quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ENTREVISTA DADA PARA SITE DO AMIGO - DUCK - O MAIOR INTERPRETE DA CULTURA SERGIPANA




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ENTREVISTA COM SEVERO D'ACELINO
Diretor da Casa de Cultura Afro-sergipana

Severo, eu lhe conheci em 1976 quando cheguei a Aracaju, e a minha primeira experiência em palco foi através do GRFACACA, que era um grupo de teatro que você tinha, onde eu fiz meu primeiro experimento em palco como ator, depois eu fui pra música. De lá para cá, o que mudou em Severo?

De lá pra cá não mudou nada, continua a mesma coisa, o Severo é o mesmo, o Grfacaca, hoje, completa a Casa de Cultura, né? Porque de 1968 com 1982, 1984 a gente mudou a denominação do Grfacaca para Casa de Cultura, que neste exato ano tá fazendo 40 anos, né? e a sua passagem por aqui foi muito bem aproveitada porque você se tornou um agente multiplicador, não só na forma cênica e dramática do teatro, sobretudo, nas interpretações da música, da cultura popular, onde se descortina a parte maior do aprendizado do ator que é exatamente nos ritos populares, e isso nos envaidece e mostra que o Grfacaca, a Casa de Cultura, continuam viva.

MOVIMENTO NEGRO.

E o negro Severo?

O negro Severo continua frustrado, porque o sonho ainda não foi realizado, né? Existe uma série de frustrações porque a gente luta pra dar dignidade a raça e o coletivo negro, e a cada dia a mais recusa-se a um processo organizacional, a um processo legítimo, recusa-se a ser reconhecido e a se reconhecer. Portanto, o negro hoje continua com a ideologia do branqueamento, o negro quer ser branco, o negro não gosta de negro, principalmente o preto, né? que é o negro de marca. E os negros de origem que são os pardos e mulatos? esses descambam para o outro lado do muro e dizem que são brancos. E nós aqui, ficamos lutando, dando porrada em ponta de faca, mas continuando, porque alguém tem que fazer isso. Em 1930, o pessoal lá em Recife mandou brasa, em 1935 Abdias Nascimento em São Paulo, enfim, tem sempre um doido para continuar com a luta, né? como uma forma ideológica. O movimento negro aqui em Sergipe, estamos presenciando um movimento negro chapa branca, que são as lideranças de aluguéis, as lideranças que abandonam o coletivo em busca de um cargo no governo. Então, tá todo mundo. Uns estão trabalhando para o prefeito e outros para o governador, eu como sou homem de estado, não vou atrás nem de governador, e nem de prefeito, por isso sou excluído.

RELIGIÃO

Qual a sua religião?

A minha religião, é católica apostólica romana, depois católica apostólica brasileira, católica apostólica sergipana, e com a fundamentação no candomblé, né? que é a religião dos orixás, a religião dos meus ancestrais, e daí... o catolicismo tem essa questão da cultura ecumênica, e a gente tá nesse ecumenismo, evidentemente que a gente de vez em quando atropela, né? e tropeça no elemento pragmático do judaico cristão, em pleno candomblé, né? Olha ogum tá de ronda! quem tá chamando é São José! Quer dizer: tá usando uma forma de resistência, e nessa resistência, nós temos aqui uma cultura de remendo, uma cultura de recriação. Então, eu acredito que o Brasil tem a maior cultura e a mais democrática de todo o universo, porque aqui, todo mundo dá as mãos, exceto uma facção dos evangélicos que tá ganhando dinheiro com o candomblé, ao mesmo tempo em que diz que o candomblé é coisa do cão. Só que eles esquecem que no candomblé não existe nem céu, nem inferno, e nem pecado original.

E o candomblé em Sergipe?

