segunda-feira, 23 de junho de 2008
A GUERREIRA DO AMANHECER
MARIA EMILIA DOS SANTOS
D. BIBI
A guerreira do Amanhecer
Nascida e criada no Aribé em Aracaju no ano de 1927 em 30 de Agosto de Odília Eliza da Conceição e Acelino Severo dos Santos.
A menina irrequieta apelidada de carinhosamente de Bibi, estava sempre ocupada com os afazeres de casa, ajudando a criar seus irmãos e ainda pré-adolescente assumiu a responsabilidade do trabalho na fábrica de tecidos junto com sua irmã Nair.
Suas atividades políticas foi aperfeiçoada na fábrica junto com suas colegas operárias que como ela buscavam soluções para os problemas trabalhistas. Associou-se a JOC, Juventude Operária Católica surgida no seio da Igreja de onde fazia parte nas ações dos grupos.
Pertenceu ao Sagrado Coração de Jesus, foi grande colaboradora das obras da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, sócia do Circulo Operário, contribuiu na construção do cinema Vera Cruz e estava presente em diversos Congressos Eucarístico e Operário, fazendo diversas viagens para fora do Estado na condição de representante. Voava sempre pela PANAIR. Hoje é Estrela na Constelação das Guerreiras do Amanhecer, sempre revitalizando e iluminando caminhos.
Sua vida em torno da família se estreitou mais ainda com o casamento de sua irmã Nair e a compra da Casa da Família, pelo antigo IAPETEC. Nunca descuidou da educação dos seus irmãos, seja na intelectual ou profissional, sua preocupação sempre esteve voltada para o coletivo, onde sua família era a prioridade.
Não se casou, suas ações estavam voltadas para as resoluções das melhorias de sua classe, família e amigos. Teve diversos afilhados, participou ativamente como apôio aos companheiros sindicalistas e políticos “ Comunistas”, mesmo sem nunca ter se filiado a qualquer partido, ajudava e contribuía com todos, desde que a procurasse ou tivessem precisando de ajudas.
Foi assim que durante a linha dura dos militares, auxiliou diversos companheiros, dando-lhes guaridas, servindo de intermediária, escondendo documentos e dando apôio as suas famílias.
Bibi já tinha memória da repressão, pois com quatro anos de idade, já percebia as movimentações na Casa de sua Avó, Mãe Eliza, que fez do seu Terreiro um reduto de proteção aos perseguidos pelo regime repressor do governo Maynard, que perseguia o Candomblé e os Comunistas.
A JOC não era bem vista pela classe política e era em determinado momento, considerada subversiva. Foi neste clima que viveu MARIA EMILIA DOS SANTOS, uma mulher extrovertida, amiga, acolhedora, ríspida, intolerante, dominadora, meiga, autoritária, chorona, empreendedora. Uma Mulher capaz de se excluir para incluir os outros. Sempre lutou por melhorias e suas atividades sociais estavam sempre, agregadas as atividades políticas, as políticas de sua reflexão.
Contribuiu com diversas associações, fundou e ajudou fundar outras tantas e contribuía inclusive com mensalidades.
Aposentada da Fábrica, não descansou um só minuto, fazia de suas amizades e conhecimentos, instrumentos pedagógico para o desenvolvimento da comunidade, seja arranjando emprego, encaminhando aos estudos, conseguindo apôio para famílias necessitadas, denunciando as condições da comunidade, criticando políticos, profissionais, agentes comunitários e outras lideranças por entender lesivas ou invasivas a comunidade.
Foi a grande incentivadora do seu irmão mais novo. Severo D’Acelino a quem chamava José. Foi Pai, Mãe, Critica Orientadora. Desde cedo o encaminhou a comunidade educacional e sempre o estimulou através dos seus exemplos a ações multiplicadoras. Foi sua crítica ferrenha. Incentivava o Teatro, as Tradições Populares e fundamentava as manifestações da Cultura Negra, criticando o modelo do Movimento Negro e suas relações com os demais participantes.
