domingo, 29 de junho de 2008
INTOLERÂNCIA (I)
Severo D’Acelino
Em reunião recente no Conselho Estadual de Cultura, apresentei Proposta de repúdio a Intolerância Religiosa, tão em voga entre nós, e que tem nos agentes dos três poderes os seus maiores instrumentos.
Na ocasião citei os acontecimentos em duas cidades do nosso Estado: Riachuelo e Estância, onde policiais e promotores públicos no extremo poder de abuso, violaram os Direitos Constitucionais das comunidades, impedindo ritus e cristalizando constrangimentos e discriminações, incitados por membros de outras religiões, no caso a evangélica.
Diante da complexidade, ficou acertado pelo Conselho, a realização de um Seminário para daí, tirar a posição coletiva e encaminha-las aos devidos setores. Este seminário será em Novembro na data da lembrança da Consciência Negra.
Fazendo uma releitura das Questões e Condições do Negro em Sergipe, observo a imobilização do coletivo em tornos das ações raciais, cristalizando o comodismo gerado pela tradição paternalista que sufoca a reflexão destes manifestos que mantem grande parte do coletivo com a mentalidade escrava numa atomização social estimuladora das fugas, dos medos e dos conflitos interraciais.
Se houvesse unidade nas nossas diversidades, certamente não haveria a necessidade de sistemáticas ações invasivas em nossos manifestos, pois a força da identidade e do referendo por si só impediria qualquer tipo de violência nesta ou em qualquer direção. No entanto se observa que ela se encontra dentro do nosso grupo.
Somos nós os negros distribalizados, conseqüentes, recalcados, esbranquiçados e que temos vergonha de nossa raça, etnias, culturas, cor e situação que estigmatizamos, discriminamos e odiamos os nossos iguais, tendo como base a nossa cor, classe, religião, partido e posição nos espaços de poderes esquercendo a história dos nossos Ancestrais, a nossa, e esquercendo para não se lembrar de onde vimos e para onde vamos.
Em Sergipe, fomos e somos: africanos, crioulos, mulatos, pretos, pardos, afros sergipanos, afros descendentes dentre outras tipificações reducionistas da sociologia do poder e seus historiadores amestrados. Cada um se instalando ou cooptado por esta ou aquela religião, agregada ao poder e ou aos senhores que cuidaram de nos dividir para reinar em berço esplendido, construindo a ideologia do branqueamento estimulando as fugas étnicas e o recalque. Isso gerou a discriminação e a intolerância no interior do coletivo negro, onde reproduzimos em nossos iguais os estereótipos e os mesmos comportamentos dos brancos sobre nossa raça.
Somos, a maior população de um Estado Negro, sem Cultura Negra, que sistematicamente pratica o etnocídio sobre nós, com um controle absoluto, se utilizando perversamente dos indicadores da Educação; Saúde e Segurança para nos reduzir ao máximo, evitando a construção de nossa identidade, para que não sonhemos cidadania plena através do conhecimento e identificação dos nossos valores.
Sem educação, vivemos á deriva, sem conhecer ou reconhecer os nossos indicadores históricos, religiosos, artísticos, líderes, filosóficos, tecnológicos, psicológicos, tradicionais, costumes, usos, educacionais, pedagógicos, lingüísticos, jurídicos, sociológicos etc. 86% da população absoluta do território sergipano, excluídos, vilipendiados, discriminados, criminalizados, manietados, marginalizados, estereotipados, banidos, dependentes, sobreviventes que se odeiam e se violenta como moeda corrente para marcar espaço na mobilização e visibilidade do espaço de poder, mesmo tendo que negar a própria filiação.
Neste âmbito de relações equivocadas, temos preconceitos de ter preconceitos e vergonha de sermos negros, agregando a nossa ideologia do recalque e não nos reconhecemos enquanto negros e muitas das vezes também, não somos reconhecidos como tal, e, assim sendo vamos negando as nossas evidencias e fazendo as sujeiras que nos mandam e ou nos sugerem contra o nosso coletivo negro, estereotipado de baixo e inferior e vamos em busca do ideal eurocentrico.
As manifestações discriminatórias partem de nós mesmo em diferente graus: materiais e imateriais. Situações: econômicas, sociais, culturais, religiosas, políticas, condizente ao status do grupo e ou do individuo dominante. A sua leitura é que prevalece.
O domínio de luta contra a Intolerância Religiosa, existe diversos indicadores constitucionais e legítimos que são olvidados deliberadamente principalmente pelas autoridades policiais e do direito, justiça e lei. A própria comunidade alvo, vítima dos criminosos, se calam antes as violações dos seus direitos, como medo de retaliações, por falta de unidade, por falta de solidariedade, por falta de conhecimento, por falta de assistência, por falta de interesse e responsabilidade social, por falta de apôio
Há uma legislação histórica para assinalar o memorial do domínio do terror da Intolerância Religiosa, além dos limites da Inquisição. Em 1832 um Decreto obrigava os Escravos a se converterem a religião oficial e uma legislação atual que aponta caminhos legais contra as violências e agressões policiais, perseguições políticas, judiciais invasões arbitrárias dos templos por promotores, e autoridades policiais e políticas.
Num Estado Laico, onde desde a primeira Constituição brasileira de 1891, a idéia de religião deixou de ter respaldo legal. A Constituição de 1988 não deixa dúvidas sobre a matéria e proíbe imposições de obstáculos a qualquer culto ou religião.
A intolerância religiosa é fruto do racismo institucional gerado pelo apartheid que divide a geração impedindo o livre arbítrio e as relações espontâneas dos grupos e indivíduos, classificados e tipificados na sociedade excludente de orientação colonialista onde os coronéis e usineiros são os referenciais políticos e econômicos para o controle da população através do social e esmagamento cultural tendo o maniqueísmo como ideologia dominante.
A Regulação tipifica a discriminação religiosa como crime.
Define e fundamenta a Liberdade de Culto e seus locais sem qualquer tipo de obstáculo do Poder Público ou Partícula ou de Participantes, podendo ser realizado em recintos abertos ou fechados. Nas ruas, praças, parques, praias, bosques, florestas etc.
