busca de outros espaços., renegando o signo de luta e se transformam em algozes dos antigos companheiros e do coletivo negro, facilitando tão somente artigos e favores para seu grupo e facção para se fortalecer e destruir os demais impedindo-os de terem sucessos em seus projetos e empreendimentos, a não ser que tenha suas chancelas, que logo mais será utilizada como moeda de troca.

São os executores das ações do poder contra o coletivo negro. Executam as ordens sem questionar se as ações são positivas ou não. São os Capitães do Mato do coletivo, os carcereiros e decaptadores dos que se insurgem contra as ações do governo.

São os grupos de força bruta do governo, os delatores do movimento, são os informantes do poder, e nada será novidade no âmbito do controle dos banidos, estão disfarçados e ou tem informantes em todos os grupos: Quilombolas, Camdomblé, Capoeira, Hipp Hoppe, Reggae, Estudantil, Dança, Esportes, Música, GLS, Associações de Moradores, Grupos Culturais,repartições públicas, policia militar,defensoria,sindicatos,grêmios estudantis etc. Numa forma perversa de cooptação para controlar as ações e impedir insurreições. Esta prática já era desenvolvidas pelos negros das 'casas grandes' os traidores da raça e do movimento de resistências.

As esfera de poder estão representadas com os "antigos militantes" contentes com o substrato funcional. As suas maiores expressões estão no parasitar, não gozam de nenhum respeito de governo, partido ou sindicatos, são uns parias com funções públicas usurpadas. Analfabetos políticos e culturais, cujas funções se traduz trair o coletivo, mantendo o governo, partidos e policias a par dos manifestos.

São os violadores dos Direitos e Garantias Individuais e Coletivas, impedindo qualquer manifestação de críticas ao governo, qualquer manifesto em direção de uma Política Pública expressa pela comunidade, em direção de benefícios, que sejam explicitados na ausência de Estado, de governo e do governador.

Um movimento no interior do Movimento Negro, potencializado por um ambiente pesado, denso, carregado de ódio, competições, cheio de ambições e perversidade, ressentimentos e invejas, endoidecido por uma esfera inquisitorial e perversa.

Enquanto isso a comunidade sofre pela ausência das entidades de sua organização e padece de toda sorte de preconceitos, racismo, discriminações e refém dos conflitos internos enquanto seus direitos são violados com amparo legal, sem encontrar resistência, em todos os níveis sobre a submissão do silencio sufocado.

O Movimento Negro Hoje, na expressão reprodutora das ações negativas do governo e da sociedade, tem no "Candomblé" e nas entidades "negas" seus maiores instrumentos de afirmação do Racismo Institucional, para banir o coletivo e violar seus Direitos, negando Políticas Públicas, através do controle alimentado pelo medo e pelo paternalismo que impõem silencio e impede o rompimento desta barreira.

O Movimento Negro hoje, em Sergipe, é reducionista, sufocante e de alto risco. Inexiste organização voltada para a Defesa dos Direitos Humanos no âmbito da comunidade, teem medo de se expressar e perdem a liberdade de expressão, através do vício de buscar favores na busca de defender seus direitos.

A distribuição perversa de cestas de alimentos atrela e constrange a que recebe e a quem ficou sem receber. O que recebe porque é rotulado de está vinculado a determinado político do grupo do governo e o que não recebem o constrangimento ilegal de sua exclusão.

A comunidade Negra está abondonada. Suas organizações já não querem tratar de sua defesa, já não lhe representa, está ocupada em servir o governo, se voltaram para o poder controlador.

A Educação etnocêntrica, desqualificada onde o negro está excluído há mais de 500 anos, agora é aplaudida pelo Movimento Negro. Não há mais questionamentos sobre as ausências de governo e do Estado nas ações do coletivo. O governo esta alforriado, e recebe aplausos diuturnamente dos antigos militantes que se bandearam para suas hostes e partidarizaram a organização negra.

A mídia pauta o negro e seus representantes, excluindo os que criticam o governo e a comunidade é silenciada nas suas questões e condições, é mera expectadora da pilhagem que é feita em seu nome, sem seu consentimento ou participação.

O sentido e expressão de mudanças, já não se postula mais, o foco é a cristalização do conservadorismo, em louvor a "Casa Grande", ainda hoje o negro sergipano, foge de sua raça e se sente agregado dos engenhos, sítios e fazendas. Poucos são os que se reconhecem e são reconhecidos negros, social e politicamente. Se auto-classificam quando o processo está a seu favor, quando há interesse para tal. Aí é negro, vai tirar vantagens nisso, fora estas possibilidades, são brancos e não escondem seus ódios pelos pretos.

