quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LITERATURA NEGRA E O NEGRO NA LITERATURA


LITERATURA NEGRA E O NEGRO NA LITERATURA – O MODELO SERGIPANO
Severo D’Acelino.

Nós estamos sempre assistindo a episódios de abuso no exercício do poder, de injustiças contra os cidadãos brasileiros praticados por quem deve efetivamente estabelecer os princípios do verdadeiro estado democrático de direito. O centro da questão é que as pessoas quase sempre se aproveitam da oportunidade do exercício do poder para oprimir, perseguir, manipular ou explorar as outras pessoas por interesse pessoal, corporativo ou do próprio sistema que o opressor integra.
Alberto F. Magalhães.(1)

Sergipe é de longe um Estado Negro, com a maior população negra do Brasil em dados comparativos, somos 86% da população absoluta, mas Sergipe não gosta de Negro, discrimina sua cultura. É um Estado Negro, sem Cultura Negra, diria até que é o Estado mais etnocêntrico do País, pois o culto ao eurocentrismo , faz parte do inconsciente coletivo dos espaços de poderes.

Essa relação maniqueísta, leva um bom numero de negros a terem vergonha de ser sergipano, onde mim incluo. Há no ar um não sei o que de atentatório ao negro, o desprezo constituído gerado do Racismo Institucional, pois quem mais discrimina é o próprio governo, levando o Estado a parâmetros separatistas de um eugenismo maquiavélico, de fazer corar o próprio Gobineau em seus delírios criminosos.
É sobretudo uma atitude de governo, para banir os negros, e clarear a epiderme, em sua prática de limpeza racial engendrada no etnocidio, exterminando os indicadores do negro: sua língua, história, cultura, literatura, heróis, religiões, tradições, filosofia, artes, músicas..., enfim, sistematizar a exclusão do negro, através do silenciamento dos seus valores e expressões culturais.

Efetivamente que numa sociedade dita civilizada que vê nos colonizadores o padrão de civilização, conforme expressa o LOURIVAL, professor da Universidade Federal de Sergipe, nos criticando em querer inverter os fundamentos civilizatórios para assinalar a importância do Negro, escravizado e suas culturas (certamente para o tal professor, os únicos a serem escravizados foram os negros), e por isso assinala que a cultura do negro é baixa e inferior.

A inexistência de uma tradição da literatura afro sergipana, sua leitura está ligada a intolerância político e cultural com forte víeis econômico onde o negro é descartado da possibilidade de editar sua produção intelectual.
O desestimulo é cristalizado na mentalização escravista e na ideologia do recalque instalada no âmbito da sociedade elitista que contraria a exposição do seu pensamento negro, coletivizado onde a expressão impõe a problematização das ações, questões e condições sócios culturais e econômicas.

Essa elite reprodutora de uma pseudo cultura civilizada, marcada de traços ditos “eruditos’ de uma síntese acadêmica com espaços nos poderes representados, não permite a expressão do pensamento negro com marcas de signos africanizados em sua ação espacial, estimulando a criatividade coletiva. Quer sim que o negro produza e expressem tradicialmente a sua expressão eivada de oralidade para que possa ser, apreendida e aperfeiçoada nas obras acadêmicas e eruditas dos autores brancos, consagrados como defensores das tradições negras.

Continua a repressão cultural ao negro em todos os sentidos e atos da sociedade e do governo, principalmente quando há ruptura e o negro, rompendo as barreiras, editam suas produções, é, imediatamente boicotado por críticos e toda sorte de impedimentos para que sua produção não seja conhecida e, sem esse estimulo, deixe o negro de promover suas produções intelectuais, alargando espaços para que o branco acadêmico, seja o porta-voz do pensamento negro, produzindo uma literatura negra, abolicionista e pseudo emancipadora, cheia de melindres e ações paternalistas.

Se o Estado impede a expressão do negro, produzindo sua arte, história, e pensamentos, é, sobretudo um Estado maniqueísta, autoritário e criminalista que impede através atos discriminatórios e racistas a expressão do negro, com medo de testemunhar a sua potencialidade intelectual, para escrever a sua própria história, expressar a sua leitura critica e formular debates das suas questões.

