terça-feira, 17 de novembro de 2009
PEDAGOGIA DE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - MODELO SERGIPANO
PEDAGOGIA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Modelo Sergipano.
In Conferência para o Novembro Negro em 17.11.09
Severo D’Acelino.
"...E (Noé) bebeu do vinho e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cã, o pai de Canaã, a nudez de seu pai, e fê-lo saber a ambos os seus irmãos fora. (...) E despertou Noé do seu vinho, e soube o que o seu filho menor lhe fizera. E disse: Maldito seja Canaã, servo dos servos seja dos seus irmãos. E disse: Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo (Gên. 9:21 – 27)."
Desde o inicio da colonização, a imposição da igreja esteve sempre presente , regulando as ações e manifestos da província, mesmo antes de por aqui chegarem os escombros, vilipendiados e escravizados, os Negros, trazidos de África nos Tumbeiros.
Todo o universo cultural do contingente escravizado, foram objeto da filosofia reducionista dos religiosos que, tinham na Bíblia, má interpretada, os indicadores de suas reivindicações. Através dela, se matava e torturava para enaltecer o nome de Deus , dominar e purificar os escravos negros, pois só os negros mereceram tanto desprezo por parte dos dominadores portugueses que não se espelharam nos romanos.
O etnocentrismo exacerbado, extinguiu uma raça detentora de mais de 400 culturas,(etnocidio), os Índios sergipanos foram os mais atingidos, a nós os negros coube a idiossincrasia cultural embalada pelo sincretismo para impedir o trauma econômico da política reinol em terras de El Rey.
Os negros foram reduzidos a coisa, desde seu seqüestro em África e mantido o status em terra de Serigy, separados e escalonados para prover a o poder da dominação, conforme as regulações externas expressa nas estruturas sociais portuguesas, editadas pela Santa Sé.
O vilipendio ao negro foi além da separação, teve a supressão da língua como fator de comunicação, numa intolerância étnica cultural e lingüística, perpassada a religião, cultura, filosofia, história, heróis, tradições etc. Silenciando assim, todo o indicador Étnico histórico e cultural do patrimônio do contingente dominado.
A perda de identidade do negro, valorizou a pedagogia da intolerância religiosa imposta pelos dominadores e gerou uma complexa forma de reação, numa constante luta pela preservação das tradições culturais de matrizes africanas na diáspora e estruturou a resistência Negra nas terras de Serigy.
A luta contra a intolerância vem sistematizando reações, ao longo dos séculos de dominação, desde a Colônia a Nova República, sem trégua, mesmo com diversos andamentos e manifestações equivocadas, a luta sempre está a ecoa como um rastilho de pólvora, ora úmida ora seca, mas insistentemente, seja pelas ações dos fundamentos engendrados no Abolicionismo, a Lei Caó com víeis das ações do Movimento Negro Contemporâneo, com destaque para os manifestos da Casa de Cultura Afro Sergipana, a nível de formação de opinião pública, legislativos e comunidades: religiosa, estudantil fomentando denuncias e criticas institucionais em busca de mudanças de atitudes e comportamentos.
A Intolerância Religiosa em Sergipe, tem sido a mais cruel da Federação e em diversos episódios de sua história, cristaliza cada vez mais a ação predatória do Estado, governos e governadores como responsáveis pelas ações criminosas e pela cristalização do manifesto racista, como pratica tradicional e também pela banalização do ato.
O desenvolvimento e prática da Intolerância Religiosa em Sergipe atingem marcos cada vez mais perverso estimulado pela ausência de punição. A impunidade é marca constante das Violações dos nossos Direitos pelos poderes e seus agentes que, sistematicamente violam a Constituição e mantêm o coletivo amordaçado por falta de lideranças capazes de se insurgir contra a ação criminosa do Estado Mercantilista, cada vez mais reducionista, maniqueísta e fascista, cujo interesse é a utilização política partidária dos mecanismos de defesa da minoria, organizados em torno de seus objetivos libertários.
Não há por parte do Estado e do Governo, que se ausentam cada vez mais dos problemas da comunidade negra , em produzir quaisquer instrumentos para coibir as ações criminosas da Intolerância, em vez de Políticas Públicas, se utilizam politicamente das manifestações, criando dificuldades para vender facilidades, beneficiando sempre, os grupos dominantes, a Igreja e os Evangélicos, grupos fortes e dominantes detentores de recursos financeiros e políticos, garantidores de suas reeleições.
As ações da Inquisição, santa ou satânica, estão em plena forma nas imagens praticadas pelo Estado, através dos pentecostais, católicos e seus agentes, policiais, jurídicos,executivos, e judiciários que diuturnamente praticam suas cotas criminosas contra o coletivo religioso, negro.