Estava sempre atenta a mídia, e qualquer movimento cultural Ajudou na sua formação intelectual, artística, militar etc. e contribuiu
com espaços a construção do Movimento Negro em Sergipe através do Grupo Regional de Folclore e Artes Cênica Amadorista “Castro Alves”, a atual Casa de Cultura Afro Sergipana, acompanhando todas as suas ações, fazendo inclusive por três gestões, parte da sua Diretoria.
Na área da educação e saúde e ação social, muito contribuiu, assumindo inclusive a manutenção da Escola Comunitária que manteve por muito tempo em sua residência e que por lá passaram centenas de alunos da Prainha do Santos Dumont.
Manteve até a sua morte, estreita relação com a Igreja e seus membros, adotando a Igreja de São Francisco como a sua Paróquia em substituição a Nossa Senhora de Lourdes do Bairro Siqueira Campos, onde muito contribuiu, mas que com sua mudança para o Santos Dumont, após a sua aposentadoria e para tomar conta do seu Pai, adotou o Animpum como a sua prioridade.
Construindo ações alternativas para a melhoria da Comunidade. Uma das suas ações foi a sugestão de compra pela Prefeitura do terreno ao lado de sua casa, para promover atendimentos a comunidade e como a primeira Dama era de suas relações, o ato foi consumado e convidada a prestar serviços ao município na área social, tornou-se funcionária pública e mais cômoda para prestar serviços a comunidade.
Ultimamente, dizimista da Igreja, estava sempre ocupando as ondas da Rádio Cultura, criticando, batendo papo com os seus amigos locutores, dando informes sobre as questões gerais e especificas da comunidade e, como Amiga do ALANON, estava sempre participando das reuniões. A sua participação na Rádio, notabilizou pelo jargão “Boa Noite, Boa Tarde ou Bom Dia Santos Dumont!!!”
Não posso enumerar as ações em torno de Dona EMILIA. Dona BIBI, a quem carinhosamente a chamava de FILHA e tive a infelicidade de estar ausente na sua partida. Meu coração já não bate com tanta freqüência. Minha Irmã, Minha Irmãe, Minha Filha, a que tanto amo, e lutamos juntos contra as ações invasivas de suas doenças, tardiamente diagnosticadas e, em 31 de Janeiro de 2007 a pouco mais de três horas da tarde, a menina irrequieta, chamando pelo seu irmão, que tardiamente chegava, serenamente deu seu ultimo suspiro e olhar sereno, cerrado por ele ascendia o firmamento, iluminada, transformada em mais uma Estrela, na Constelação dos Ancestrais.
O momento de Tributo é fugaz, trazem-nos imagens tênue, distorcidas, claras, escuras, mais nítidas de toda uma vida. De toda uma memória.
“Eu fui para Deus e não
esquecerei daqueles que amei
consolai Senhor, os que sofrem
com a minha morte, por que foi
grande a minha agonia.
Maior é a minha alegria na
Imensa gloria do Senhor.
Uma lágrima, uma dor, uma
Saudade deixei no coração de
todos que me conheceram e me
amaram. Mas, se o Senhor assim
quis, seja feita a sua Santíssima
vontade”
Bibi, o chamado nos deixou triste e
inconsoláveis, mais assim como Deus
a chamou para perto de si,
certamente nos confortará dando o
fortalecimento e a convicção de que
Você, apenas Nasceu para a Vida
Eterna.
DE QUEM É O TERREIRO
De quem é o Terreiro?
Dos sacerdotes? Seus parentes ou da Irmandade?
O Terreiro em Questão
Severo D’Acelino
Sou da Casa de Xangô Aiyrá, da Iyalorisha Mãe Eliza, seu neto sanguíneo e “Deixa”. Nas minhas memórias, alcancei o Terreiro já no alto da Suissa Braba em Aracaju, era de esquina e tinha um grande terreno que abrigava duas Casas, o Terreiro e mais uma edificação nos fundos, onde morava o pessoal agregado.
O Terreiro maior que conhecia era o de Alexandre em Laranjeiras, onde minha Avó freqüentava, parece que era o único que ela ia, lá ás festas seguiam até um mês inteiro.