Define três disposições de proibições;
1- Quando não tiver caráter pacifico
2- Se houver uso de arma de fogo
3- Use estiver sendo praticado atos criminosos
A Lei de Abuso de Autoridade pune o atentado a liberdade de Culto.
A Lei define ainda:
Associação Religiosa.
Direitos do Ministro Religioso
Templo Religioso
Ensino Religioso
Casamento e escolha de nomes de filhos de acordo a religião dos pais.
O Brasil é signatário da ONU e respeita as Leis Internacionais
1- Declaração Universal dos Direitos Humanos
2- Declaração para a eliminação de todas as formas de Intolerância e de Discriminação baseada em Religião ou Crença.
3- Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as formas de discriminação Racial.
Assim sendo, os atentados praticados contra a comunidade negra e sua religião, impedindo que comunidades, grupos ou indivíduos tenham acessos a sua religião e sejam obrigados a conversões por imposições de outros grupos, como se observa nas periferias, quilombos, escolas e repartições públicas, como forma de auferir vantagens e ou para fugirem as discriminações e constrangimentos e ou para ter acesso as benesses do poder público ou privado, é um crime que não deve ser calado.
Esse crime é estimulado pela mídia diuturnamente, numa afronta a Constituição e calado pelos poderes públicos aliados aos usineiros e coronéis contra comunidade negra, que alijada e excluída, tem seus direitos violados por aqueles que têm a responsabilidade e funções de defendê-los e, principalmente pelo silencio e medo.
O Governador de Sergipe discrimina os Terreiros e Comunidades Remanescentes de Quilombos através nas distribuições de Cestas básicas de Alimentos, através da CEPIR, que age segundo o interesse pessoal, partidário e ideológico do seu coordenador.
A Intolerância Religiosa se associa a Racial; Educacional; Cultural, Saúde, Segurança . Comunicações, onde se destaca no interior da administração governamental e do prefeito onde se exemplifica na Educação:
1-a exclusão da cultura negra da Grade disciplinar como instrumento de formação intelectual dos alunos.
2-pré-vestibular na rede pública, numa tentativa de esconder a baixa qualidade do ensino na rede pública, instituindo um apartheid na medida em que o serviço e oferecido a poucos usuários da educação pública e atesta a baixa qualidade e uma educação diferenciada que o governo oferece , antes a rede particular, cujo resultados no Vestibular é 80% maior em número de participantes e classificados.
3- a Secretaria de Estado da Cultura, não contempla a cultura negra em suas funções e operação.
4- o Estado não tem uma política pública para a comunidade negra e desconhece seus indicadores culturais. Não tem o mapeamento das Áreas Remanescentes de Antigos Quilombos e não usa os indicadores da cultura negra como instrumento pedagógico para a formação de cidadania.
5- O prefeito da Capital exclui a representatividade do negro, na administração pública, se recusando a instalar o Conselho Municipal da Igualdade Racial, dificultando o Combate ao Racismo na Capital.
6-O Estado não possui nenhum instrumento dirigido a representação, preservação, defesa e desenvolvimento do negro e suas culturas.
7- A mídia sergipana Racista e instrumento de dissociação etnoracial, não abre espaços para difusão da cultura negra e nem das questões da comunidade, em defesa dos seus interesses individuais e coletivos. Só abre espaço, quando PAUTA O NEGRO e ou o Assunto.
Educação - Nós os negros, historicamente excluído da educação e escolas convivemos com o banimento de nossa cultura do processo de nossa formação intelectual e construção da nossa identidade enfrentando uma escola que, como aparelho ideológico, reproduz os estereótipos contra nossa raça, cor, etnia, religião, tradições, histórias, lideranças, psicologia, conjunto organizado de idéia, técnica de sobrevivência, organizações, heróis, arquivo humano,artes, literatura.
O nosso patrimônio histórico artístico e cultural é desprezado como ícone de nossa desqualificação antes o sistema que sufoca o pluriculturalismo.
Uma escola/educação unidirecional europeizante, eurocentrica e reducionista que nos transforma em macaqueadores da cultura ocidental onde brancos e negros são mantidos afastados pelo ponto de vista eurocentrico , que só veicula os valores apoiados na imagem do vencedor e na sua pratica etnocêntrica, esmaga e mata todas as possibilidades da cultura do negro e do índio, negando o status de ficar no mesmo patamar da cultura européia impedindo a desconstrução dos mitos produzidos ao longo de séculos de dominação, intolerância e marginalização.
A Justiça é posta contra o negro e nunca ao seu favor, a ciência jurídica, principalmente a penal ainda perduram os traços da sua longa convivência com a escravidão, para a qual a nossa condição é revogável. Não há Direitos para o Negro, só contra o negro. Estamos pois em liberdade condicional, a sua prática do Direito Criminal é racista. No dizer de Nilo Batista, só a demonstração de um novo direito penal que não seja:
a- Boleguim ideológico da dominação,
b-destruidor dos destinatários de suas normas,
c-da estigmatização e do privilegio.
Busquemos, pois, um Direito Penal:
i-concebido e pré disposto como garantidor da justiça social
ii-realizador dos valores essenciais da pessoa humana
iii-um direito da redenção e confraternidade
Só deste novo Direito Penal se poderá dizer que é um direito dos negros e outros oprimidos e não um direito contra os negros e contra os oprimidos.
“No Brasil será sempre impróprio falar-se num direito penal do negro, mas só porque deve falar num direito penal contra o negro. Transbordam da tradição jurídica lusitana escravista, incorporada pela legislação brasileira, um rigor e uma crueldade que tem coerente seqüência nas leis penais posteriores á abolição e, praticamente, na aplicação prática discriminatória dessas leis.”
Nilo Batista.
Muito de nós os negros, principalmente nos espaços de poder, os chamados negros da Casa Grande, em vez de assumir nossas lideranças, por representar a Elite antes o coletivo, fugimos das reivindicações, da raça e da cultura, nos associando ao poder contra os manifestos de nossa gente. Reproduzimos como os “ libertos africanos” que sem cidadania, aderiam ao escravismo, atuando contra a Resistência Negra, contra a abolição porque poderiam ser deportados como “estrangeiros” A alforria revogável qual doação, mantinha-os submissos aos interesses dos antigos senhores. Os libertos do Direito Escravista.