O candomblé em Sergipe é fascinante, é fascinante multifacetado, né? e dentro desse processo, a gente vê que nós não temos identidade. O candomblé em Sergipe é como as relações raciais, o negro não quer ser negro, e o pessoal do candomblé, não quer dizer que é do candomblé. Dificilmente você identifica uma pessoa do candomblé na rua, porque quando eles saem, deixa os dologuns em casa, esconde tudo, vivendo o candomblé, hoje, como se fosse no século XVIII, ás escondidas. E os ritos? e as raízes? O axé do candomblé de Sergipe, já não existe, está na superfície. Quem começou no nagô, que é a raiz do candomblé, que foi associado também ao toré dos índios, que seria a homenagem dos ancestrais negros aos índios, porque eram amigos virtuais. Depois do toré foi introduzida a angola, e na angola já começou a praticar o feitorio, mas ainda muito distante, e da angola se passaram muitos anos, porque quando tinha uma festa num terreiro: se tocava nagô, terminava em toré, e se tocava em angola, terminava em nagô. Porque na hora que tocava pra Nanã, que é o orixá mais forte juntamente com Obaluaê, Oxumarê e Exu, que são do gege, então, na hora que tocava pra Nanã, sai de baixo! porque o preto velho vinha. E aí, o pessoal começou a ir para Bahia, Rio de Janeiro e voltou com essa novidade do keto. Ora, aqui sempre teve keto, na casa da minha avó, Mãe Elisa. O nagô é keto. O orixá dela, Xangô Airá, quando incorporava, era saudado em keto, só que era o keto de mão, não era com as varetas não, e todo rito de Xangô, de Nanã, de Yemanjá, que eram os orixás da cabeça da minha avó, tinha todo um rito diferente e em qualquer terreiro que ela chegasse aqui, ou minha irmã Nair, o pessoal tocava de mão, havia um respeito enorme!

E em que época se deu isso?

Não muito distante, há uns trinta ou quarenta anos atrás, nos anos cinqüenta, porque minha avó ainda estava aqui em Sergipe, depois ela foi pro Rio de Janeiro, e aí, depois começou as introduções carnavalescas trazidas do candomblé do Rio de Janeiro, que não influiu na alegoria o candomblé da Bahia, tá entendendo? O candomblé da Bahia não se inclinou a coreografia, as lantejoulas e nem os paetês carnavalesco do Rio de janeiro que aqui chegou com Marizete, Zé de Abacossô, né? Lá no Rio de Janeiro, Zé de Abacossô ara o rei do candomblé.

E Lê nesse contexto?

Lê não foi pego por esse vírus do carnavalesco, não, dessa coreografia, dessa indumentária carnavalesca que veio do Rio de Janeiro, não. Lê não, Lê foi o mais importante Babalorixá de Sergipe, porque ele estava junto com os padres, junto com os protestantes, junto com os empresários, junto com os políticos. Lê era um factótum... se tinha um seminário, Lê estava lá; Se tinha um batizado, Lê estava lá; Lê é a referência. Todos os pais e mães de santo de Sergipe deveriam se espelhar em Lê. Graças a Deus, a parte social de Marizete está aflorando e ela está muito mais diplomática, faz gosto você conversar com ela, você olha nos olhos dela e vê aquele brilho, dá uma paz, você sente a verdade, você se sente a vontade, é um privilégio conversar com ela.

E o Vale do Cotinguiba?

O Vale do Cotinguiba deu-se mais as Loxas, Maria Pelágio, que era a grande Loxa daqui, e que levou o Nagô para Sergipe todo. Olha, eu fui num congresso na Bahia, no SECNEB, e tive que apresentar alguma particularidade do candomblé de Sergipe, então, eu invoquei o velho, tocando nagô, tocando para Obaluaê, e foi um delírio lá no Ilê Axé Opô Afonjá. E mestre Didi, que é o Alapilim dos egunguns com outros da comunidades, me ajudaram a tocar, e eu fiquei tão emocionado, que comecei a chorar. Eu me lembro bem que era: Olorum aê, Olorum aê, comassi lodê, aê totô! E o pessoal da casa dos egunguns começou a responder e a tocar, porque o ritmo é parecido com o do egungun, com xambá de Pernambuco, com o jongo do Rio de janeiro e com os tambores de mina do Maranhão. Eu sou apaixonado pelo preto, pelo negro e pela cultura negra.

