domingo, 1 de novembro de 2009
THETIS NUNES - UMA ENTIDADE NO PANTEÃO AFRO SERGIPANO
Thetis Nunes : Uma Entidade do Panteão Afro Sergipano.
Reflexão de Severo D’Acelino.
Nas minhas andanças, os meus aprendizados foram se ampliando com as intervenções diretas de minha atenção e emoções. O que mais mim emocionava era o tratamento e os achados de episódios do negro sergipano a cada leitura que fazia da produção da Professora Thetis. Infelizmente não tive uma vivencia acadêmica com ela, pois apesar de ter sido minha professora, na antiga faculdade de filosofia, nunca assistir uma aula dela, pois a nossa agenda nunca se encontrou e com minha ida para UFBA, só nos encontramos anos depois em uma de suas Palestras sobre o Arquivo Humano Sergipano.
A minha devoção a esta Mulher, sempre a frente do seu tempo e revisitando o nosso passado em busca de desvendar novos episódios, pronta para trazer novos pensamentos a sociedade sergipana acerca de uma reflexão filosófica recheada de contemporaneidade e apontando caminhos para novas incursões temática, foi no ano em que se comemorou em Sergipe, o Dia Nacional de Consciência Negra, nos anos 70, no Centro de Turismo, onde junto com outros pesquisadores da UFSE e lá ela liderou os demais no debate temático sobre os nossos ancestrais. Naquela ocasião foram outorgados os primeiros Títulos Ouro de Consciência Negra.
Era o inicio das investigações e das mudanças de atitudes e comportamento, o melhor período, onde a Universidade dialogava com as entidades populares e onde tive a cumplicidade de diversos professores, pronto a nos atender nos nossos complicados envolvimentos na luta racial e no combate as formas de discriminações e a árdua tarefa de conhecer episódios de nossa história, questões e condições, para poder repassar e discutir com a comunidade. Apresentar os problemas e discutir soluções.
Indiretamente a Professora Thetis, esteve em nossas ações e seus Artigos, Livros e consultas, foram sempre aproveitados em beneficio do Coletivo Negro Sergipano e das nossas mais diversas reinterpretações. Foram eles que nos aproximou de outros textos e nos deu condições de uma reinterpretação do - de - dentro para do- de- fora.
Essa nossa idolatria silenciosa obedecia um ritual ancestral: Nunca a olhamos nos olhos, a sua presença, estávamos sempre de olhares baixo e ou desviado. A sua presença emanava uma forte energia ancestral que impunha um respeito sacro, só revelado ante nossas Entidades. Ela era a Entidade Sergipana, entre poucas existentes. Diante dela muita das vezes esquecia o que ia dizer e ou perdia os parcos argumentos e, ficava só ouvindo-a e acompanhando o desenho de sua fala na expressão de sua voz.
Minha maior emoção foi quando fui empossado no Conselho Estadual de Cultura e, percebi que entre os nobres conselheiros, ali estava a Professora Thetis Nunes, fiquei emocionado e cheio de felicidade, antes de assumir a função de Conselheiro, ali estive numa audiência, para falar sobre o Projeto Cultural de Educação, “João Mulungu vai ás Escolas, na gestão do Professor Pedrinho Santos e, naquela oportunidade como convocado, perdi a expressão de minha fala e pouco mim expressei, e com os Cadernos Pedagógicos em mãos, assinalei tão somente a importância do texto da Professora como conteúdo do Caderno que tratava da questão do negro.
Este Caderno inclusive foi um marco nas nossas relações e na sua cumplicidade, na formação intelectual do negro sergipano e do respeito ao nosso trabalho no âmbito da educação plural, após o trabalho pronto, fomos pedir sua autorização para utilização do seu texto, a única condição que nos impôs foi lhe mandar alguns exemplares para que distribuísse com alguns amigos, e assim foi feito. Nesta época ela era Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Durante o período em que o nosso Jornal IdentidadeS estava funcionando, ela sempre que solicitava, colaborava com matérias e atendia os nossos colaboradores como a Entrevista que deu sobre a Mulher Negra. Muitos dos seus Artigos, como no caso, sobre Antonio Rebouças, logo do seu regresso do Congresso a que fora convidada a apresentar o tema, nos forneceu cópia do trabalho, pois sabia da nossa atenção para com o homenageado.
Tive outras oportunidades de estar em sua presença, em atos culturais nos mais variados centros e localidades. Ela nunca se recusou em levar informações a nenhum grupo, principalmente em grupos que sabia nos transformar em agentes multiplicadores. Em Laranjeiras, junto com outros pesquisadores, enfrentou mais de duas horas numa ação cultural para crianças e adolescentes de uma escola municipal e junto com ela, proferir palestra sobre a cultura e diversidade do Município, lembro-me que a comitiva contava com mais de 8 palestrantes.
Muito nos alegrou a sua presença e as homenagens que lhes prestavam, em todos os cantos e, sempre que podia estava presente. Seu axé era muito forte e nos dava muito enlevo. Apesar do Projeto Cultural de Educação “João Mulungu vai ás Escolas” não ter nascido de sua inspiração, mas toda sua trajetória, foi sustentado pelos seus ensinamentos, seja através do contexto de sua História da Educação de Sergipe, um livro critico e politicamente perfeito para nossa incursão em busca de promover uma desconstrução da tão falada democracia racial e denunciar o etnocentrismo educacional a que somos secularmente submetidos.
A vida não nos ensina as dores da morte e, nesta condição a energia que durante o tempo de produção foi emanada, buscamos cristalizar, não para prender em nosso ciclo, mas para eternizar os momentos que buscamos congelar para espantar a nossa solidão e buscar na dinâmica a força da expressão de quem nos cativou. É uma motivação presencial, principalmente para quem se tornou Entidade no nosso Panteão e que podemos simplesmente, reverenciar em nossas revisitações.
Babá Obaola.
A Ancestralidade confirma a imortalidade, pois a vida continua no Orum como ancestrais
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