As nossas organizações, dependentes dos poderes públicos, ainda não elaboraram uma estratégia de autonomia e independência nos debates das idéias, nas soluções dos problemas e na construção da identidade, por conta das “Elites Negras” que se excluem das questões do coletivo.
Será preciso outros 400 anos, para que o Preto, seja levado a sério e respeitado como representante da maioria da população deste Estado que teima em jogar seu racismo, debaixo do tapete. e manter cristalizada a filosofia paternalista, numa Ode a Casa Grande
Uma apologia a ideologia branqueadora e paternalista, onde o negro até hoje é visto pela visão JURIDICA e não FILOSOFICA, um juridicismo de visão estreita, julgando ter feito muito pelos Pretos, quebrando suas correntes. Não tem a coragem de transformar o Antigo Escravo em Homem Livre emancipado e seu igual, o que é Filosófico, a leitura e reflexão das problemáticas, a prática da Humanidade.
Ainda hoje, o branco não admite a Igualdade antes ao negro (principalmente o Preto), seu antigo escravo, pois sua mentalidade de senhor é mais forte e impede o ato através dos preconceitos, não aceita a autonomia independência e consciência do negro forçado a pensar branco.
O Preto e o Índio, vítimas do etnocidio branco, ( sem espaços na mídia, propriedade dos Usineiros escravagistas; do Estado teocrático partidárizado e dos Evangélicos mercantilistas, que cassam nossas vozes violando os nossos direitos de expressões, mas que querem nossos votos e submissão, o que haveremos de desconstruir. A Diversidade é uma relação de poder inclusiva porque não permite ações invasivas do julgo paternalista que impede a reflexão e cristaliza a atomização.
Essa Elite Negra, de memória seletiva e mentalidade escrava que busca no clarear da pele e do diferencial de status, reproduzir no coletivo negro os estigmas dos dominadores, fazendo tudo para ser igual ao seu colonizador, porque se envergonha de si enquanto raça e cultura, enquanto diferença, enquanto outro. Por se sentir inferior e não diferente, fazem grandes esforços para se igualarem aos que lhes inferiorizam.
Este pensamento de Alberto Memmi e Frantz Fanon nos dar oportunidades de exemplificar a realidade da nossa mentalidade escrava e sentimentos de rejeição e a nossa vergonha de ser negro, não gostar de negros nos leva ao ódio iterracial, separatista, reducionista e acima de tudo imoral, que nos leva as práticas daquilo que combatemos. O Racismo; Xenofobia; Intolerância; Discriminações, contra nossa raça e culturas e religiões.
Quem pode impedir ou discriminar um Índio de ser Padre, Pastor, Pai de Santo, Monge se ele não que ser Pagé ?
Quem pode impedir ou discriminar que o Negro seja Pastor, Padre, Pajé, Monge, se ele não quer ser Pai de Santo?
Quem pode impedir ou discriminar que um Branco seja Pai de Santo, Pajé, Pastor, se ele não quer ser Padre.
A ninguém é dado o direito de impedir, discriminar e criar obstáculos Ao exercício do livre arbítrio do Negro (preto, pardo, mulato) seja cristão, budista, xintoísta, evangélico, macumbeiro, espírita, islamita, batista ou outra qualquer denominação religiosa ou filosófica pois a única expressão que a Constituição não permite é o curandeirismo e o fanatismo, muito em voga entre nós.
Existe e deve ser respeitado a Diversidade e o Livre Arbítrio.
Nem todo negro gosta de Samba, Capoeira ou Candomblé.
Pluralismo é isto. Liberdade de Expressão, de se expressar, que é a própria expressão da Liberdade.
Sirvo-me das expressões de Juanita Elbein em Arte Sacra Negra e Kelli em Intolerância e Racismo no Interior dos Quilombos e Comunidade Negra, postado pelo CNNC/Ba, para exemplificar a leitura do inconsciente coletivo sobre o tema.
“0 Brasil é um país de origem luso-afro-ameríndio, elementos constitutivos que se encontram em diversos graus de associação e transformação(...). Essa população preserva grande parte de suas culturas de origem em diversos graus de transformação, dependendo da maior ou menor retenção dos modelos africanos e das circunstanciais sócio-históricas das diversas regiões onde se estabeleceram os vários grupos étnicos.
Os africanos e seus descendentes, portadores de uma riquíssima, tradição, correspondente às dos diversos reinos de onde eles procediam, trouxeram e radicaram aqui seus costumes, suas hierarquias civis e militares, suas línguas, suas concepções estéticas, dramatizações, literatura oral e mitologia e, sobretudo. a sua religião. Devido a vários fatores, a cultura nagô classificada como yorubá pela etnologia moderna, proveniente do oeste da Nigéria, centro e sul de Daomé, composta por grupos oyó. Egbá ,egbádo, ijexá, sabé e ketu sobreviveu como uma estrutura própria e influenciou todas as outras, quer seja a jêjê, proveniente de Daomé e cujos traços culturais são semelhantes aos dos adjá, fon, huedá e jegun. quer sejam as de origem bantu que maior acomodação e transformação sofreram.
A prática da religião tradicional, cuja doutrina e liturgia armazenam e explicitam o conheci¬mento, a filosofia e a ética negro africaria, foi o fator principal que permitiu ao negro bra¬sileiro preservar suas raízes culturais, manter vivas suas tradições, sua integridade psicológica e o sentido de comunidade em bem organizadas sociedades egbé localizadas em terreiros, que mantiveram vivos os sistemas culturais herdados.
Na diáspora, o espaço geográfico da África genitora e seus conteúdos culturais foram transferidos e restituídos no terreiro, polo de concentração do africanismo de onde se irradiam e permeiam a sociedade global.
0 terreiro recria uma estrutura socio cultural e gera importante atividade artística e artesanal diretamente derivadas dos modelos tradicionais e das necessidades do culto. Alguns produtos dessa atividade, suas origens, as técnicas, os materiais usados, o simbolismo e, sobretudo, o significado no contexto cultural que lhes deu origem, bem como recriações que inspiram, são o objeto desta abordagem.
A arte africana esta fundamentalmente associada à religião.