O POETA

Agora eu queria que você falasse sobre o poeta Severo.
Ah! Meu Deus do céu! A poesia! Meu filho, quando a gente nasce é como... Deixe eu plagiar aqui da Bahia, “O baiano quando nasce, já nasce estrela”, né? De sorte que, quando o negro nasce, já nasce poeta, porque as melhores poesias, as melhores obras de literatura, vem da literatura oral, são os orikis dos orixás, os orikis das famílias, são os cânticos de trabalho, são os cânticos dos terreiros de candomblé, são os contos, aquelas histórias que as nossas avós contavam, as que as pretas velhas contavam para os meninos brancos, tá entendendo? só que a literatura dos negros, nunca foi valorizada aqui no Brasil, porque o negro, o negro preto, ou o pardo, ou o mulato, quando estava muito notório, ele nunca escrevia sobre o negro. Cruz e Souza, em Santa Catarina, na peça do desterro, só veio escrever sobre o negro enquanto negro, nos últimos dias de vida dele, quando já tava tuberculoso, pra morrer, tá entendendo? porque o negro escreve muito ligado a Arcádia, para o erudito, a cultura negra não é erudita porque nós somos populares, você chega pro Babalaô, ele está lá. O preto velho quando incorpora e tira as loas dele, que tira os pontos, que ensina como você deve fazer, aquilo ali é uma literatura. Só que literatura oral no Brasil, não tem o menor valor, em Sergipe principalmente, porque em São Paulo, na USP, você pode defender uma tese tendo como referencial a literatura oral, aqui na UFS você não consegue porque os professores desqualificam o seu trabalho, porque não tem referencial acadêmico. Então, a minha poesia, é a poesia do sentimento, é a poesia que eu aprendi na minha vivência. Não aprendi na escola, não aprendi nos livros. Minha poesia não tem rima, minha poesia tem emoção, porque escrevo com o coração, sem métrica e sem divisão. É como estou falando, no ritmo das minhas danças, dos meus rituais, se redescobrindo através do olhar do outro, e esse olhar é poesia.

Já que estamos nesse viés, como você vê a implementação da lei 10639/2003, que torna obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-brasileira nos currículos escolares?

Veja bem, eu, na época, enquanto entidade e pessoa física, briguei. Começamos aqui a luta no conselho estadual de educação, e no conselho estadual de cultura, para introdução da cultura negra, isso nos anos sessenta, que teve a primeira vitória em 1986, onde na oportunidade quem era o presidente do conselho estadual de educação, era o professor Cleovansóstene Souza de Aguiar, que era um cara arretado. Ele reconheceu que era importante, e a nível nacional, não tinha nada disso. Em 1999, nós conseguimos uma outra vitória, quando enviamos um processo para a assembléia, através da deputada Suzana Azevedo, no governo de Albano Franco, e que foi aprovado a introdução da cultura negra no ensino do primeiro e segundo graus, foi aprovado também, o reconhecimento de João Mulungu como herói negro sergipano, porque antes, era só de Aracaju e de Laranjeiras, e também foi aprovado a introdução do conteúdo do negro e do índio em todos os concursos públicos de Sergipe, e que até hoje não foi obedecido pelo ministério público, nem pela universidade, e nem também pelo Estado.

COTAS

E as cotas?

As cotas é uma aberração. Eu respeito Lula por ter feito essa introdução a nível nacional, para que o negro tivesse a oportunidade de ser visto nas grades curriculares, eu aceito isso e bato palmas pra ele, se bem que não foi uma lei, foi um arranjo que ele fez da LDB, porque isso já existia, mas depois que ele insistiu com esse negócio de cotas e a obrigatoriedade da cultura negra nos currículos escolares, que não foi à frente, porque até hoje a Universidade Federal de Sergipe, em nenhum concurso entra o conteúdo de cultura negra. Aí ele fica com esse jogo de marketing, de cota. Isso é uma aberração, um desrespeito ao negro, ao coletivo negro do Brasil. Então, é necessário que alguém diga bem alto e de bom som que Lula pare com isso, porque é um desrespeito. É mostrar exatamente que o Estado oficial, é racista. Porque isso mostra o lado obscuro, para cristalizar que o negro é burro, porque nós sabemos que o negro não é burro e que não tem capacidade de entrar na universidade por mérito, e aí, vamos abrir uma janelinha, uma cota para a negrada. Isso é uma esculhambação. Eu e a Casa de Cultua não concordamos, por isso somos exilados, execrados pelo movimento negro petista. Por isso, estamos entrando com um processo contra a Universidade Federal de Sergipe, para que ela coloque na grade do vestibular dela 20% da cultura indígena, 25% da cultura negra em todas as matérias das humanas. No Brasil oficial, só se fala da cultura do branco, o negro não tem consciência negra, o negro nasce com consciência branca desde quando é batizado. Quando você vai registrar seu filho com nome africano, eles dizem que com esse nome não pode ser registrado, porque a criança quando crescer, vai ficar com vergonha, tem que ser um nome cristão. Se for homem, é José, Severino, Maria... Os japoneses podem colocar nomes étnicos nos seus filhos, mas os brasileiros não podem, por isso o Brasil é um país de ideologia fascista e racista, cristalizando essa cultura européia.