Para se firmarem no poder, violam os Direitos dos demais, acirram as intrigas, as traições, os preconceitos, as discriminações, a intolerância e o racismo. Manifestos que deveriam estar lutando contra sua existência, passam a praticar. Negro não gosta de negros e quando há interesses envolvidos, são capazes de matar, pois o ódio é a ferramenta do crime e a motivação é a expressão de superioridade. Os conflitos intraracial assinalando as intrigas de Lideres, Entidades, participantes, Chefes, Proprietários, Comunidades em constantes rotas de colisões é o que necessita o governo para justificar sua ações racistas.

A falta de representação negra e de negros no âmbito dos espaços de poderes, visibiliza o conservadorismo e a filosofia racista do governo, que na prática de sua ideologia do recalque, tenta assinalar o mito da democracia racial com a passividade do negro.

A estratégia do movimento negro chapa branca é invasiva e perversa, uma verdadeira gang do crime organizado. Se insinua até na internet para devassar as manifestações e pensamentos dos ativistas, militantes, lideranças e entidades através de páginas de relacionamentos, tipo Orkut e Blogg, para detonar junto aos seus "senhores".Os informantes sabedores que não temos acesso a mídia coorporativada e controlada pelo governo, seu maior cliente, invadem a internet numa caça de fazer inveja a Gestapo.É um controle fascista, uma violação a nossa Liberdade de expressão e a expressão de nossa Liberdade.

A partidarização do Movimento Negro aqui em Sergipe, foi a derrocada do Movimento, causou a fragilização a redução drástica de Grupos formais e informais que compunha a Organização Negra criada a partir de 68. Acirrou as relações com a comunidade de Terreiro que já dava sinais de aceitar as argumentações dos grupos e Entidades sociais e culturais em torno da revitalização e adesão as ações conjuntas em torno de uma resistência mais ampla.

Hoje as comunidades de Terreiro estão atreladas ao Movimento Negro Chapa Branca em torno de uma submissa manifestação, sem nenhuma garantia de maiores atenções na defesa da comunidade que diuturnamente é vilipendiada com agressões que o governo faz que não vê e nisso recrudesce os atos de Intolerância e a comunidade atrelada, domesticada, acomodada se mantem como está para não perder privilégios(?) transformando-se em currais eleitorais para os políticos da facção do poder.

Esse movimento nego chapa branca, inviabiliza e conflita com os demais movimentos, principalmente os Ideológicos, prejudicando seus manifestos, vulnerabilizando as ações, as práticas, a consecução dos seus objetivos e provocando o esvaziamento dos Grupos e Entidades resistentes.

Políticos que deveriam propugnar pelo fortalecimento organizacional do Coletivo Negro, através dos seus mandatos, fracionam a proposta, criando seu movimento particular e absorvendo os recursos de forma imoral, para fortalecerem suas entidades negras divisionista, através do tráfego de influências em Sindicatos, Secretarias, Ministérios e Organizações outras, em vez de referendar ao conjunto, faz particularmente acirrando os conflitos e dividindo a comunidade.

As relações da Casa de Cultura Afro Sergipana, a Entidade mais antiga do Movimento Negro Contemporâneo, com a comunidade se extingue a cada dia, pelo seu isolamento provocado pela exclusão e banimento. Suas ações em torno da Educação. Combate ao Racismo. Direitos Humanos. Documentação e Pesquisas, Ação Comunitária, Religião Orixá etc., estão interrompidas, porque o governo entende que a prioridade é para a facção do partido. Daí o Projeto Cultural de Educação foi banido desta administração e quem fica no prejuízo é a classe estudantil.

Não há mais a possibilidade da Casa de Cultura Afro Sergipana prestar seus serviços ao Estado, pois o governo não permite e com isso as perseguições se estende até em multas de 8 mil Reais, porque a Entidade esta há 8 anos tentando organizar seu prédio com construção de salas de aula. A Multa foi o explicito Racismo Institucional da Prefeitura Municipal de Aracaju, Capital do Estado. Isso coloca em evidência as ações de governo, pois enquanto em outros Estados e Capitais da Federação, Governadores e Prefeitos recuperam prédios públicos e dão para as Entidades do Movimento Negro fazerem suas sedes, outros constroem e outros ainda promovem ações cooperativas para edificarem sedes próprias para Entidades Negras, aqui somos perseguidos e multados e nosso Centro de Pedagogia Afro Sergipana ainda hoje se encontra no mesmo estado de quando foi multado.