As dificuldades econômicas financeiras e a falta de uma política democrática em torno da expressão cultural mostram o perfil da desigualdade, o nível da intolerância e o caráter do racismo institucional a que o negro diuturnamente depara num Estado totalitário que em pleno século XXI ainda mantém o negro sobre algemas.
A cristalização do racismo em Sergipe está nesta ausência de referenciais da produção textuais da comunidade negra. Não importa se há alguns fragmentos de textos produzidos pelos senhores da história, os representantes da elite cultural sobre o negro sergipano. O que se pergunta é quantos negros sergipanos produzem ou produziram e editaram textos sobre as suas questões e pensamentos do coletivo. Há negros que produziram e produzem textos mas que de longe se expressão enquanto negros. Produzem uma literatura branca, expressando o pensamento do dominador, numa visão clássica, erudita, acadêmica, distante da visão tradicional da cultura afro sergipana.

O governo está a patrocinar constantemente as edições de textos produzidos pela elite cultural e a silenciar e impedir os trabalhos de negros, mascarando a realidade, principalmente no âmbito da educação onde os episódios históricos e contemporâneos do negro sergipano não são lidos.

Não há leitura de qualquer manifestação regional, o estudante negro convive com o olhar estereotipado de sua realidade, condicionado a não identificar as ações tradicionais de sua cultura e a rejeitar identificação. Nisso, não se reconhece e não querem ser reconhecido como negro, sem parâmetros portanto dos indicadores de sua cultura.

Muitas das vezes, por não aceitar romper com as barreiras das discriminações tradicionalizadas e, não querem assumir aquilo que a sociedade rejeita e o que a sociedade rejeita é o negro, logo se recusa a se identificar e se reconhecer negro.
Pela ótica do intelectual branco, nós os negros somos tratados de forma lamuriosa, escancarando a nossa marginalização e condição escrava, assinalando os castigos, a saudade da terra natal e a exploração sexual de nossas irmãs, e a defesa da abolição. Em suma: passam em nossas caras, todas as ações de suas supostas humanidades e que, é diluída diante de suas filosofias jurisdicionais.
No dizer de Rosemere(2008) se referindo a produção literária do negro, diz que

”De uma forma de escrever que procura se despir dos moldes ortodoxos da nossa língua portuguesa. A qualidade literária da literatura afro-brasileira não está nas formas rebuscadas de escritas, nas classificações, conceituações e etc., ela está concentrada indiscutivelmente na experiência poética, artística, cultural e política de saberes que representam o qualificativo afro de afro -descendentes e de afro-descendência no Brasil”

Citando ainda a autora, ressalta a sua convicção de que:
Mesmo sem a recorrência aos documentos, a história merece ser contada e remontada com base nos relatos e tradições da ancestralidade africana que vive, embora modificada na diáspora pela aproximação com a cultura ocidental, para que o passado possa ser reinventado no presente, através de uma representação literária que assume a história da cultura afro-brasileira como um legado de informações que fortalece a identidade afro -brasileira.

Esse legado de informações, só nós os negros temos e podemos expressar em atos e ações engendradas nos nossos manifestos e que faz parte da nossa inconsciência coletiva que se anima com as motivações, reflexões e sobretudo nas ações de nossas revisitações ancestrais. São signos que se manifestam a cada respirar do negro na tradição da diáspora e no distanciamento das amarras que separam as expressões de nossa liberdade de ser e que buscam na trilha da continuidade histórica, a reversão do mito da civilização e da imposição do pensamento colonialista.
A referência, se expressa na abordagem da Rosemere, onde se reporta a identidade como parâmetro cultural, estabelecendo seu conjunto de valores.