Não é estranho, pois, que nos cultos afro¬ brasileiros se repita essa modalidade. Música, cânticos, danças litúrgicas, os objetos sagrados, sejam os que foram parte dos altares ou os que paramentam os orixás, contêm aspectos artísticos que integram o complexo ritual. 0 conceito estético é utilitário e dinâmico. 0 belo não é concebido como um mero prazer estético, mas participa de todo um sistema.
Os objetos têm uma finalidade e uma função. Expressam categorias, diferentes qualidades; componentes de um todo, são ativos indutores de ação. Portadores de força mística estimulam o processo de adoração. 0 místico e o sagrado se expressam através de um complexo sistema simbólico cujos objetos emblemas se manifestam esteticamente.
Os objetos por si mesmos são apenas substância material. Para adquirir sua representação simbólica devem ser consagrados. Um objeto reune as condições estéticas requeridas pelo culto, mas que não foi”preparado”, carece de fundamento . é simplesmente uma expressão artesanal e/ou artística.
0 caráter sagrado é dado através de cerimônias especiais durante as quais poderes específicos lhe são transferidos. Não são. Portanto, objetos divindades, fetiches onipotentes que controlam os adeptos. São emblemas preparados e aceitos como símbolos de forças espirituais. Os objetos não são apenas representações materiais, mas emblemas essenciais em que o sagrado está representado. 0 adepto não se inclina diante da madeira, porcelana, barro, palha ou pedras, mas diante do abstrato sagrado, da mesma maneira que o católico não adora a imagem material de santos e crucifixos, mas o espírito místico que simbolizam.
Os diversos elementos que constituem um emblema não devem ser compreendidos em separado. Assim por exemplo, o xaxará vassoura ritual emblema do Orixá Obaluaiyê, é um objeto com uma estrutura determinada, constituída por uma quantidade de símbolos signos que se encontram nela incorporados búzios, certas contas, palha da costa, nervuras de palmeiras, cores específicas, etc. e que, embora tenham significados próprios, não devem ser considerados separadamente, mas como partes integrantes da totalidade do símbolo xaxará que contribuem para expressar. Por sua vez, o xaxará toma significado pela função que Obaluaiyé princípio masculino do panteão da terra e patrono das enfermidades epidêmicas tem na constelação das divindades nagôs.
Os objetos símbolos, formas estéticas carregadas de significado, podem ajudar nos a inferir todo o sistema religioso estético de uma comunidade cultural. É a expressão estética que “empresta" sua matéria para que o sagrado e místico se revelem.
Escultura, objetos simbólicos, quer sejam alegóricos, terapêuticos, protetores, agressivos ou advinhatórios, devem reunir qualidades técnicas que respondem a critérios estéticos e estilísticos bem definidos. A maior parte dos objetos sacros deve ser vista de maneira dinâmica, já que são concebidos para serem usados em circunstâncias rituais, de procissão ou dança, nas quais movimento e cor, panos, cortinas de palha da costa e tiras e outros elementos completam a concepção simbólico estética.
Há objetos específicos para expressar as mais diversas situações rituais objetos, relacionados à fertilidade, controle, coesão ou estabilidade social, mortalidade e eterno renascimento, os que conotam heroísmo, soberania, hierarquia, os relacionados com o gênesis do universo e dos seres e suas relações com o mundo sobrenatural, os que representam os princípios e os elementos espirituais do universo e dos seres humanos.
Apreciar objetos de arte que se acham fortemente associados a cânones estéticos e a um contexto cultural complexo pouco ou mal conhecidos. exige do observador grande despojamento etnocêntrico, abertura e sensibilidade para valorizar e
reconhecer na diversidade cultural um meio de enriquecimento profundo e de equilíbrio nas relações humanas.
Os objetos não são apenas exibidos como material etnológico. Além de sua função ritual e simbólica são expoentes vivos de uma criatividade peculiar da qual Deoscoredes M. dos Santos (Mestre Dídi) é um dos seus mais puros representantes.
A arte negra contribui amplamente para as principais correntes das artes baianas. Desde o peculiar estilo de, talhas e santaria barrocas até os trabalhos de Agnaldo dos Santos, desde as manifestações folclóricas como capoeira, afoxê e maculelê até os mais contemporâneos de música popular, desde as colheres de pau até os mais requintados quitutes, desde as blusas e batas até o gosto pelas cores, colares, berloques e balangandãs, desde as esculturas e desenhos de Mário Cravo, Caribé e Hélio de Oliveira até as mais abstratas reformulações de Rubem Valentim, toda a gama das artes baianas leva a forte e inequívoca marca de sua herança negro africana.”
“Eu nasci, cresci, vivi e vivo até hoje em um quilombo, logo, sou quilombola. Já nasci em um lar cristão, nunca fui de outra religião.
Até certo momento da minha vida, confesso que achava que deveria separar a religião da cultura. Nós temos festas comemorativas que acontecem anualmente: dia de São Benedito, Festas Juninas e Julinas, Encontro da Cultura Negra e etc, aonde são dias em que quase toda a comunidade se reúne para se alegrar, dançar, brincar, sorrir... Mas esse evento é freqüentado apenas pelos católicos da região.
Meu quilombo é formado por 400 pessoas, sendo boa parte delas membros da Igreja Assembléia de Deus, onde se encontra mais problemas na hora de “liberar” seus membros para quaisquer eventos “mundanos” no quilombo. Temos a Igreja Batista da qual sou membro. O pastor nunca fica sabendo para onde vamos e o que faremos lá, pois ele também é contra essa mistura de religião com cultura.
Acontece se passarmos muito tempo freqüentando esses eventos e festas e sermos excluídos, bem mais pra frente, por intermédio de “irmãos” que vão até o pastor criticar nossa “má conduta”. Existe aqui também, como já falado anteriormente, a Igreja Católica, que é a que está mais presente em tudo. E temos umas duas, três ou mais pessoas que são admiradores ou até mesmo seguem Umbanda e Candomblé, ressaltando que, não temos terreiro em nossa comunidade. Já tivemos um, mas a pessoa que o mantinha não mora mais em nosso quilombo e a grande vontade dos que a esta, é reconstruir um templo, um terreiro por lá. Com certeza, haverá “quebra-pau”, pois o preconceito ainda é muito grande.