As nossas publicações, estão paradas por falta de oportunidades do Estado adquirir parte para distribuir nas escolas e a tentativa da SEPIR editar o Caderno Pedagógico " Metodologia Afro da Educação Inclusiva", para distribuição nas escolas, mesmo sem a colaboração da secretaria de educação, foi por águas abaixo simplesmente porque a Entidade se posicionou contraria ao sistema de 'kota"e abraçou a Lei 10.xxxx, fomos excluídos e até hoje o CD não nos foi devolvido, apesar de já ter solicitado por diversas vezes.

Na expressão do contraditório, é assinalado que: 'Para o grupo do "campo petista", o mundo ainda se divide entre esquerda direita, mocinhos e bandidos, o bem e o mal, não há nuances e nem tonalidades possíveis no seu mundo bipolar; nesta divisão reducionista, simplista e mecânica do mundo, o movimento social negro se divide entre os negros de esquerda e os de direita; portanto, entre os negros do PT e os negros que não são do PT.

O que na verdade é visível é que, ideologicamente, o grupo do auto-proclamado "campo petista" é a vanguarda do que há de mais atrasado nas máquinas sindical e partidária e se pauta pelo anacronismo das plenárias, em que se disputa o poder com as velhas armas e expedientes – a calúnia contra quem discordam, as puxadas de tapete, os pequenos e mesquinhos lances de esperteza."

A Relação de Poder( diz Foucault) tem seus princípios e há poder, há resistência. Para cada ação, uma reação. Ninguém exerce o poder impunemente, e ninguém é apenas passivo nas relações de poder. Ele subjaz a própria relação e tanto dominador e dominado, são agentes e pacientes do poder. Neste sentido o manifesto dos negos domesticados, a serviço do poder, não passa de uma marionete, descartados a qualquer momento e banidos do esquema, porque traidores, nunca foram considerados por ninguém. Há sempre uma aversão e desconforto daqueles que se utilizam dos seus "serviços".

Ideológico

Partidário

Governista

Chapa Branca

De Aluguel

Ideológico – é o que buscam consolidar os objetivos do Movimento em torno de ações manifestadas pelo pensamento e expressão de ações positivas através do conjunto de idéias que traduzam sua situação histórica, numa ação contemporânea, dentro de um sistema organizado como instrumento de luta, articulado de valores, opiniões, e crenças que expressem e reforcem as relações conferindo unidade, seja quais forem os níveis de consciência do coletivo. São ativistas dos Direitos Civis, seus militantes são ativistas dos Direitos Civis. Na resistência negra e lutam contra todas as formas de discriminações e preconceitos.

Partidários – aqueles formados ou que se associa aos valores e idéia de partidos, seguindo suas diretrizes, impondo ao coletivo os dogmas do partido que serve e que defende, atuando na comunidade para difundir seus slogans e propagar suas manifestações, sem se importar com as questões e condições da comunidade. São grupos que se servem da fragilidade da comunidade para infundir os idéias partidários, discriminando os que não aderem e obstruindo toda manifestação em torno das idéias da comunidade.

Governistas – os que se atrelam ao poder, independentemente de sua raiz ideológica e partidária. Busca os espaços de poderes, para auferir benefícios próprios, tendo a comunidade como moeda de troca. São os parasitas do movimento, do qual se utiliza como ponte, para transpor espaços e se manter como "pequenas autoridades", violando os Direitos e violentando o coletivo no uso indevido de sua representação.São os punguistas, os capachos, do governo e traidores do coletivo. Suas funções é trair e impedir o desenvolvimento da comunidade, para se cristalizar no poder e garantir sua mobilização no governo, sem prestar serviço algum para os que se dizem representar. Suas armas são as armas da sedução, manipulação, repressão, retaliação. Esses "representantes", não teem amigos nem aliados, e sim reféns

CHAPAS BRANCAS - os que se manifestam em torno do eventos e instrumentos oficiais. Estão sempre transitando na comunidade em carros oficiais, cujas logomarcas traduzem seus status no seio do coletivo, a quem eles tratam de cima para baixo. Suas arrogâncias são maiores que as incompetências. Querem o poder, para poder mostrar poder, não que saibam o que seja, ou tenham competências para avaliar a importância e responsabilidade do poder. Querem dar as ordens e manter o pessoal dependendo de suas vontades. São psicopatas que fazem da prostituição seu instrumento de trabalho.