Tradição africana, cultura popular brasileira, identidade, religiosidade,
representações e diferenças étnicas, historicidade, intervenções culturais e políticas são alguns dos aspectos que podemos levantar através de sua abordagem literária como forma de problematizar a participação do sergipano, mais especificamente a do afro -sergipano na vida cultural e política de seu Estado.
exemplificamos o terrorismo a que somos submetidos enquanto negros, produtores marginalizados, impedidos de nos expressar, por sermos considerados insubordinados e criminalizados, sem nenhuma chance de explicitação de nossa produção, por puro preconceito e intolerância cultural, ainda que lutemos diuturnamente numa resistência cultural que se cristaliza antes a força do etnocidio patrocinado pelo estado.

No dizer de Alberto Magalhães.(200 ) O que é desconcertante é perceber que as pessoas reproduzem o comportamento histórico dos que governam com autoritarismo, em todas as escalas de poder: na direção da entidade associativa, da Instituição pública, das corporações policiais e militares, nas repartições públicas, nas empresas, no lar... E ainda não aceitam a discordância de quem não quer ser manipulado, injustiçado. O que é pior ainda é que os opressores nas suas tendências maquiavélicas e intolerantes contam com alguns dos próprios parceiros dos oprimidos nas suas medidas de retaliações contra os que não se alinham às suas ações impróprias e arbitrárias.

O discurso da brancura é uma forma de esconder os problemas étnicos -raciais, para que eles não venham à tona como uma problematização que possa repercutir no que entendemos como diversidade cultural e identidades múltiplas na formação étnica nacional. As pessoas são levadas a mascarar uma idéia de "branqueamento" para tentar com isso evitar a exclusão. Afirma Rosemere.

Exclusão essa que vem cristalizando a nossa rejeição étnica e fortalecendo o nosso recalque. Isso evidencia a reação de distanciamento que a comunidade tem em relação a produção textual dos autores negros, pois a manifestação vem atendendo a pouca importância e a nenhuma divulgação do produto final por parte dos grupos da elite intelectualizada e a pouca manifestação da imprensa que silencia antes a manifestação autoral do intelectual negro, principalmente se ele não faz parte de núcleos dos espaços de poderes.

Ser intelectual e abraçar a literatura em Sergipe é espaços para brancos, ricos e bem colocados nos espaços de poderes. Exemplifica-se o lançamento de titulo de uma autoridade bem situada, já demonstra o sucesso do evento, não só pela imprensa, mas sobretudo dos que buscam no evento, assinalar sua intimidade com a autoridade.
Os autores vizibilizados em Sergipe, são os juristas, médicos, políticos, advogados, secretários, desembargadores, promotores etc. todos eles financiados pelo poder público.

É notório o referencial dos autores sergipanos quando verificamos as suas biografias, são de famílias tradicionais, autoridades do Estado e de governos e com carreiras bem sucedidas com grandes citações e referencias socioeconômica invejáveis no momento da ação. Quando não estão em evidencia, ninguém vai aos lançamentos e a imprensa por sua vez, também silencia. O Status é o poder. Estar no Poder significa a emoção e aplausos do sucesso editorial, mesmo que depois dos brindes fique encalhado e não seja lido.Nesse universo, o negro não é privilegiado, é o melindre do “Juca Mulato”.

As bibliotecas escolares e as públicas, não estimulam a leitura e as escolas não conhecem os autores ou títulos, desconhecendo portanto a literatura sergipana e a produção textual seja histórica ou contemporânea, por falta de uma pedagogia especifica que contemple a leitura e a difusão no cotidiano da educação do ensino e da aprendizagem.

Temos histórias e tradições, mas não nos deixam escrever, se textualizamos não temos como publicá-la e a nossa narrativa se perde na voragem do tempo ou se atrofia nas reinterpretações acadêmicas dos escritores eruditos, distorcendo a nosso pensamento,floreando nosso discurso com jargões sofisticados com teorias e métodos distantes de nossa filosofia culturalista e perspectivas antes o objeto do nosso olhar.