Se me perguntarem o que eu acho de tudo isso, eu responderia que não tenho nenhuma opinião formada a respeito. A evangelização nos dividiu demais, não somos unidos como deveríamos ser. Tínhamos conseguido resgatar o jongo depois de um considerável esforço e hoje ele já não existe mais tão fortemente como antes, pois a maioria dos componentes era da Assembléia de Deus e o pastor os impedem completamente de continuar a fazer parte, assim como também no futebol.
Temos um grupo de Hip Hop, aonde no penúltimo evento que nos apresentamos, não contamos com a presença de um dos componentes que nos “deixou na mão” sem prévio aviso e logo quando contatado, disse que seu pastor (Assembléia de Deus), achou melhor que não fosse tocar conosco. Ele é do grupo já há um tempo, e hoje não sabemos se ainda o é.
O que falta é reunião para redefinir.
Aos poucos, tudo vai sendo destruído pela forte “pressão religiosa”. E sobre isso, eu tenho uma opinião formada. No passado, Yeshua não falou em evangelização. As palavras de Yeshua foram mudadas conforme os europeus quiseram. Yeshua veio pra fazer a diferença. Assim como veio Ghandi, Tchê Guevara, Zumbi, esses nomes tão fortes e ilustres. Yeshua falou em amor, união, paz. No Velho Testamento, vemos passagens de sacrifícios/oferendas que eram oferecidos a Deus e, claro, ainda hoje o sacrifício é realizado.
Ao contrário do que dizem, ele não é, nunca foi e nunca será pecado. Por acaso é pecado oferecermos a Deus nossas vidas, nossas casas e tudo o que temos? Por um acaso é pecado oferecer o meu animal mais forte, mais bonito e vistoso a Deus? Eu me disponho a responder: Não. Não é!
Isso foi à forma mais fácil que os europeus encontraram de começar a conversão, a mudança, e transformar a nossa religião, a religião dos pretos, em uma religião abominável como hoje o é aos olhos de muita gente. Aos poucos foram excluindo isso e aquilo e quando demos conta, já estavam lá, suspendendo a imagem de um Yeshua branco, ensangüentado, totalmente diferente da realidade. Começaram a apelação: Se não creres, se não vieres até ele, será lançado no inferno juntamente com o diabo. Diabo... está aí outra criação deles para conversão pelo temor.
No quesito artístico, tenho que admitir, eles tiveram talento e criatividade. É muito fácil conseguir arrastar milhares e milhares de “fiéis” para os bancos das igrejas alegando que se morrerem sem estar em “comunhão” com Deus, irão para o inferno. Só não percebe que isso é completamente inviável quem não quer. Mas não pretendo falar sobre diabos e demônios agora.
Deixe-os para aqueles que adoram os invocar e fazem questão de trazê-los pra dentro das igrejas gritando pelo seu nome e fazendo fileiras de oração depois do culto com as mãos postas sobre as cabeças, dando show de graça para todos que quiserem ouvir, e também ver as pessoas se contorcendo no chão, duros e fazendo caretas. Eu sou amante de psicologia e sei bem que, mexemos com energias, nosso corpo sempre responderá positivamente a um comando, pois somos energias. Isso se chama Hipnose.
Acho engraçado, as pessoas vão até a igreja sem problema algum e muitas das vezes saem pior do que entraram, com o corpo totalmente sobrecarregado (Claro! Depois de uma sessão de espiritismo, não tem como ser diferente). Absolutamente nada contra os espíritas, mas é que em muitas igrejas, me sinto sentada em uma “mesa branca” assistindo todos os espíritos baixarem. Muitas igrejas trabalham desta forma, “acham lindo”, e ainda “metem o pau” nos espíritas e macumbeiros. Por que será? A forma de trabalho é praticamente a mesma, não consigo ver muita diferença. Acho que a única, é que os espíritas assumem que são espíritas.
”Eu, como protestante preta, não mais sigo o Cristianismo enquanto instituição. Eu sigo o Cristianismo de Matriz Africana. Esse acaba com o ódio que muitos sentem do cristianismo enquanto instituição, que é uma religião que massacra, aterroriza, impede as pessoas de serem felizes e as obrigam a viver sob fortes regras, as transformando em bonecos de corda, marionetes.”
Em um Domingo, presenciei um irmão de a igreja pedir que oremos, pois nossa igreja está sendo perseguida sem um porquê. Agora eu pergunto, sem um por quê? Absolutamente! Claro que tem um porque. Qual a religião que sempre invadiu terreiros nessa vida? Qual a religião que sempre deu showzinho em público quebrando imagens de santos? Que religião segue o prefeito de Salvador que mandou derrubar todos os terreiros? Eu respondo: O Cristianismo enquanto instituição.
Muitos crentes vieram me dizer: “Ah, mas não podemos ser todos incriminados por uma coisa que só esse prefeito fez”. Quando me voltei pra essa pessoa e perguntei se ela achava que o prefeito estava errado, não soube me dizer. Ou seja, considera apelação do prefeito, mas acha que ele está no caminho certo.
Infelizmente, tudo isso reflete dentro do meu quilombo. O mesmo preconceito!
E eu digo, é possível sim, crer em Cristo e manter as tradições. Por mais que muitos pensem o contrário, Cristo está mais próximo das tradições do que imagina e um dia essa verdade, irá ser revelada para rompimento do sofrimento do meu povo preto. Eu creio!
Graças à capacitação de historiadores, esse mistério vem sendo desvendado com certezas. E o rancor, o ódio de algumas pessoas de outras religiões, vem sendo quebrado. Vão percebendo que os europeus se apropriaram do cristianismo e o transformaram em uma religião violenta. Falo com bases nas posturas de meu marido hoje, comparando com as que ele tinha assim que nos conhecemos e começamos a namorar. Tinha pudor, tinha ódio do Cristianismo e hoje, não mais. Não é seguidor de Umbanda, mas falo sem nenhuma vergonha que suas crenças são voltadas pra tal. Nem falava no nome de Jesus de tanto ódio. Hoje me deparo com frases como estas: “Fulano está de um jeito que só Jesus”. E pra isso, não precisei evangelizá-lo. Até seu irmão, que antes tinha o mesmo pudor do Cristianismo, me deparei com uma comunidade em seu Orkut que diz: “Jesus! Eu te amo!” Tudo isso, graças ao desvendamento que se vem dando em relação a isso.