Os de Alugueis – são simplistas, atabalhoados, crentes de que são o máximo, que sabem tudo, o caminho das pedras e que suas influências, abrem portas e escancaram janelas para os seus clientes. Só pensam em vantagens. São os chamados 20%. Mercantilistas, mercenários que são capazes de cobrar para dar abenção aos pais.

Seus "serviços" estão a disposição de quem der mais. São os negos de alugueis, seus plantões são ações garantidoras de seus negócios. Reducionistas em determinados momentos e em outros expansionistas, isso determina a visão e perspectiva em cima da próxima vítima. A estratégia manipulante faz do seu silencio um estrondoso equipamento de ganhos fáceis, aplaudem a quem lhes interessam financeiramente, estão sempre bajulando e servindo de capachos para galgar uma CC ou cargos que lhes dêem visibilidades, junto a comunidade, grupos, lideranças e militantes.

Esses não dão um ponto sem nó, para eles farinha pouca é meu pirão primeiro. Se alguma organização está desenvolvendo um projeto, eles são os primeiros a chegarem junto, apontando erros e soluções fáceis a fim de tirar proveitos. São os engenheiros das obras prontas, representam uma gang, não movimento social que pugna por transformações e benefícios comuns em luta contra as opressões e violações. São gangster, uma bandidagem organizada para oprimir a comunidade negra, tirando proveitos da nossa desgraça. São uns parias, alimentados pelo poder público de gestores desajustados que querem se cristalizar no poder. Aquele mesmo poder que eles condenavam e agora, querem estar perpetuado e para tal, coloca a seus serviço uma corja criada a sua semelhança para anular criticas e insurreições contra seu mandarinato.

A arma destes elementos que se dizem representantes do movimento negro e do coletivo, junto aos partidos e governos, é a retaliação criminosa. A palavra de ordem é: Se não se junta, se fode. Daí toda manifestação negativa e toda armação é dirigida ao alvo da vez. Calunias, difamações, discriminações, todo tipo de violências são dirigidos ao alvo. Indivíduos, grupos, comunidades, são manipuladas e colocadas contra o alvo que vítima de isolamento, impedido dos acessos ao exercício funcional, se torna fragilizado.

A campanha de desqualificação contra a vítima é tão medonha, que até seus mais íntimos ficam desconfiados e os que não tem conhecimento da marmotagem, engrossam a coluna de difamadores e praticam toda sorte de preconceitos contra o alvo apontado onde todos se tornam seus inimigos para atender o grupo de negros covardes que atentam contra o coletivo, mas está no poder.

A reação vem imediatamente, cristalizando o manifesto, seja através do silencio ou pelas investidas, onde buscando suas defesas atinge a todos e o manifesto se caracteriza em conflito permanente, arrastando a todos que se manifestarem, até chegar a Policia e Justiça, pois o tráfico de influencia deste covardes é muito grande, principalmente nos partidos e secretarias, abortam qualquer ações que suas vítimas estejam desenvolvendo ou negociando. Exemplifica-se o Projeto Cultural de Educação João Mulungu vai ás Escolas, da Casa de Cultura Afro Sergipana, alijada e banida do governo do PT.

Esse movimento é racista, e reproduz contra o negro, todo estereotipo tradicional e sua única ação é a defesa do governo e partidos, das criticas e denuncias das lideranças, entidades e coletivo. O Racismo Institucional está fortalecido por conta desta corja, patrocinada com o dinheiro público. Esta modalidade de racismo é competente e tem na religião seu alvo preferido e os membros da religião são covardes e acomodados porque não reagem e nem dão apôio as lideranças e entidades e grupos que reagem contra a violação dos direitos coletivos pelo governo e Estado.

Acomodam-se com medo de perder as supostas prerrogativas no espaço de poder e suas cestas de alimentos. São parasitas políticos e sociais e, para manter a linha, reproduzem no seu interior, todas as formas de racismo, discriminações, preconceitos, intolerâncias possíveis e impossíveis e quando de agentes, passam a vítimas, calam e seus silêncios são instrumentos que fortalecem e cristalizam o crime contra o coletivo.