O pensar negro é identitário, o negro a pensar branco conflitua com a natureza de sua cultura, para entender o pensamento deste grupo, mas o branco a pensar negro, busca surpreender nossas ações para se apropriar das idéias e regular as repressões de modo a impedir avanços e cristalizar hiatos, fortalecendo barreiras de comunicações para cristalizar as desifualdades e a limpeza etnico cultural.

A leitura distorcida que faz do negro é estratégia de uma filosofia do recalque para violação de direitos e fortalecimento das desigualdades através de manipulações de interesses e exploração de um discurso colonialista, vazio de conteúdo e argumentos que sustentem suas teses e conceitos reducionistas acerca da ausência de potencialidade do negro ou de sua inapetência para o comando.

A literatura negra, textualizada pelo próprio negro, tem um que de gestual, um olhar diferente que nos leva a perspectiva desejada, sugerida pela leitura embutida nas expressões textualizadas, recheadas de símbolos e signos onde a continuidade histórica e tradicional identifica o seu conjunto organizado de idéias. Esta literatura está povoada de negros, agentes e senhores da narrativa, vivendo seus episódios e marcando a demarcação do espaço que lhes restringiu o sistema que combate. Cada negro, personagens vivenciadas pelo autor, são emissários de uma mensagem de alerta das questões reivindicatórias, um emissário da luta na narrativa das batalhas travadas na resistência.

O negro na literatura está representado pela sua pseudo mentalidade escrava, o objeto da história protagonizada pelo senhor, o Mané gostoso, satisfeito com a sua situação e sofrimentos, representado em Juca Mulato em seu imobilismo e subserviência ao senhor, ao destino e a casa grande.

A fase negra dos autores negros, engajados numa literatura branca, dita universal, é a mais brilhante e produtiva, demonstrando a leveza do seu pensamento e expressões vibrantes, denunciadoras das emoções que só o negro tem, eivada de pontuações histórico e culturais de seu tempo e espaço, dirigindo ao futuro como forma de desconstrução, num amplo debates das idéias, marca o retorno ao ventre de sua árvore cultural, e seu renascimento é festejado com grandes enunciados.

Exemplifica –se o manifesto do intelectual negro catarinense Cruz e Souza, no seu melhor período produtivo numa poemática afro negra brasileira, identitária e denunciadora do eu coletivo, num simbolismo de maior destaque, o negro Emparedado, aqui em Sergipe, destacamos historicamente o poeta de Escada, o nosso Tobias Barreto que buscou outras formas e pensamentos para expressar a sua ideologia recalcada e pouco se expressou enquanto negro, apesar de ter produzido, marcas profundas de expressão mediática de uma identidade negra diásporizada.

Ser negro, não é necessariamente ter a pele preta e os traços inegáveis da marca, mas sobretudo ter atitudes e essa atitude é encontrada em diversos indivíduos brancos, que se debruçam na expressão negra, não do negro, e absorve a forma e pensamento negra, na produção de manifestos pontuais, numa apreensão de valores natos, vivenciados na tradição, numa simbólica troca de cabeça a transculturação.

A realidade da produção do negro dentro de uma expressão negra, se encontra arquivada, em memorial manuscrito sem nenhuma possibilidade de difusão por conta da intolerância institucional que o mantém silenciado e distanciado das possibilidades de se tornar um escritor editado. Diversos cadernos de anotações de intelectuais negros foram destruídos ou desaparecidos ou simplesmente desapareceram com eles, como no caso dos originais, boneca e cópias do trabalho do Babalorixá Zé de Abakossô (O mais importante de Sergipe), que ingenuamente passou para Edvaldo Nogueira,(Prefeito de Aracaju, a época, Secretário de Governo) que se dispôs a editá-lo e sumiu com o documento, ainda com vida o Babalorixá, vítima de Isquemia. Sua morte representou um insuperável perda para a História da Religião Orixá de Sergipe, acentuado pelo criminoso extravio do seu legado, representado pelo memorial documental que produziu.