Acho o máximo. Vejo o progresso, graças a Deus! E é disso que precisamos: união entre o povo preto e não precisamos arrastar ninguém de uma religião à outra pelos cabelos.
Deus há de julgar a todos com sua benevolência. Só me pergunto: Como Deus julgará civilizações que usando o seu Santo nome trucidaram 200 milhões de seus filhos e filhas na África e seqüestraram quase 30 milhões para as Américas? Qual será o julgamento para a escravidão de homens e mulheres que se apropriaram da força de trabalho, mudaram as línguas, os nomes, costumes e cometeram atrocidades inimagináveis? Que enforcaram milhares de negros e depois foram para os cultos como nada tivessem feito, com sensação de missão cumprida, com “a alma limpa”, simplesmente por acharem que haviam feito um grande favor pra Deus, matando estes filhos do demônio.
Já chegaram a dizer que Deus é branco e que o diabo é que é preto. Quem foram os seguidores e adoradores do diabo e satisfizeram os desejos do mal, foram os seqüestradores ou os meus ancestrais que viviam nas suas florestas e savanas, fazendo seus cultos nos terreiros em paz?
As civilizações ocidentais que se diziam seguidoras de Yeshua foram tão perversas, que hoje, a maioria de nossos irmãos e irmãs se calam, sendo subserviente com medo de clamar e lutar por justiça, porque se consideram descendentes de amaldiçoados e acham que a vontade dos opressores é a vontade de Deus. Veremos!”
Grande Asè!
DOIS Comentários sobre a questão.
• Olá Kelly
Li seu texto e achei muito boa sua crítica.Concordo com você que a religião tem nos dividido enquanto negros e negras. Sou da Igreja Metodista e tenho trabalhado e sonhado que é possível sermos negros, física, cultural e espiritualmente - sem as divisões impostas pelas instituições sociais e religiosas. Na minha vivência tenho percebido que as pessoas negras metodistas, e creio que em geral no meio evangélico, já incorporaram de tal forma o evangelho branco, europeu que o reproduzem com maior fidelidade do que as pessoas brancas,principalmente no que se refere à condenação da cultura e práticas religiosas negras. É difícil! O preconceito existe por parte das pessoas negras "crentes" em relação às pessoas negras "não-crentes" (como também ocorre o inverso), mas nos "crentes" está arraigado de tal forma que qualquer leve aproximação com a cultura afro é vista do mal. Penso, que cabe a cada uma de nós que se torna consciente da existência do preconceito religioso - ocupar espaços dentro das instituições religiosas para denunciar e incomodar no sentido de provocar mudanças e para que venhamos a desfrutar da união entre o povo negro independente das religiões professadas e sem medo de encontrar nas diferenças um caminho para nosso crescimento.
•
Diná da Silva Branchini
Conheço a comunidade Quilombola do Campinho há 2 anos e me surpreendi com a presença maciça de evangélicos e a completa ojeriza em relação às tradições de reverência à ancestralidade. Como sou de família de tradição de zeladores de terreiro, fui lá procurando uma identificação nesta sociedade preconceituosa que não me enquadro.
Mais tarde fiquei sabendo que houve um grande centro de culto aos ancestrais similar o que hoje poderemos chamar de Umbanda e, com o advento da chegada de obras de construção da BR-101, que dividiu o Quilombo ao meio e, com esta obra trouxe "estrangeiros" a grilar suas terras e também "baianos" a misturar suas religiões de origem mais semelhante ao Candomblé e fundar outro centro. Quizilas entre os zeladores de terreiro se formaram e tanto a evangelização quanto o catolicismo serviram de porto seguro à esses comportamentos que foram praticamente banidos da comunidade.
Entretanto cultura e dons divinos não morrem, o ASÈ é forte na terra e Ifá é presente no Ori de muitos membros do coletivo que utilizam sua força herdada para o culto com fé e força na cultura cristã eurocêntrica.
As práticas de tempos imemoriais são muito poucas mas ainda presentes e muito escondidas. O relato da Queli é muito interessante, forte e admirável pois reflete uma visão crítica que pouquíssimos no Quilombo a tem.
Recentemente, na última Semana da Consciência Negra, houve um zelador a falar sobre a filosofia do Candomblé no Quilombo e foi muito interessante pois mais que uma religião é uma forma de viver que este Quilombo, que dá as costas a esta força ancestral e tradicional revive em seu dia a dia sem nem saber. Os preceitos filosóficos do Candomblé estão mais fortes neles que no de tantos outros seguidores do Candomblé que vivem em cidades. E, devido a um processo histórico, repudiam a base pela ignorância difundida e conceitos difamados por cultura díspare à que eles se harmonizam por natureza.
Realmente os Cesares fizeram um excelente trabalho político de evangelização onde nós negros éramos carga e os Brancos os santos barrocos! E perpetuam entre os descendentes das cargasdonavios negreiros para se manterem no poder. Eis o fruto da ignorância em nosso mundo.
Paulo Artur
Localização: O Quilombo Campinho da Independência está localizado ao sul do Estado do Rio de Janeiro, a 20 km da cidade de Paraty, entre os povoados de Pedras Azuis e Patrimônio. É banhado pelo rio Carapitanga e servido por cachoeiras e pela exuberante Mata Atlântica.
Histórico: A origem do Quilombo Campinho da Independência é muito peculiar. Todos os moradores são descendentes de três escravas: Antonica, Marcelina e Luiza. Segundo as histórias contadas pelos mais velhos as três não eram escravas comuns, pois tinham cultura, posses e habitavam a Casa Grande. Conta-se que no local existiam grandes fazendas, sendo a Fazenda Independência a mais importante. Após a abolição da escravatura os fazendeiros abandonaram suas propriedades e as terras foram divididas entre aqueles que nela trabalhavam
Kelly, 23 anos, recém-casada. Pseudônimo Nzinga Mbandi
PROPOSTAS.