Certa vez fui surpreendido com a noticia de que minha Avó, ia para o Rio de Janeiro e o Terreiro foi fechado, ela levou todos os assentamentos, e plantou o Axé lá na Ilha da Conceição em Niterói.
Hoje este Axé está comigo, foi plantado no Santos Dumont, após ser enviado de lá por falecimento de minha Avó e de Bebé e Benício, respectivamente sua filha adotiva e o marido dela. Está no Iyle Ashe Opô Aiyrá – Comunidade Oni-Odé Olubojutô. Sou Deixa de minha Avó.
Não tenho lembranças de quem ficou no local, só sei é que tempos depois o morro foi derrubado e se apropriaram das terras dela. Ato que a Prefeitura até então não resolveu.
Não entendi como um Terreiro podia mudar de lugar. Anos depois fiquei sabendo que o Terreiro de Zé de Abakossô, localizado na Baixa Fria, hoje Avenida Rio de Janeiro, foi vendido e ele transferiu tudo para o Rio de Janeiro.
Achei estranho, tanto minha Avó quanto Zé de Abakossô mim surpreenderam, pensei que tinha que ficar algum filho ou filha de santo no lugar, dando prosseguimento aos atos litúrgicos e não entendia como era possível vender um Terreiro.
Eu já tinha conhecimento de fechamento de Terreiros,, não os da repressão pela policia, mas por morte dos Pais de Santos e sabido dos filhos de santos irem para outros Terreiros.
Na minha cabeça os Terreiros podiam até mudar de lugar, mas acabar, nunca. Em Laranjeiras Alexandre tinha o Terreiro e eu tinha conhecimento que o Terreiro era do Orixá (o dono era o Santo).
O Terreiro era num sítio grande e tinha uma Casa, onde abrigava os Santos e o pessoal, em tempo de festas grande se fazia um Caramanchão ao lado. Ele morava lá, mas tinha sua casa em Aracaju, no Siqueira Campos e lá em Laranjeiras sempre ficava alguém.
Quando ele morreu, houve uma parada, mas continuou com Tia Alira de Oiya que após seu falecimento ficou a cargo de Cecilinha e com seu falecimento a família que já vinha querendo dividir em herança conflituou e como eu andava fazendo levantamento da herança cultural do Terreiro.
Iniciei o processo de tombamento para preservar o Patrimônio Histórico Cultural do mais antigo Terreiro de Sergipe e fui violentamente atacado, agredido e vilipendiado pela família, ainda hoje guardo as imagens das agressões, da família e dos intelectuais contrários a memória do patrimonial negro e foi por isso que não fui a luta para reaver as terras do Terreiro de minha Avó, o medo de ser confundido e ser chamado de interesseiro e ladrão.
Ficou Umbelina com o Terreiro Santa Bárbara Virgem, com a sua morte, o Terreiro e a Irmandade ficou sob a responsabilidade de um grupo, liderado pela Mestra Alaíde que orientava D. Lourdes para o exercício da Sucessão afim de garantir a decisão da Antiga Lôxa e das Entidades. Por fim D. Lourdes é a mais nova Lôxa do Terreiro, a sucessora de Umbelina, mantendo os cincos Terreiros da Irmandade além das Taieiras. Com a sua morte, houve conflito e finalmente a sua filha de criação Bárbara, foi tutelada e assumiu a administração do Terreiro, da Irmandade e das Taieiras, até a saída de alguns insatisfeitos.
Zé de Abakossô, anos depois retorna a Sergipe, mesmo mantendo Terreiro no Rio de Janeiro, replantou Axé em São Cristóvão, onde edificou outro Terreiro, consagrado ao seu Orixá OXOSSE, reafirmando sua matriz. Após seu falecimento, o “herdeiro” já anunciado (parece ser parente), assumiu o Terreiro, sem grandes traumas e sem grande aceitação.