A instituição do Racismo Institucional, vem ao longo dos séculos, produzindo suas vítimas. Dois exemplos vale ressaltar o Interventor Maynard, que passou sua gestão perseguindo os religiosos de matriz africana , tendo a Policia como seu braço armado e instrumento torturador e o Governador Leandro Maciel, que através sua influência pessoal (não recordo a existência de qualquer Decreto Lei, ou Portaria), tirou a religião Orixá da chancela da Policia e liberou a sua organização através de Federações.
Fazendo um recorte a nossa história recente de repressão religiosa, estamos nos domínios do Governo Petista do governador Deda e nada foi feito para o respeito aos Direitos Humanos, pois há mais de 60 anos que o Brasil assinou a Carta dos Direitos Humanos, reconhecendo a liberdade religiosa e, no entanto os agentes dos poderes de Sergipe, associados aos evangélicos e católicos, continuam a persegui os adeptos da religião de matriz africana.
Continuam discriminando os negros e, debalde as ações propagadas pelo governo central, em Sergipe nada é colocado em prática.
O Governador Marcelo Deda, reduziu o Movimento Negro Sergipano a reprodutor das palavras de ordens do Partido dos Trabalhadores e seus contingentes em agentes de defesa do governador, cujo objetivo é destruir e desacreditar todas e quaisquer manifestações e criticas ao governo e brindar o governador. Partidarizou o Movimento Negro Sergipano.
Seus companheiros de partido, nos espaços de poder, se apropriaram do “modelo baiano” e dividiram entre si, os Terreiros de Candomblés, cujos Pais e Mães de Santos, imprimem suas ordens.
A mesma coisa, esta acontecendo com as entidades, grupos e ONGs negras, com destaques para as associações quilombolas. Estão divididas entres seus políticos: Deputados, Vereadores, Secretários, Prefeitos, e do próprio governador. Em suma, fora do partido, não há movimento social, pois há em voga a utilização política e partidária do movimento negro, seja religioso ou quilombola e fora do seu domínio não há como existir.
A onda de perseguições ao negro em Sergipe, principalmente na prática de promover a miopia dos participantes (todos empregados nos espaços de poder), e, nesta miopia, a comunidade negra, fica a deriva, sem conteúdo da cultura negra na educação, sem segurança, sem emprego, sem saúde, enfim, sem nada, pois não há canal de comunicação, a mídia não dar espaços para criticas ao governador Deda e a reivindicações da comunidade negra, só tem direitos a mídia, uns poucos negros e negras da confiança dos agentes do governador. Os capitães do mato do apartheid governamental.
O negro, antigo militante, filiado as suas entidades e ONGs, hoje, transformados em “Negros de Alugueis”, jogados uns contra outros, para satisfação dos seus chefes. Essa Milícia Negra, é a vergonha do Coletivo, são uns abestalhados, analfabetos que, em vez de contribuir com a Resistência, se transforma em aríete, para destruir seus antigos companheiros, a comunidade negra, para agradar os idiotas do quanto pior melhor. Esse é o modelo sergipano, das ações afirmativas do governo federal em relação a comunidade negra.
É a kota de marginalização do negro sergipano engendrada pelo governador petista, numa aplicação da Síndrome de Estocolmo, onde a vítima se apaixona pelo seu agressor. Enquanto isso Sergipe continua sendo, o Estado mais Racista da Federação, com uma população negra, se dizendo branca e discriminando seus iguais. Um Estado Negro, com vergonha de se assumir.
A importância de ser não é ter, mas saber que é.
Sem o aparato do Genoma ou DNAs, partidários, o conceito de raça é uma construção política que não atende aos interesses, fomenta tão somente o ódio que mantém no poder, quem manipula o racismo, a desigualdade e o separatismo no seio da população.
Um Estado negro, sem cultura e com vergonha. Um Estado Negro Eurocentrista, da Casa Grande. Aqui o Negro é o Preto e quanto mais preto, mais discriminados somos. Nossa cultura considerada Baixa e Inferior, é confundida com o Cão com coisa do Diabo, a nossa Religião.
Somos tratados não na filosofia de nossas culturas, mas na filosofia da cultura judaico-cristã, cuja existência do Céu ,Inferno, pecado original determina o julgamento do fato sem as devidas sustentações culturais. O Orum e o Aiyê são identidades diferentes do céu e da terra , na ótica do dominante e para nós Shangô, o patrono da Justiça, nunca foi São Pedro, nem que Nossa Senhora da Conceição seja Oxum. Cada um em seu quadrado. Tupã não é o Senhor da Guerra dos Maias, nem dos Guaranis. É uma divindade do Panteão Indígena brasileiro, apesar da Igreja e dos missionários latifundiários.