No esforço de contribuir com as reparações das desigualdades geradoras do preconceito, racismo, discriminações e intolerâncias, alencamos as propostas como indicadores de uma política pública nas áreas da Educação; Saúde; Direitos Humanos; Religião e Comunicações.
EDUCAÇÃO
O processo de desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual da criança, visando a sua melhor integração individual e social. O Coletivo negro sergipano, não teve e não tem até hoje seus indicadores culturais como instrumentos pedagógico para sua formação, seja moral, intelectual. O Estado exclui e viola os direitos naturais e constitucionais do negra na educação e prioriza as ações em torno de um único grupo cultural, cristalizando o etnocentrismo e a prática diária do etnocidio tanto do negro, quanto do que restou do índio. Buscando o reencontro de uma ação afirmativa e compensatória, é que buscamos a coes reparadoras e inclusivas dos valores da cultura negra na grade das disciplinas com ênfase na religião e lingüística.
1- Que o Estado através dos Conselhos Estaduais de Cultura e Educação, fiscalize a aplicação das Leis 4.192 de dezembro de 99( estadual) e Lei 10.639 de janeiro de 2003(federal)
2- Que o Estado, através da Secretaria de Educação, instrumentise , as escolas para oferecer Certificados de Isenções aos concludentes do ensino médio para que possam apresentar no ato de inscrição de qualquer concurso público no território de Sergipe.
3- Que o estado através da Secretaria de Educação, ofereça a Universidade e a todos os órgãos e instituições no Estado, referendos para incluir nas grades dos seus concursos, conteúdos das Culturas Negra e Indígena, no percentual de 40% e 20%, respectivamente.
4- Que o Estado através das Secretarias de Cultura e Educação, contrate prestação de serviços permanente para atualização, capacitação de professores e alunos da rede pública. Show, Seminários, Cursos, Oficinas etc. Relativo a manifestação inclusiva das culturas negra e indígena de forma a promover a identificação e reconhecimentos dos seus indicadores.
5- Que o Estado através da Secretarias de Cultura e Educação, Banco do Estado promova urgente o mapeamento dos indicadores culturais e patrimoniais, para promoção de políticas publicas e utilização como instrumento pedagógico na formação intelectual dos educandos.
SAÚDE.
A saúde da população negra foi sempre relegada pelo estado, considerando igual a todos os usuários dos serviços públicos, mas discriminando os idosos, crianças, homens e mulheres. O serviço de saúde é racista na medida em que seleciona quem nas mesmas condições, devem receber atenções e procedimentos operacionais consistentes. Entre o negro e o branco, decidem sempre pelo branco. Os Idosos e as Crianças são os mais prejudicados nos atendimento e nos acessos aos procedimentos e medicações indicadas. Propomos
1- Que o Estado através das Secretarias de Saúde,Educação, estabeleça condições, através de acordos e convênios, para o acesso da população negra a uma saúde especifica e de qualidade, tendo como indicadores as nosologias da população e que implante urgentemente o programa de Saúde da População Negra nas Escolas com a instalação de Consultórios Médico Odontológico e Psicosocial , dotando as Escolas de médico, enfermeira, assistente social, dentista e psicólogo.
2- Que o Estado através das Secretarias de Saúde e Cultura promova sistematicamente, capacitação do pessoal para o pronto atendimento e identificação dos sintomas afim de que o diagnóstico seja imediato e que em todos os Postos de Saúde, haja um laboratório para exames básicos de sangue e equipamentos para medir a pressão e o índice de açúcar no sangue (glicemia) e que os exames sejam agendados em até 3 dias.
3- Quer o Estado através das Secretarias de Saúde e Comunicação, promova sistemática Campanha de Interesse público na mídia para prevenção das doenças e Informações sobre a saúde da População Negra abordando as nosologias, Miomas, Hipertensão, Anemias Falciforme, Quelóide e suas implicações Sociais.
4- Que o Estado através da Secretarias de Saúde, fiscalize a aplicação do disposto legal sobre a identificação dos usuários da saúde, em Postos, hospitais, ou seja, em qualquer unidade de saúde. A identificação sobre RAÇA. COR. ETNIA, a fim de facilitar as ações patológicas.
5- Que o Estado promova adoção dos serviços permanente de Pediatria, Psicologia, Gerontologia e Nutricionismo nas unidades de saúde pública para atendimento aos usuários negros antes a sua característica nosologica e riscos. Esses serviços não devem ser encarados como especialistas e sim como geral.
DIREITOS HUMANOS
Constantemente o Brasil vem sendo citado como País onde os Direitos Humanos são violados. Sergipe como o Estado da Federação de maior contingente populacional negro, tem se cristalizado em ser também o mais racista, desprezando as regulações e sua população negra, vive sem respaldo, na medida em que o próprio Estado pratica o crime recrudescendo o instituto do Racismo Institucional, na vala comum das tradições e por isso não vista pelos institutos e órgãos jurídico-policiais para o pronto combate e proteção da comunidade atingida. As diversas violências são perpetradas pela condição racial-social. Propomos
1- Que o Estado junto as Secretarias de Cultura, Ouvidoria Geral: Justiça; Segurança e Comunicação promovam uma Campanha de Esclarecimento a População indicando os órgãos de apoio e promovam junto às organizações populares sistemáticas ações informativas e preventivas através de Seminários, Palestras, Conferencias Temática que garantam os manifestos da população.
2- Que o Estado através da Defensoria Pública e Secretaria de Justiça, Ouvidoria Geral, disponibilize uma equipe para atender a população atingida, grupos, e indivíduos por atos e ações que violem seus direitos e promovam constrangimentos e que as Delegacias tenham Assistentes Sociais. Pedagogos e Psicólogos, para assistir a população, integrando as de apoio cidadão junto aos Delegados.
3- Que o Estado através da Secretaria de Educação promova a inclusão temática na transversalidade da grade disciplinar o conteúdo e prática dos fundamentos e debates dos Direitos Humanos, promovendo trimestralmente em toda rede publica, Seminário temático sobre as violações e prática dos Direitos Humanos, alencando as proposições tiradas do evento. As ações devem ser programadas e promovidas pelos alunos, com as coordenações de professores e deve contar no Projeto Político Pedagógico das Escolas.