Esse trabalho traduzia a história contemporânea do Candomblé de Sergipe, na ótica de um respeitado Babalorixá, com mais’ experiência dentre os demais. História do de dentro para o do de fora, produzida pelo agente e senhor da história, sem o modismo do linguajar e técnica acadêmica. É assim que somos tratados pelos agentes dos espaços de poder. A mesma ação foi sofrida por mim, quando repassei a Carlos Trindade, a época um dos diretores da SEPIR, a tal secretaria nacional de políticas da igualdade racial, o CD do livro teste Metodologia da Educação Inclusiva, com mais de 600 páginas tratando da Cultura Negra Sergipana com mais de 10 mil testes, foi sumido.

O Negro no poder se torna muitas das vezes em inimigo dos próprios negros. Com a palavra Edivaldo Nogueira e Carlos Trindade.Como reaver estes documentos.
O Arquivo Humano afro negro sergipano (observe que não uso a expressão afro descendente, pois entendo que afro descendente somos todos: negros, brancos e amarelos, uma vês que a humanidade nasceu na África, portanto afros descendentes), está vilipendiado pelo próprio silenciamento do coletivo negro que está voltado só para os elementos fundamentados pelos brancos, pelo Estado, pelo poder dominador, o negro se omite de sua maior reserva de valores constituídos para referendar os valores da Casa Grande e a isso se aplica o desinteresse pelo conteúdo e produção negra. Só se interessando em acompanhar as palavras de ordens dos partidos e do governo e suas instituições e órgãos fascistas.

O Estado impõe sobre a nossa cultura, excluindo a nossa identidade e rejeitando nossas tradições, querendo impor suas próprias definições de si mesmo e dos outros, numa relação de poder e dominação, esquece que não se pode pensar em identidade sem falar em interação, identidade e alteridade estão ligadas em uma relação dialética. Evidente que o manifesto de nossa literatura deve ser interpretada nos termos de nossa própria cultura, valores e emoções, pois a nossa verdade esta dentro dos nossos valores culturais, não pode ser julgada fora dele, nisso verifica-se que não há uma verdade absoluta. Cada verdade obedece as tradições dos seus valores culturais. Não podemos ser julgados por critérios, conceitos e filosofias ou tradições contrárias as nossas.

Segundo Ana Canen (2007). “o multiculturalismo critico focaliza não só a diversidade cultural e identitária, mas também os processos discursivos pelos quais as identidades são formadas”, ou seja, essa visão de multiculturalismo está interessada em analisar os discursos que conformam as identidades e as diferenças e não só na constatação da pluralidade de identidades e das relações de poder existente nelas.
Onde estão os escritos de Pedro Geraldo, João Sapateiro, Filhos de Obá, este último levado para a universidade federal de Sergipe, neab, para recuperação e até hoje não disponibilizado.

Esse é o quadro da realidade do negro em geral em Sergipe e em particular o intelectual. O mesmo não ocorre com os ditos da elite, pois o próprio governo além de financiar a revitalização de sua obra e recuperação dos seus manuscritos, elabora uma Ode á sua memória, assinalando interesse público do seu memorial. Isso ocorre em todos os poderes do Estado, com mais evidencia no judiciário onde a presença de Medina se fortalece nesse setor.

Os setores culturais do governador, consolidam as ações negativas em torno do negro, principalmente do seu conjunto patrimonial, tanto material quanto espiritual e para os quais não existe uma literatura negra e seus conteúdos textuais produzidos sem a chancela da academia, baseado na cultura de tradição oral, sem os manejos da metodologia cientifica, não tem serventia e portanto não merecem citações. Nenhuma obra de negros foi referendada por estes órgãos, tenham as denominações que tiverem.
A comunidade sergipana não conhece os autores negros contemporâneos e suas produções permanecem arquivadas e conhecidas apenas por um pequeno grupo de amigos.

Autores como Djenal Nobre, Real, a produção da coletânea estudantil de Douglas, a produção do Pe. Izaias, Zeca do Nagô, cujos originais se encontram com Magno do São Braz, dentre outros, importantes retalhos da história do negro sergipano, assinalando episódios e manifestos da resistência cultural com enfoques nas lutas sociais. Esse recorte de problematização da consciência negra, não interessa ao nosso Estado, que tem a visão distorcida, diferente das práticas de outros Estados da federação onde esse referendo é cotejado. Exemplifica-se a Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Maranhão,Alagoas, Santa Catarina etc.