O CIDADÃO

O cidadão severo, como ele olha pro mundo?

Eu olho pro mundo com muito respeito, e vou tirando lições do que vejo.
Severo, com relação a sergipanidade, a questão do sergipano não ter vergonha de assumir seus valores culturais, a questão de que tem que vir de fora pra ser bom, a questão dos nossos políticos não terem um olhar sergipano pras coisas de Sergipe, pra cultura sergipana, você tem essa mesma impressão?

É uma questão de identidade. Jackson da Silva Lima, inclusive eu tenho o maior respeito a ele, a história da literatura sergipana tá na cabeça de Jackson da Silva Lima, dentre outros. Em um dos trabalhos de Jackson da Silva Lima, ele escreve lá, e diz o seguinte: "sergipano não é somente aquele que nasceu em Sergipe, mas aquele que vive Sergipe". Por isso, muitos desses políticos e muitos desses que não se reconhecem como sergipanos, é porque não vivem Sergipe. A sergipanidade que foi fundamentada por Silvio Romero e que a trancos e barrancos está sendo carregada por Luís Antônio Barreto.

Silvio Romero foi contemporâneo de Nina Rodrigues...
Sim! Mas ele não aderiu a Nina Rodrigues, ele foi crítico de Nina Rodrigues em muitas coisas, e que também fez besteiras por ter introduzido o arianismo mesmo que não tenha prosperado, mas não é por isso que vou desrespeitar Silvio Romero e Nina Rodrigues.

Claro! Até porque a contribuição de Nina Rodrigues na catalogação dos povos africanos no Brasil foi fantástica.
E também desrespeitar Gilberto Freire com “Casa Grande e Senzala” porque ideologicamente os negros do PT são contra.

Severo, desde 1976 quando eu lhe conheci, e que também foi o ano que vim morar em Aracaju vindo lá da beira do rio, de Neópolis, e de lá pra cá eu venho, desde então, acompanhando sua luta, e uma coisa sempre me chamou a atenção, que é o fato de você está sempre construindo, é o espírito joão de barro construindo seu patrimônio cultural?

(sorrir) Meus ancestrais foram escravizados aqui no Vale do Cotinguiba e a cultura que foi trazida há mais de quinhentos anos, né? porque eu sou uma pessoa que tem mais de quinhentos anos de cultura, né? e que vem de uma família tradicional; mas existe essa coisa de estar fazendo sempre algo. Qual foi o governo? e qual será o governo? com exceção da Bahia, de Recife, de São Luís do Maranhão, que transformaram antigas cadeias públicas em espaço cultural para os negros? de antigos locais de venda de escravos, em lugares pra negro? Em São Luís do Maranhão, o mercado antigo é espaço cultural para a comunidade negra. Em Sergipe, qual o governo? Qual o prefeito que vai se atrever a fazer alguma coisa pra negro? Se o negro tiver correndo na rua fazendo exercício pra baixar o colesterol, é preso, porque negro correndo na rua é ladrão. O governo aqui, não tem a menor capacidade e sensibilidade para fazer cultura porque eles não mantém sequer o patrimônio da cultura do Estado, a cultura oficial. Eles preferem contratar o que vem de fora pagando uma fortuna, ao invés de promover essa construção aqui, tá entendendo? Se a própria Secretaria de Cultura é um lixo, desprezada por todos os governadores que se sucederam. Desde Augusto Franco que a Secretaria de Cultura não é nada, porque eles pensam que cultura é agricultura, se não der dinheiro e voto, não tem valor. Por quê eles não se atrevem a colocar 5% dos recursos do Estado pra cultura?
Eu acho que os empresários precisam ter essa visão moderna, que é investir na cultura para conceituar o seu produto.
Eles têm. Só que eles só são estimulados pelo governo, pra dar dinheiro pra político fazer campanha eleitoral.