Outros Terreiros, já contam com seus “herdeiros” nominados e visto com indiferença pelos grupos que preferem silenciar antes a decisão seletiva dos Pais e Mães de Santos em impor seus parentes no comando do Terreiro. Poucos foram os sucessores, identificados pelos jogos divinatórios e ou indicados pós morte dos Pais de Santos, num ritual de sucessão. Só há noticias de “Herdeiros” cujos graus de parentesco, evidenciam a relação nuclear.
O silencio da irmandade e ou grupo, denuncia as imposições dos Sacerdotes e seus interesses de manter o Terreiro no seio da família e são poucos e muito poucos os que contam com as aprovações da maioria ou que busquem firmar relações que lhes garantam a sucessão pacifica, solidária e reconhecida.
Para muitos a hierarquia deveria seguir o seu curso, por diversas razões, ficando, portanto, na falta do primeiro, o segundo da linha, que seria por idade e ou por função, no caso, na falta do Pai de Santo, assumiria a Mãe Pequena e ou o Pai Pequeno e assim sucessivamente, dependendo da aceitação dos envolvidos e, só depois de certo período, a confirmação dos Orixás, assumindo definitivamente o / a eleita dos Deuses.
A falta de coesão e de entendimento repele a afirmação de identidade, disciplina, liderança, compromisso e organização, prejudicando o crescimento e fortalecimento da comunidade de Terreiro.
Aos “herdeiros” os estigmas das Chefias, os autoritarismos centralizados e dispersões dos grupos. Fazem ações personalistas, autoritárias e sem articulações, certos dos seus poderes e de suas autoridades.
Os Sucessores, os reconhecimentos, a coesão, disciplinas, solidariedades, compromissos, relações diplomática e democrática, sob o signo da liderança, respeito e cooperação, mesmo que não tenham os conhecimentos básicos dos cargos e funções. Fazem ações conjuntas e participativas. São articulados.
Aos “herdeiros” declarados, os parentes dos Pais e Mães de Santos, deveriam logo após a declaratória pública, serem imediatamente iniciados nas práticas do cargo e das funções dos Terreiros, assumindo e dividindo alternadamente a direção dos rituais e gestões administrativas dos Terreiros com os Pais e Mães afim de se firmarem antes as Irmandades em busca de reconhecimento.
Desta forma não haverá grandes conflitos, pois já foram testados e os grupos já estão acostumados com suas ações, conhecendo suas tendências e filosofias.
Sempre pensei e ainda penso que o Terreiro era e é do Orixá, um Templo Espiritual edificado e ou plantado em homenagem ao Orixá, administrado pelo seu Sacerdote / Sacerdotisa sem o embargo da materialidade dos parentes, o Terreiro é um Patrimônio dos seus seguidores e não da família do Sacerdote ou Pai de Santo ou Zelador.
Na falta destes, mantido pelos filhos ou filhas, conforme as indicações, seja da irmandade ou do Orixá Patrono através de sinais, seja: sonhos, jogos divinatórios e ou manifestação pública do Orixá indicando a sucessão do Pai de Santo, Zelador, Sacerdote.
Nunca pensei um Terreiro como herança patrimonial da família e de parentes dos Pais de Santos e sim como Herança de um Axé D’Orixá pertencente a Comunidade do Terreiro ou seja Irmandade, independente da sucessão espiritual recair sobre um parente.
Penso que a alternância do Poder Espiritual não está no prédio do Terreiro, mas é fortalecido principalmente nele, que emanam os fluidos energéticos onde estão plantados os diversos Axés e impregnado das energias dos diversos rituais.
Penso um Terreiro onde seus adeptos contribuam sistematicamente para a sua manutenção e crescimento, preservando o todo sem problema de continuidade.
Onde além dos espaços sagrados, tenha edificados os espaços domésticos e sociais, para abrigar os filhos, filhas, agregados e freqüentadores que venham em busca de tratamentos espirituais.
Penso um Terreiro que tenha seus espaços, mais o espaço do Pai de Santo, Babalorisha, Iyalorisha ou Mãe de Santo, independente deles teres suas residências, e devem ter. O espaço no Terreiro deve ser puramente funcional.