É emblemática a literatura negra de negros contemporâneos sergipano, como também seu enfoque de leitura coloquial e contestadora, animada de expressões residuais, que nos remete a uma ação revitalizadora com indagações pertinentes a dinâmica de uma sociedade que se fecha sobre si como uma ostra de cimento e cal, concretada em seu refúgio conservadorista, incapaz de uma relação mais consistente. Essa literatura dita panfletária é o canto sistêmico de uma geração que procura saber de onde veio onde esta e para onde vai é a imagem mitificadora de simbologias e rituais mágicos nos enfrentamentos diários.

A Diversidade estar a impor respeito e se impõem nesta reversão da ação globalizada, denunciando os indicadores da intolerância e do desrespeito em constante violação. O Negro na diáspora em suas lutas recorrente, aponta constantemente os parâmetros do seu universo cultural e na pontualidade de suas manifestações coletivas e individualizadas num amplo quadro personalizado em suas áreas territoriais e espaciais e luta por Respeito à Diversidade.

Do ponto de vista da Unidade na Diversidade, é importante delinear o percurso responsável pela fundamentação desta tradição racista que ainda institui posições conservadoras que fazem do passado , referencia para atitudes posteriores, sem contudo respeitar os traços dinâmicos que a tradição apresenta quando as perspectivas de negá-la ou reinterpretá-la a situam como fonte de mudanças que apontam em direção futura.

Esse arrobo identitário busca desconstruir o hiato e sair do calabouço com gritos movimentados. É essa literatura que o Estado não quer editar, não quer difundir e impede seus movimentos através do controle social que exerça sobre o coletivo, impondo suas imposições através de descaracterizações e ações paternalistas através de manifestos assistencialistas, nos mantendo dependentes e fragilizados através da cristalização da ação separatista.

A dinâmica da repressão, assinala signos terríveis de intolerância lingüística e de lutas sociais onde o negro militante se depara com barreiras racistas, tipificado com adjetivos reducionistas para desqualificar suas ações e dentre esses adjetivos, assinalamos os que ainda hoje nos atribui desde o inicio de nossa caminhada (68) em luta na resistência negra de Sergipe: Subversivo; comunistas; macumbeiro; terrorista, traficante; interesseiro; ladrão; trambiqueiro ; artista; pederasta; papa anjo; negrinhagem; macaco; fazedor de casos; agitador; guerrilheiro; macacada; golpista ; pelego; manhoso. As tipificações são indicadores não só da intolerância, mas sobretudo da vulnerabilidade e insegurança a que somos submetidos diuturnamente nas lutas em Sergipe mostrando o quanto é perigoso o negro, pensar, vestir, falar, escrever e sobretudo agir como negro. Ser negro em Sergipe é extremamente perigoso, assumir-se negro: um suicídio.

Neste sentido, somos vilipendiados e violentados física, moral e psicologicamente, no exercício democrático de cidadania, ainda que tardia em luta por igualdades de oportunidades. Aqui, dificilmente tenho espaços nos coletivos, a não ser que haja cadeira vazia, no mas, como idoso e com dificuldades de mobilização, viajo em pé, pois os bancos estão sempre, ocupados por adolescentes, adultos, crianças, familiares e amigos dos cobradores e motoristas que se fazem de mortos para não garantir o meu direito e dos demais idosos, de ocupar nossos espaços assinalados nas cadeiras dos ônibus.

Essa discriminação em Sergipe é cultural e religiosa, geralmente há as expressões de “parece o cão’ ‘ Jesus te ama’ ‘ sangue de cristo tem poder’, são as expressões dos evangélicos que praticam seus crimes diuturnamente em nome de Jesus, ações essas cristalizadas pelas empresas de ônibus coletivos, cujas expressões bíblicas gravadas nos recintos dos ônibus, remetem a prática da intolerância religiosa e suas filmadoras internas não registram estes atos criminosos e conta com o silencio da secretaria municipal de transporte Coletivo, cujo interesse é simplesmente econômico e político, principalmente nas igrejas evangélicas o maior curral eleitoral sem se preocupar com social, finge que não vê os crimes ali e por eles praticados.