ÍDOLOS

E Chico Rei?

Chico rei, é uma referência do socialismo no Brasil. Esses partidos ditos de esquerda, deveriam se espelhar no trabalho de Chico Rei.

E o filme?

O filme foi um filme fantástico, e continua sendo. Me levou as paradas nos Estados Unidos onde a revista Variaty me considerou, dentre os negros atuantes no mundo, como o terceiro ator mais importante daquela fase, só que eu não me considero ator, porque como poeta, eu sou intuitivo, eu atuo por emoção, se a cena for pífia, ou eu não faço ou mando cortar, porque quando eu faço, eu boto pra quebrar. Os diretores que eu tenho trabalhado sabem que eu não sou um ator técnico, eu sou um ator de intuição, eu boto minha emoção no personagem. Eu fiz Chico Rei, fiz Candelário e fiz outro que não tô me lembrando que foi aquele que fez o guarda-costas de Getúlio Vargas... esqueci. Em Tereza Batista, eu me inspirei naquele negro que fez o guarda-costas de Getúlio Vargas, em Espelho D'água, me inspirei em Ciro Gomes, estudei as macacaquiações de Bezerra e de João Alves, juntei com as expressões de Seu Antônio, que é o verdadeiro defensor do São Francisco, e mandei brasa.

Zumbi?

Não tem palavras! O herói das três Américas, o camarada veio da África pra mostrar o estrago que veio fazer aqui. Implantou o socialismo com Chico Rei, Luísa Marrim... e vou dizer uma coisa: Zumbi peitou Gangazumba e mostrou que Palmares não podia parar, e aquele desgraçado de Antônio Soares que vendeu Zumbi por trinta moedas, porque os traidores estão no nosso próprio grupo, porque quem trai são os amigos. Então, Antônio Soares acabou com o sonho de liberdade do negro, que arrombou com Zumbi. A polícia chegou lá e meteu bala em zumbi e depois espetou a cabeça dele, e o resto do corpo espalhou por aí, como era praxe da época. E assim fez também com Tiradentes e com tantos outros.

CASA DE CULTURA

E antes da gente encerrar, eu gostaria de saber quantos anos você tem?
Eu vou fazer sessenta anos precisamente no dia 03 de outubro, que era um grandioso dia que o Brasil tinha, quando se elegia o presidente, hoje não, são acordozinhos.
O cidadão severo mora só já faz algum tempo, como é esse mundo aqui dentro? Você se trancou pra transformar a casa de cultura em um lugar onde as pessoas possam vir aqui pra beber o que você tem pra dar? como é esse mundo solitário de Severo?
Veja bem, eu sou uma pessoa muito emotiva, uma pessoa muito carente, muito, muito, muito necessitada e essa minha introspecção, essa volta ao casulo, é o retorno ao ventre da minha mãe, porque a gente se sente mais seguro no ventre materno, então, é o casulo, é o retorno ao útero materno e sai mais revigorado. Existe o orixá Obaluaê que vive encapuzado e nem todas as pessoas vêem o rosto do velho, a não ser quando Iansã sopra uma ventania e tira o capuz dele, né? Tem esse arquétipo, mas também tem a frustração.

Você é uma pessoa solitária?

Não. Eu sou uma pessoa solitária porque sinto necessidade da solidão. A solidão é uma forma de me ver, a solidão é um sinônimo de loucura, quando eu começo a falar com a televisão, é porque Severo não tá bem, aí eu saio, leio um livro...
E o que Severo tem a dizer pro mundo?
Olha, é complicado. Eu quero dizer ao mundo que Sergipe tem a maior população negra proporcional do Brasil, com um percentual de 87% de negros, e que venha a Sergipe, porque Sergipe é bom demais. É difícil ser negro no Brasil, mas ser negro é bom demais. Sergipe é o núcleo da inteligência Brasileira. Um abraço.
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