Penso a Comunidade de Terreiro, contribuir mensalmente principalmente com o salário do Sacerdote, Zelador, Sacerdotisa etc., mesmo que estes tenham suas rendas.
Penso o Terreiro como uma empresa, com suas funções organizacionais e administração empresarial, onde seus filhos e filhas de santo, adeptos e simpatizantes, façam parte do conjunto de sócios contribuintes, preservando os ritus, ósseas, obrigações, festejos, oferendas etc.; concomitante as ações sociais e as prestações de serviços.
A manutenção do Terreiro deve ser atribuição dos seus seguidores, adeptos, filhos de santos. Enfim a Irmandade é que deve prover todas as ações e necessidades do Templo e suas manifestações, sejam de ordem material e/ou espiritual.
Penso o Terreiro, remunerando seu pessoal de apôio, onde os ritus não podem ter problemas de continuidade e as suas presencias são imprescindíveis na parte espiritual e na segurança.
Penso que deve haver, sempre e garantida a sucessão, mesmo em vida do Sacerdote. Ele simplesmente pode e deve se aposentar e passar a reger o Conselho Sacerdotal do Terreiro.
O advento de herança, não expressa a continuidade e tem o teor de apropriação, domínio, propriedade, partilha etc. O certo no seio espiritual deve ser sucessão. Herança cheira a materialidade de natureza dispersiva e estática. O Axé deve ser revitalizado e preservado sim, como herança espiritual da ancestralidade do Terreiro.
Penso o Terreiro com sua política espiritual e social definida, com sua estrutura demarcada na temporalidade, organizacional e funcional, com gestões definidas. Neste ponto o viés econômico é importante, para dar suporte aos ritus, daí a necessidade de Regulação explicita, onde as funções se definem em beneficio de todos e defesa do Terreiro e da própria Irmandade.
São importantes, portanto as ações em torno de captação de rendas, onde os recursos oriundos de “contribuições, doações e prestações de serviços” se somem para garantir a continuidade e independência, dando personalidade a Irmandade na defesa da territorialidade.
Cabe, portanto, a Irmandade, envidar esforços para o crescimento e fortalecimento do Patrimônio Material e Imaterial do Terreiro, seja nas aquisições de bens, nas ampliações do território ou dos próprios bens do Terreiro, através de ações afirmativas e inovadoras.
Exemplifico aqui, que, da contribuição de 40 filhos de santo no valor de quinhentos reais, dará para adquirir uma propriedade na zona rural, um sítio, por exemplo, com mais de seis tarefas de terra. Aí é só plantar os Axés e estará caracterizada a ação patrimonial do Terreiro com personalidade da Irmandade, de resto é só se organizar e edificar o Templo do Orixá Patrono do Terreiro e da Irmandade. Aí não terá “herdeiros”, só sucessor.
Historicamente os nossos Terreiros, são nas residências dos Pais e Mães de Santos, onde criam extensa família e mais ainda os agregados. A parte espiritual muitas das vezes se confunde com a doméstica. Seus compartimentos sagrados são violados seguidamente: Camarinha, Pegi, Roncó, Quarto de Exu, Barracão etc. Vez por outra, utilizados como depósitos agregando outras funções: “Guardar televisão, valores, peças, alojamento , encomendas, moveis , refeitório etc.”
E, quando os Pais e Mãe de Santos morrem ou mudam de religião, os filhos sanguíneos acabam com o Terreiro, alegando que precisam dos espaços. Daí, os filhos e filhas de santo, perdem o referencial e reféns da Intransigência dos “herdeiros”, ficam a deriva e ou migram para outros espaços, sujeitos as mesmas reações.
Essa manifestação muita das vezes induz a perda de identidade e leva a outros caminhos. Alguns exemplos têm dado certo grau de unidade, quando alguém do grupo busca agregar todos em outro Terreiro da mesma matriz, mas a relação nem sempre dar certo, daí a migração é certa e mudam até de Orixás e Nações.