Uma ocasião um motorista de certa empresa, parou o ônibus para mim exorcizar porque só Jesus salva e eu do Candomblé, era o Cão, estava tocado pelo maligno, como um fanático citou erradamente o Apocalipse e causou constrangimentos a todos pelo seu grau de intolerância e fanatismo. A empresa tomou conhecimento da denuncia e nada fez.

O Cisma recrudesceu as Cruzadas e revitalizou a Inquisição, agora tendo os evangélicos, partidos e governo como aliados transformando o Estado democrático em Teocracia, confirmando que nunca foi laico.

É neste ambiente que o negro ativista vive em um Estado Negro, sem cultura negra e que tem vergonha de ser negro. Somos 86% da população absoluta sem nenhuma política pública e sem direitos a reivindicar pois o executivo é absolutista e nos impede de usar os espaços ditos democráticos da mídia que ele controla com tenacidade, violando nossos direitos legítimos e consagrados nas Declarações Universais dos Direitos Humanos.

Se não temos direito de nos expressar na mídia, como vamos ter direitos de produzir nossos textos e ser editados em igualdade de condições que o governo consagra a elite conservadora do seu mandarinato. O tempo de Orlando Dantas passou, a Gazeta já era, foi lá que Jackson da Silva Lima, intelectual de primeira linha, o negro de maior destaque nas letras sergipanas, assinalou os meus escritos in Novas Achegas do Folclore Sergipano. Augusto Franco também, e só deixaram herdeiros, não deixaram sucessores, Com eles, os movimentos sociais tinham espaços em suas agendas, independente da cor partidária, credo raça ou ideologia.

Referencia:
CANEN. Ana. O multiculturalismo e seus dilemas: implicações na educação. In;Revista comunicação e política, 2007, V.25,n 2. P.91-107
MAGALHÂES. Alberto F. www.textos-livres.blogspot.com
SILVA.Rosemere Ferreira da - Severo D’Acelino e a produção textual afro brasileira
In:Revista África e Africanidades - Ano I - n. 1 – Maio. 2008 -













Nota:
Em outros tempos, meus títulos publicados, receberam as chancelas de personalidades sergipanas que, antes nossas ações pioneiras, promoveram suas edições, através de seus instrumentos operacionais.
- O Negro Sergipano na Conjuntura Nacional / Ivan Valença , em sua gráfica.
–Racismo na Escola e Educação de Sergipe / Luiz Antonio Barrêto; SEED
-Antonio Pereira Rebouças e a Resistencia Negra em Sergipe – (Pedrinho Santos) idem
- Panafrica África Iya N’la / Jorge Araujo; Casa Civil
- Caderno Cultural – O Negro –Thetis Nunes / Assembléia Legislativa de Sergipe
- Caderno Cultura – O Índio – Beatriz Gois Dantas / idem.
Hoje, com um volume de Titulos, espero novos olhares para editar-los afim de poder disponibilizar a comunidade estudantil, negra e geral.
-Cadernos Etnico-Histórico e Culturais
-Metodologia da Educação Inclusiva
-João Mulungu Herói da Resistência
-Bokê Bokê – Contos Afro Sergipano
-Visões do Olhar em Transe (Poesias transculturais do negro sergipano)
- Quelóide (Poemas contemporâneos de identidades)
-Desenvolvimento e Prática do Movimento Negro Sergipano
- Gritos Silenciados ( Poemas de amor e raça)
- Desenvolvimento e Prática do Ogan em Sergipe
- Severo ReConta Orixás ( Contos Nagô)
- TragetóriaS (Textos & Entrevistas da Resistência)
- Influência do Negro na Cultura Sergipana.

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