A nossa situação seria outra se os Poderes fossem Autônomos e Independentes entre si e, se o Ministério Público Estadual, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados e Ministério Público Federal aqui em Sergipe, tivessem um NUCLEO DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL.
Aí teríamos uma Policia atuante, Delegacias respeitosas e nossos Direitos garantidos pelos agentes dos poderes constituídos, mas enquanto isso, só os pedidos dos Pastores e Padres, são ouvidos e suas ordens cumpridas, pois eles têm o que os políticos querem: Dinheiro, Poder e Domínio através de suas amplas representações nos espaços mais estratégicos do Estado do Governo e do governador, que se ausentam das Questões e Condições do Coletivo Negro Sergipano e perseguem suas lideranças, silenciando seu Arquivo Humano.
A problematização das questões do coletivo negro, principalmente em torno da religião fundamentado nas diversas teorias e práticas das ações filosóficas do dominador dito civilizado, impõe um constante debate em torno da revisão de conceitos e desconstrução do mito bíblico da maldição de Cã.
A Diversidade estar a impor respeito e se impõem nesta reversão da ação globalizada, denunciando os indicadores da intolerância e do desrespeito em constante violação. O Negro na diáspora em suas lutas recorrente, aponta constantemente os parâmetros do seu universo cultural e na pontualidade de suas manifestações coletivas e individualizadas num amplo quadro personalizado em suas áreas territoriais e espaciais e luta por Respeito à Diversidade.
Do ponto de vista da Unidade na Diversidade, é importante delinear o percurso responsável pela fundamentação desta tradição racista que ainda institui posições conservadoras que fazem do passado , referencia para atitudes posteriores, sem contudo respeitar os traços dinâmicos que a tradição apresenta quando as perspectivas de negá-la ou reinterpretá-la a situam como fonte de mudanças que apontam em direção futura.
Como contribuição ao evento, apresento a esta Assembléia a nossa proposta de Ação Afirmativa e Compensatória, que depois de aprovada deverá ser encaminhada ao Gabinete do Governador do Estado.
PROPOSTA.
Considerando o manifesto referendado na exposição, ante a plenária do Novembro Negro, assinalamos que:
É importante que o Estado de Sergipe, crie organismos e representações operacionais e funcionais para tratar das Questões e Condições do Coletivo Negro, para não se tornar um Estado Etnocida , detentor das práticas eugenista de limpeza étnico racial e,
Diante do exposto, aprovamos a Proposta alinhada, para que o governador promova em regime de urgência as seguintes ações:
1- Introdução da Cultura Negra e Indígena em toda extensão da grade de educação e dos Concursos no Estado em 30 dias.
2- Que seja instituída, representação da Comunidade Negra em todos os Conselhos Público do Estado.
3- Que o Estado financie todas as manifestações da comunidade negra em seu território.
4- Que seja declarada Área Remanescente de Antigos Quilombos, e Patrimônio Histórico Estadual a área de ANGICO.
5- Que seja criado nas Secretarias de Cultura – Saúde – Educação – Justiça – Segurança e Administração, um Departamento de Assuntos Afro.
6- Que seja instituída no Ministério Público Estadual e Defensoria Pública Estadual, um Núcleo de Combate ao Racismo Institucional.
7- Que seja criado na Policia Militar uma Divisão de Combate ao Racismo. Para atender a comunidade e promover treinamentos a tropa, Policiais Civis e Delegados.
8- Que o Estado ofereça aos professores, curso de Filosofia da Educação e Línguas Africana em convênio com a Universidade Federal de Sergipe, através do Departamento de Filosofia e Universidade Federal da Bahia, através do CEAO.
9- Que a Secretaria de Comunicações, libere espaços na mídia para o Coletivo Negro se expressar, através dos seus representantes, e paute espaço diário na TV-Aperipê e Radio AM, para programação cultural e noticiosa da comunidade negra.
10- Que a Secretaria de Educação emita CERTIFICAÇÃO ESPECIAL DE ISENÇÃO a todos concludentes do ensino médio, para que possam ter acessos a todos os Concursos no território sergipano, sem o constrangimento de Atestado de Pobreza, adquirido nas Delegacias Policiais.
“Para que Ninguém seja perseguido e discriminado.
É necessário que o “Poder detenha o próprio Poder”
Antonio Pereira Rebouças.
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