Outro Terreiro que se mim afigura como destaque ao tema, é o antigo Terreiro “COSME DAMIÃO”, da Zeladora Maria José das Areias, que foi dos Filhos de Oba em Laranjeiras. A Nação cultuada era Nagô Forte, diferenciado por uma batida e coreografia diferente do Nagô tradicional, esse Nagô ainda resiste no Terreiro de Mariinha, uma das filhas, que seria a sucessora da Zeladora.
O Terreiro de Maria José das Areia se localizava nas “Areias”, antiga localidade de Aracaju, hoje denominada de Castelo Branco. Ali reuniu as mais diversas personalidades da vida sergipana que acorriam aos memoráveis festejos, que como Laranjeiras, duravam semanas.
A área do Terreiro era enorme e cada filho e filhas de santo, tinha ali seu espaço, onde construíam seus barracos, todos eles padronizados, onde poderiam habitar enquanto perduravam as obrigações.
“Com “o falecimento da Zeladora, houve o impacto inicial e depois o conflito de “Propriedade”“ “Fuga de Identidade”, uma das filhas sangüínea foi apontada como sucessora da Zeladora e o estopim eclodiu com uma outra que não era de sangue e houve o famoso” Cisma”, o Terreiro foi fechado por decisão da família, sua área vendida para uma empresa e a dispersão foi geral.
Para agregar os irmãos e irmãs a pretensa sucessora, edificou em sua residência um Terreiro e deu continuidade as ações espirituais da Nação enlutada e seu Terreiro teve outra denominação, encerrando assim as manifestações do Terreiro “ São Cosme e Damião”
Se houvesse coesão, hoje o “Terreiro São Cosme e Damião” estaria em pleno funcionamento, a Irmandade cada vez mais forte e seus Axés preservados. Mas o fantasma dos “herdeiros” extinguiu os esforços e a história da afamada Zeladora, Maria José das Areias e igual a elas tantos outros.
Centenas de Terreiros foram extintos com o falecimento dos seus cabeças, patronos, fundadores, gestores, heróis e heroínas que em vida se devotaram aos Orixás, Caboclos e Entidades do Panteão Africano em Sergipe, os nossos Ancestrais negros e índios.
Podemos nos espelhar nas ações da Religião Judaico-Cristã, uma vez que a nossa religião está também, a ela ligada, seja pela dominação colonialista, seja pela sua repressão e intolerância religiosa, nos obrigando a incorporações diversas de ações cristãs ao nosso ritual, a tão famosa sincretização, onde nossos Orixás eram e são correspondidos aos Santos Católicos, faça referência ao Dízimo e sua importância na socialização da divisão para somação e multiplicação. Garantia de preservação da Religião e da Fé.
O Dízimo, marca a trajetória de retribuições a Deus, no entendimento de uma parte que nos dá, contemplando dimensões quando aplicado os recursos partilhados pela comunidade.
O Dizimo, na dimensão religiosa, deve suprir com recursos, todas as necessidades diretas ou indiretamente ligadas ao culto e aos seus Sacerdotes. Gastos com o Terreiro, construção e manutenção, salário do Pai de Santo e funcionários, encargos, energia elétrica, água, telefone, paramentos litúrgicos, velas, ferramentas, etc.
Na dimensão social, o dízimo deve suprir as necessidades dos irmãos mais carentes da Irmandade.
É importante salientar que o Dízimo é dinheiro, e dinheiro é o que se referenda todas as ações dos nossos rituais. Se paga as folhas, o obé, o chão, os atabaques, o cabelo, em diversos manifestos dos nossos rituais, os jogos divinatórios etc.
Neste sentido, a oferta que se deve fazer a guisa de dízimo é simbólica e importante, uma contribuição a manutenção dos Axés dos nossos Orixás; Inkices; Vodus; Entidade e seus Sacerdotes, os Babalorixás e Iyalorixás, Lôxas Patrões, Zeladores, Tatas, responsáveis pela preservações dos Axés e manifestos aos nossos Ancestrais.
Babá Abaolá
Larôiyê Yiangui
Ogum ê!!! Patakouri
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