4- Que o Estado através das Secretarias de Segurança, Justiça; Cultura, Policias Civil e Militar, Ouvidoria Geral, promova sistematicamente ações conjunta sobre os Direitos Humanos, afim de capacitar, aperfeiçoar e valorizar seus recursos humanos da segurança pública em suas relações com as comunidades e seus manifestos.
5- Que o Estado, através da Defensoria Pública e Secretaria de Cultura, Comunicações, Ouvidoria Geral, manifeste sistemático repúdio as violações dos Direitos Humanos, assegurando ampla liberdade de expressão, principalmente na mídia e seus diversos canais, impedindo as discriminações que este canal pratica contra os diversos segmentos da comunidade negra negando o direito constitucional de expressão.
RELIGIÃO
O Brasil é um Estado Laico e sua representatividade regulativa promove a expressão e prática de todos os credos e filosofias religiosa, buscando no respeito a diversidade a união e a paz entre os povos. Como signatário da ONU, assinou as Declarações Universal dos Direitos Humanos garantidora das expressões culturais numa linha do pluralismo. Sergipe vem reproduzindo, apesar dos destaques de avanços contemporâneos, ações colonizadoras dificultando as práticas, difusão e, sobretudo a revitalização dos manifestos da religiosidade do negro, desrespeitando a sua evolução e importância. Sabedor que a religião é o ponto de irradiação cultural, promove através de manifestações equivocadas o etnocídio das tradições negras através da cristalização da Intolerância e o Racismo Institucional. Propomos
1-Que o Estado através da Secretaria de Cultura, Educação e Comunicações, garanta o livre exercício da religião, através de mudança de atitudes e comportamento dos agentes públicos dos três Poderes e Campanhas de Esclarecimentos e Defesa do Patrimônio Material e Imaterial: Histórico e Cultural do Estado, enfatizando a importância do Negro e suas Culturas.
2- Que o Estado através da Secretaria de Justiça, Cultura e Comunicações e Defensoria, promova ações qualificatórias que iniba o Conselho Tutelar, Policia Civil, Militar, Promotoria Pública ou qualquer órgão ou agente público de invadir os recintos sagrados dos Terreiros, desrespeitando ritus, símbolos. Obrigações iniciáticas e votivas, para seqüestrar neófitos ou qualquer pessoa, sem Autorização Judicial, desrespeitando a Constituição, baseado em denuncias de anônimos racistas, praticantes da intolerância religiosa, os chamados fanáticos religiosos ou vizinhanças hostis.
4- Que o Estado através da Secretaria de Cultura através da Defensoria pública, impeça o uso político partidário das ações e programas público no interior das comunidades de terreiros, visando beneficiar facções partidária ampliando as desigualdades e divisões em torno dos grupos vulneráveis e que garanta através dos seus órgãos a prática e os ritus público da religião.
5-Que o Estado através da Secretaria de Justiça, Educação, Comunicações, Segurança e Cultura, promova ações afirmativas para o exercício do livre arbítrio junto a comunidade de Terreiro para que possam , conhecendo seus Direitos e sabendo-o defendido pelo Estado, possam organizar-se e contribuir, funcional e operacional com o desenvolvimento sustentável da Comunidade, revitalizando, preservando e irradiando a cultura negra do Estado recuperando suas matrizes.
COMUNICAÇÕES
É através dos veículos de informações que se erguem as barreiras intransponíveis, impedindo o direito e cerceando a palavra e expressões dos indivíduos e grupos discriminados por fatores diversos: raça, cor, etnia, sexo, orientação sexual, ideologia, credo, religião, partido, estética etc. Enquanto a Mídia esbraveja contra supostas mordaças e atentados a liberdade de imprensa, ela mesma, aqui em Sergipe, invade, priva e excluem, indivíduos e grupos de utilizar seus espaços pelos motivos mais torpes, pratica o crime constitucional, na violação de direitos.
É Racista a imprensa sergipana, seu poder é tal que manter o governo como refém, tendo o Estado como seu maior cliente, pauta a vida e ideologia da sociedade, controlando a todos, principalmente os negros.
Seus poderosos proprietários: usineiros, coronéis, pastores, padres, políticos e empresários se alternam no poder dominador cristalizando o poder da imprensa em excluir, banir e controlar os pensamentos de insurgentes.
“Para que Ninguém tenha sues Direitos Violados é Necessário que o Poder detenha o próprio Poder”, já dizia Rebouças, alertando para os problemas, monopólio e abuso de poder do dirigismo e desvios da Imprensa seletiva. É o que ocorre em Sergipe. Todos os coronéis, usineiros, políticos, padres, pastores, empresários, etc. Se protegem entre si, independente da sigla partidária, o povo e a verdade é que se dane. Eles controlam o Poder.
A crise de valores na imprensa sergipana fragmenta os padrões da ética cristalizando uma atitude racista no cotidiano. Só há tolerância ao racismo, onde esses valores são arraigados, onde os interesses privados prevalecem sobre o público, onde o Estado não está voltado para o bem comum.
Esse sentimento de impotência no imaginário racial e social, dificulta mudanças, prevalecendo a apatia e a esperança de salvação pelos programas assistencialistas, paternalistas, predominando uma identidade negativa dos excluídos.
1- Que o Estado através da Secretaria de Comunicações, Cultura, Educação e demais órgãos promovam as facilidades para que os agentes culturais difundam os manifestos e calendário de eventos e que a mídia seja democrática não violando e ferindo os direitos constitucionais de liberdade de expressões das comunidades negras sistematicamente nas rádios, jornais e televisões.
2-Que o Estado através dos seus órgãos, evite usar os canais da mídia sergipana que promovam as discriminações e impeçam as livres expressões dos indivíduos, grupos e lideranças, por motivo de ideologia, credo, raça, cor ou orientação sexual, negando espaços para os formadores de opinião.
3-Que o Estado, através do Ministério Público e Defensoria Pública promova ações para o fechamento do órgão racista, cassando a licença e remetendo a justiça para processo por Racismo, constrangimento, danos morais, principalmente quando jornalistas censuram depoimentos por não gostar do tema, credo, raça, cor, religião,partido, ideologia, ou opinião do individuo, grupo ou comunidade e impõem barreiras, impedindo a comunicação, cerceando direitos.
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